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Através de projeto do MEC, professor refugiado desenvolverá atividades de pesquisa na Unisc


Publicado 25/06/2023 08:00

Geral   DIA DO IMIGRANTE

A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) foi selecionada para integrar o Programa de Solidariedade Acadêmica, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A atividade será realizada através do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR).

A professora e doutora Grazielle Betina Brandt, que atua em projetos de extensão e pesquisa sobre o tema de imigração e refúgio, explica que o programa tem como objetivo apoiar projetos voltados a propiciar acolhimento de docentes e pesquisadores refugiados, que tenham interesse em atuar no Sistema Nacional de Pós-Graduação como Professor Visitante no Brasil. 

Durante o mês de maio, ela e o professor Bruno Mendelski, que também integra o projeto, estiveram em Brasília a convite do Ministério da Educação (MEC) para o lançamento do Marco Zero do Projeto de Solidariedade Acadêmica. “Entre todas a universidades participantes, a Unisc foi convidada para relatara gestão inicial do projeto”, explica.   

Conforme Grazielle, o PPGDR recebeu mais de 300 e-mails, enviados de diversos países por candidatos interessados em ocupar a vaga de professor visitante refugiado no programa de pós-graduação da Unisc. Ainda, ela destaca que ao todo foram recebidos 247 currículos de 32 países. "Ao final do processo, 12 entrevistas foram realizadas de forma remota e um candidato foi selecionado. Após o lançamento do marco zero do projeto, enviamos mais de 87 currículos para outras cinco universidades participantes do programa de solidariedade acadêmica.”

O candidato selecionado foi o cubano, Maikel Pons Giralt. Ele ocupará a vaga de professor visitante refugiado na instituição e deve chegar ainda no mês de julho para iniciar suas atividades de pesquisa na Unisc, trabalhando com temas que envolvem olhares da educação antirracista e de relações étnico-raciais na América Latina.

Sonhos e pesquisas entrelaçados

Em entrevista ao Portal Arauto, Maikel Pons Giralt contou que em 2007 se qualificou como professor universitário e, desde então, trabalha na área em Cuba. Entre sua atuação em diversas universidades e educandários do país, o professor deu início, em 2011, a pesquisas sobre a história e a educação dos negros em Cuba e de forma geral sobre as relações raciais no contexto contemporâneo.

Giralt chegou ao Brasil em fevereiro de 2017 inicialmente para fazer seu doutorado. Apesar das dificuldades financeiras, em relação a questões educacionais e, ainda, do idioma, ele salienta que tudo foi vencido com o apoio de pessoas queridas, que lhe apoiaram desde o início de sua trajetória no novo país. "Entre 2017 e 2021, procurei fazer meu doutorado no Brasil e ao mesmo tempo manter minha relação de professor em Cuba, para isso tinha que voltar a Cuba a cada 11 meses, conforme certas normas institucionais."

Em relação ao Programa de Solidariedade Acadêmica, o professor destaca que em março deste ano recebeu por vários locais a convocação feita pela Unisc, onde a instituição solicitava inscrições para a oportunidade de professor visitante. "Foi assim que me apresentei por e-mail para eles e enviei meu currículo; dias depois recebi com alegria uma mensagem onde me convocavam para uma entrevista. Por fim, conheci em entrevista virtual o professor Bruno e a professora Grazielle, foi uma troca afável, calma, respeitosa, solidária e muito afetiva, que me motivou muito.  Saber que mais de 200 pessoas compareceram e eu fui o professor selecionado é uma alegria e um comprometimento imenso", afirma.

Além da oportunidade de pesquisa e de desenvolver temas relacionados a imigração e refúgio, Giralt compartilha a possibilidade de conseguir, desta forma, trazer a mãe e a filha para residirem com ele no Brasil. "O Brasil é um país que em geral possui leis imigratórias acolhedoras com os migrantes, acompanhadas também da cultura de um povo essencialmente hospitaleiro. Da mesma forma, não estamos ausentes das realidades do Brasil profundo, onde há desigualdades vergonhosas baseadas em indicadores de raça, etnia, renda e onde migrantes negros e indígenas podem estar em situação de maior vulnerabilidade", frisa.

Segundo o professor, Santa Cruz do Sul já faz parte de sua vida e, também, de seu futuro. "Esta oportunidade é uma realização do mundo que globaliza a fé na solidariedade humana, que substitui balas e mísseis por uma explosão de afeto intercultural que nos une nas diferenças, nos permite ser humano, proporcionar e receber o melhor dos outros". 


Foto: Reprodução/Transmissão Capes
Professores da Unisc, Bruno Mendelski e Grazielle Brandt, e professor refugiado Maikel Pons Giralt
Professores da Unisc, Bruno Mendelski e Grazielle Brandt, e professor refugiado Maikel Pons Giralt