compartilhe >>

Passo a passo. Como a Polícia de Santa Cruz descobriu plano para resgatar líder da facção Os Manos


Publicado 19/02/2021 19:00

Polícia   QUEBRA-CABEÇA

Julho de 2017. Uma ação em Vila Palanque, interior de Venâncio Aires, dava início a descoberta de um plano que poderia ter sido um dos mais bem sucedidos da facção criminosa que domina o tráfico de drogas no Rio Grande do Sul. Poderia. Mas não foi. Começou naquela madrugada de inverno uma árdua investigação, com uma série de desdobramentos, que acabou sendo concluída nesta sexta-feira (19), mais de três anos e meio depois.

A peça que faltava era camisetas falsificadas da Polícia Federal. A existência delas já era de conhecimento da Polícia Civil de Santa Cruz, mas onde estavam era o mistério. E durante cumprimento de mandado judicial nesta sexta, os agentes encontraram as 15 camisetas e uma farta quantia de cocaína pura e munição enterrados em tonéis em meio a uma área de mata, no bairro Santuário, em Santa Cruz. "Já era de nosso conhecimento que a facção guardava drogas nesse local. Em 2019 inclusive prendemos um indivíduo, mas que foi solto porque o advogado identificou que os entorpecentes estavam fora do limite do terreno dele. Desde então seguimos monitorando aquela região e hoje, em um local na mesma área, quase à margem do Rio Pardinho, logramos êxito em encontrar e concluir a investigação", destaca o delegado Luciano Menezes, que coordenou os trabalhos.

Investigação essa que conseguiu identificar o plano de resgate que visava tirar da cadeia o líder da facção Os Manos. Ele ainda estava preso no Presídio de Charqueadas quando tudo foi montado. "Hoje fechamos uma investigação que começou em 2017 e que avançou muito quando conseguimos apreender o telefone de um apenado e lá encontramos todo o plano de resgate detalhado. Pretendiam resgatá-lo quando ele deixasse o presídio para ser ouvido em audiência. Era um plano detalhado. Iam segurar barreira na rodovia, se disfarçando de Polícia Federal, com as caminhonetes e as roupas falsificadas. Seriam quinze criminosos envolvidos e tinham até o cuidado, em determinada parte do plano diz isso, para que os agentes da Susepe não fossem agredidos na emboscada. Que era pra pegar o preso, trancar os agentes dentro da viatura deles e fugir", explica o delegado.

Ainda de acordo com Menezes, o desmonte do plano começou quando em Vila Palanque, a Polícia Civil apreendeu seis caminhonetes que estavam sendo adesivadas com os distintivos falsos da Polícia Federal. Restava a partir daí montar o quebra-cabeça com tudo que seria usado no plano. Entenda abaixo:

Julho de 2017

O crime de assalto a um estabelecimento comercial levou a Polícia Civil e a Brigada Militar a descobrirem uma segunda ação de proporção ainda maior. Durante a ocorrência de assalto a um restaurante, na RSC-453, na noite de quinta-feira, 13 de julho, os policiais civis e militares identificaram em uma propriedade, ainda na localidade de Vila Palanque, um esconderijo de caminhonetes roubadas. O caso ocorreu durante as buscas a um dos indivíduos que conseguiu fugir após confronto com a polícia. Seis caminhonetes que estavam sendo adesivadas com os distintivos falsos da Polícia Federal foram apreendidas (uma S10, uma Amarok e quatro Triton) e uma arma de uso restrito das forças armadas. Cinco dos veículos foram furtados na região metropolitana e um em Vale Verde. Relembre

Outubro de 2017

A Polícia Civil apreendeu, na manhã de uma sexta-feira, 27 de outubro, em Santa Cruz, 15 fuzis, 21 pistolas e diversas munições 762 e 556. As armas estavam em uma residência da Rua Samuel Pinto Cortês, no Bairro Avenida. Além disso, dois fuzis desmontados também foram encontrados. No total, foram R$ 3 milhões em apreensão. Um jovem foi preso na ocasião por armazenar o armamento. Relembre

Fevereiro de 2020

Era passado de 7 horas da manhã quando a movimentação de viaturas da Polícia Civil chamou a atenção de moradores do bairro Senai. E o motivo chamaria mais ainda. Em cumprimento de mandado, agentes da  Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) com apoio da 2ª DP, procuravam por materiais utilizados por forças de segurança e que estariam na mão de criminosos de uma facção que domina o tráfico de drogas no Rio Grande do Sul. O resultado confirmou o que a investigação apontava. Entre os itens encontrados em uma residência de classe média próxima ao Centro de Santa Cruz, coletes balísticos, giroflex, rádio comunicadores, bloqueadores de sinais, toucas ninjas e roupas táticas para, no mínimo, 15 pessoas. Tudo novo, com poucos sinais de já terem sido usados. Todo esse material estava dividido em diferentes peças da residência. O responsável pelo armazenamento: um jovem de 22 anos, insuspeito e sem antecedentes policiais. Relembre

Fevereiro de 2021

Um ano depois a polícia encontrou a peça que faltava para fechar a investigação. As 15 camisetas falsificadas da Polícia Federal que seriam usadas no resgate, junto com as caminhonetes falsificadas, o pesado armamento, além coletes balísticos, giroflex, rádio comunicadores, bloqueadores de sinais, toucas ninjas e roupas táticas, apreendidos anteriomente. Durante a operação denominada Conde Drácula, realizada pela Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas (Draco) no Bairro Santuário, os policiais localizaram as roupas escondidas em dois tonéis em meio a um matagal. Relembre


Foto: Guilherme Bica/Portal Arauto
Camisetas falsificadas foram apreendidas na Operação Conde Dracula
Camisetas falsificadas foram apreendidas na Operação Conde Dracula