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Da descoberta ao convívio: histórias de cura e recomeço


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 05/02/2021 19:00

Geral   NA LUTA CONTRA O CÂNCER

Camila Maiara Siznandes já brilhou nas passarelas de Vera Cruz. Foi soberana do município. Título conquistado em 2012. Quando princesa desfilava com a coroa e o vestido tão cobiçados por meninas que almejam o reinado. Têm histórias da época. A propósito, de lá para cá, muitas. 

E como toda princesa tem o seu conto, para Camila, de 28 anos, não é diferente. Um deles teve início no ano passado. Entre fevereiro e março. Posterior a uma consulta de rotina com a ginecologista. Por meses, a advogada apresentava um sintoma corriqueiro que a fez cumprir alguns exames. 

Praticante de exercícios físicos e com uma alimentação consideravelmente saudável, Camila conta que acreditava em um diagnóstico clínico simples. Sem grande intervenção. E após tanta espera, eis que recebe, como ela mesma assinala, a mais angustiante notícia de toda a sua vida: você está com câncer de colo de útero. A data ficou marcada. Foi no dia 19 de outubro de 2020. 

Na hora lhe caiu um fardo sobre os ombros. Muitas perguntas. Dúvidas. E ao lado da mãe, Mariane, tentava compreender a descoberta dramática. Uma vez que não havia nenhum histórico na família. “Jamais pensei que se tratava de câncer. Nunca imaginei que passaria por isso. Aquela consulta mudou a minha vida”, diz Camila.

Ao longo do dia 19, Camila não deixou a peteca cair com o diagnóstico. “Chorei, claro, mas tentei seguir a rotina. E, no mesmo dia, procurei algumas mulheres que já haviam passado por isso para aprender um pouco mais sobre a doença”, conta. Camila recebeu a visita delas e, ali, em uma conversa planejada de última hora, apoderou-se de várias informações. Isso porque é difícil alguém pesquisar sobre a doença, até que ela aparece. 

No processo, desde a descoberta até a convivência com a doença, a advogada ressalta ter se apegado a coisas que, para muitos, podem ser cotidianas. “Passei a ser uma pessoa mais leve, a viver com mais intensidade e a agradecer todos os dias pela minha vida”, ressalta. 

Quatro dias depois do diagnóstico, a consulta com o oncologista. E, quase dois meses após, no dia 17 de dezembro, a tão esperada cirurgia. A data caiu como uma luva: uma semana antes do aniversário. Um recomeço. “Fiquei dois dias no hospital. Tanto a minha família quanto os profissionais que me atenderam sempre transmitiram muita esperança e fé”, salienta. 

E por falar em família, Camila destaca a importância do apoio ao enfrentar uma doença. “Eu fiquei somente dois dias no hospital. Mas tinham pessoas para uma semana para ficar comigo, se fosse preciso. Eles seguraram a minha mão e enfrentamos todos juntos”, diz, que frisa ainda que os familiares são a força e o combustível para continuar a viver.

No dia 6 de janeiro deste ano, mais uma notícia. Desta vez, que ela tinha vencido tal batalha. “Não precisei fazer quimioterapia nem radioterapia. A cirurgia foi um sucesso. Da mesma forma que a doença veio, ela também se foi, rápido”, salienta. 

Sempre dizem, para tudo, há aprendizados. Sejam bons ou ruins, são os ensinamentos que prevalecem. “Existe uma Camila antes do câncer e uma depois. Eu gosto mais da Camila de agora. Hoje, sou uma mulher mais forte, mais cheia de vida, alegre e ainda com mais vontade de viver”, reforça.

E para os próximos contos, já há enredos. “Estou fazendo vários planos para este e para os próximos anos, quero colocá-los todos em prática. Fazer curso de inglês, conhecer lugares e ser mãe. E eu vou realizá-los”, frisa. Ou seja, as histórias da princesa Camila estão longe de um ponto final. 

“Nunca desacreditei. Sabia que iria vencer”

O ano de 2012 deve ter ficado marcado para muitos. Para uns, foi a realização dos Jogos Olímpicos – quando pela primeira vez, mulheres integravam todas as delegações. Para outros, o que aconteceria no dia 21 de dezembro – data em que os maias previram o fim do mundo.

Deveras, 2012 despertou acontecimentos. E é o que o diga a vera-cruzense Liane Rech Frantz, de 59 anos. Para ela, o ano também foi memorável. Liane trabalhava em uma loja em Vera Cruz. E foi no seu local de trabalho que desencadearem alguns sintomas como fraqueza e tontura. Às vésperas de 2013, mais manifestações. Perda de peso e apetite. Liane foi parar no plantão do Hospital Ana Nery. 

Inúmeros exames estavam por vir. E depois de dias nesse vai e vem, de investigação e pesquisa de um diagnóstico, a surpresa: mieloma múltiplo. Tratava-se de um câncer das células plasmáticas da medula óssea. Foram numerosas sessões de quimioterapia. Muitas bolsas de sangue. “Foram dias muito difíceis. Foi um diagnóstico triste de receber”, enfatiza. 

A irmã Liria era a sua companhia na nova rotina de consultas e tratamentos. “Ela esteve sempre ao meu lado e era responsável por manter a minha família, marido, filho e pais informados do meu caso”, destaca. 
Foram dois anos de quimioterapia. Dois anos de náuseas, fraquezas e muita dor. “A doença e, consequentemente, o tratamento, causavam muito desconforto. Sofri bastante”, relembra.

Até o transplante de medula óssea, essa foi a realidade de Liane. E com a realização da cirurgia, que foi um sucesso, veio o alívio. “Hoje, graças a Deus, estou muito bem”, salienta Liane, que acredita que a fé em Nossa Senhora também a salvou. 

Nesta semana, mais um exame para a conta. E, apesar da angústia que os minutos antes de receber a notícia do laudo médico, provocam, mais uma vez – como tantas outras nos últimos anos –, o diagnóstico da cura. “É preciso acreditar que tudo vai dar certo. Foi o que eu fiz. Nunca desacreditei. Sabia que iria vencer”, ressalta, emocionada. 

 

“Quanto mais cedo o diagnóstico, mais  chances do tratamento dar certo”

Conforme a coordenadora do setor de captação de recursos do Hospital Ana Nery, Simoni Gollmann, os números relativos ao Centro de Oncologia no ano de 2020 dependem do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o fechamento. No entanto, em relação a 2019, foram realizados mais de 15,5 mil tratamentos de quimioterapia, 1,6 mil tratamentos de radioterapia e mais de 8 mil procedimentos no Centro Cirúrgico, dentre eles, os tratamentos oncológicos.

Em alguns serviços, como a quimioterapia, mais de 96% são atendimentos SUS. O Hospital Ana Nery abrange 33 municípios do Vale do Rio Pardo, Centro-Serra e parte da Região Carbonífera, representando uma população de cerca de 710 mil pessoas. A oncologista Sheila Calleari Marquetto explica mais sobre a doença que assusta a muitos. Acompanhe abaixo.

O que pode causar o câncer? 
O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese e normalmente ocorre lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê origem a um tumor visível. A carcinogênese é um processo altamente complexo do qual participam fatores de risco herdados e fatores de risco ambientais.

O câncer em estágio inicial tem cura?
Como toda doença, alguns tipos de câncer têm cura e outros não. Depende essencialmente do tipo de tumor maligno e do estágio em que se encontra no diagnóstico. As possibilidades de cura estão diretamente relacionadas com tempo em que o tumor é detectado no paciente. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais chances do tratamento dar certo. 

Quais são os tratamento existentes contra a enfermidade?
Com a evolução da medicina, aumentou-se o leque de opções para o tratamento do câncer. E o mais importante: o tratamento é individualizado. Nenhum câncer é igual ao outro e precisamos definir com toda segurança de que tipo de câncer estamos falando para poder proporcionar as melhores chances de resposta com o tratamento. Entre as modalidades incluem-se: cirurgia, radioterapia, radio-cirurgia, quimioterapia, anticorpos monoclonais, imunoterapia, terapia alvo-molecular e hormonioterapia.

Quais são as orientações aos pacientes e familiares?
A população deve ficar atenta e fazer os exames preventivos conforme a idade. Entre os principais tumores para os quais existe protocolo de detecção precoce estão mama, colo de útero, próstata, cólon e pele. Se na sua família há dois ou mais familiares que tiveram câncer, pode haver uma herança genética. Essa população em especial, muitas vezes, precisa fazer exames preventivos mais precocemente.


Foto: Caroline Moreira/Jornal Arauto
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