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Sem chuva, cenários nos rios da região preocupa


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 09/01/2021 18:00

Geral   NÍVEL DOS RIOS

Achegada do verão é sempre acompanhada com preocupação por conta da diminuição no volume de água em rios, arroios e reservatórios que cortam as planícies dos nossos vales. A paisagem exibida pelos mananciais, muitas vezes propicia para visitantes o lazer, a pesca e a admiração das margens, que apresentam belezas naturais da nossa região. No entanto, é comum a ocorrência de períodos em que a admiração se transforma em incredulidade pela situação em que se encontram as diversas bacias hidrográficas que abastecem de água os municípios.

O cenário desfavorável, que ocorre principalmente pelas condições climáticas e fenômenos meteorológicos, como o La Ninã, também sofre as consequências de atividades que degradam o meio ambiente, como o descarte irregular de lixo nas margens de rios, a poluição pelos agrotóxicos utilizados em lavouras próximas às margens e o uso inconsciente da água por parte da população, ações que ajudam a entender como os ecossistemas aquáticos podem mudar tão rapidamente.

É necessário consciência e atenção de todos para garantir a preservação das bacias hidrográficas da nossa região, tão importantes para os municípios.

Rio Pardinho apresenta nível abaixo do ideal

A principal bacia hidrográfica de Santa Cruz do Sul, o Rio Pardinho, já apresenta sinais característicos de períodos de estiagem. Em seu percurso, alguns filetes de água já podem ser observados, revelando lixo e entulho que há alguns meses estavam completamente submersos. O rio é a principal fonte do Lago Dourado, que é responsável pelo abastecimento de 95% da população de Santa Cruz do Sul. 

Em medição realizada nesta semana, o rio apresentava 29 centímetros, e o nível normal seria de 90 centímetros. Conforme o coordenador da Defesa Civil de Santa Cruz do Sul, Anderson Matos Teixeira, são muitos os motivos que podem ocasionar a diminuição no volume hídrico do rio. “O mau uso dos recursos hídricos e o manejo irregular das bacias hidrográficas contribuem para o assoreamento do rio e a formação de bancos de areia e, consequentemente, ocasiona a diminuição do nível do rio”, ressalta o coordenador.  Outro ponto destacado por Teixeira é a presença de agrotóxicos na água, que infelizmente afeta a qualidade do rio, causando a formação de microrganismos na água e a degradação da mata ciliar nas margens da bacia  hidrográfica. O lixo acumulado e o uso irracional da água também são fatores que causam preocupação pois, segundo frisa Teixeira, causam impactos negativos em razão do “ mau uso do espaço natural”, revela o coordenador.

Conforme levantamento da Defesa Civil de Santa Cruz do Sul, no mês de dezembro houve um déficit hídrico na bacia do Rio Pardinho, o que pode explicar o baixo nível. “Estima-se 45mm para essa bacia nos últimos 30 dias. Isso representa 60% a menos do que o esperado”, ressalta o coordenador da Defesa Civil. 

Arroio Andréas se mantem estável

Em Vera Cruz, o Arroio Andréas, considerado o principal da bacia hídrica vera-cruzense, tem se mantido com o nível normal, com 1,65 metro na barragem de captação da Estação de Tratamento de Água (ETA). Isso se deve, principalmente, pelas diversas ações realizadas por parte do Projeto Protetor das Águas, que teve início em 2021 e atualmente conta com 63 produtores e 68 propriedades. Entre as medidas realizadas pelo projeto, o ex-coordenador da ETA e atual prefeito, Gilson Becker, destaca algumas que considerou essenciais para garantir o abastecimento do Município na última década, durante as estiagens. “Realizamos diversas ações para evitar o uso indevido de água. Ainda, trabalhamos na bacia do arroio Andréas orientando agricultores para garantir a preservação da mata ciliar na beira do rio e no entorno das nascentes”, ressalta. 

Importante por garantir o abastecimento de cerca de 70% da região urbana de Vera Cruz, o Arroio Andréas teve que se adaptar com o crescimento exponencial da cidade na última década. Dessa forma, Gilson revela que a capacidade de captação dobrou de 2012 para 2020. Contudo, com o trabalho realizado no arroio, o nível ainda se manteve semelhante ao de 2012. “Em 2012 eram captados em média 2.700 metros cúbicos de água por dia para tratamento na estação da ETA. Em 2020, o número dobrou para 5.400 em virtude do aumento da cidade.” 

Para manter esse bom nível e garantir a disponibilidade de água para a população, foi aprovado em junho de 2020 um projeto de lei que destinará recursos para investimentos no Projeto Protetor das Águas. “Aprovamos em junho de 2020 um projeto de lei em que 1% da arrecadação da água no Município será destinada para preservação dos recursos hídricos”, conta. Atualmente, já se tem uma lista de espera de agricultores que querem participar do projeto Protetor das Águas. A expectativa é de, neste ano, atingir 100 produtores cadastrados. 

Sobre os rios que abastecem o interior, Gilson revela que todos ainda sofrem com os impactos da seca, principalmente pela questão de os lençóis subterrâneos ainda não terem se recuperado da estiagem que castigou a região durante seis meses. Dessa forma, o Prefeito cita como necessário haver um maior controle no uso da água. “Temos municípios  vizinhos que estão com sérios problemas de abastecimento. Diante do verão que vamos enfrentar e da não recuperação dos lençóis freáticos e reservatórios durante os períodos de chuva, é  importante termos consciência no uso da água, para não passar por maiores dificuldades”, revela o ex-coordenador que agora é prefeito do Município.  

Rio Pardo e Jacuí também sofrem

Em Rio Pardo, a Defesa Civil do Município informou que o nível na Barragem/Eclusa do Anel de Dom Marco, local onde ocorre o entroncamento dos rios Jacuí e Pardo, está medindo 5,42 metros, sendo que o volume ideal é de 7 metros. Assim, o nível se apresenta em 1,58 metros abaixo do normal.  Conforme a Defesa Civil, no mês de dezembro houve um acumulado de chuvas no município de 77 mm. Já neste ano, ainda não houve registros de chuva. O município de Rio Pardo já apresenta características de estiagem.

Moradora do Porto Ferreira, Sílvia Mitereschi é responsável por informar o nível do Rio Jacuí para a Associação dos Moradores do Porto Ferreira. Segundo ela, o nível em dezembro melhorou e aumentou 1,50 metro. Mesmo assim, o sinal  de alerta deve ser ligado para que as pessoas se conscientizem. “Sempre é importante que a população se conscientize que a água é um de nossos maiores bens. Sem ela ou com a escassez, nossa vida ficará mais difícil”, revela a moradora.

 


Foto: Gabriel Fuelber/Jornal Arauto
Rio Pardinho já apresenta apenas filetes d’água em alguns pontos
Rio Pardinho já apresenta apenas filetes d’água em alguns pontos

Foto: Divulgação
Principal fonte de Vera Cruz continua com bom abastecimento
Principal fonte de Vera Cruz continua com bom abastecimento

Foto: Sílvia Mitereschi/Reprodução
Rio Jacuí já sente os efeitos da seca
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