Estão em desenvolvimento na região as lavouras tradicionais de soja, semeadas principalmente a partir de outubro do ano passado, além das cultivadas na resteva do tabaco, cujo plantio segue até este mês - já tendo alcançado no total os 90%. Como para as demais culturas, a principal vilã tem sido a falta de chuva, que tem impacto direto no estabelecimento e bom desenvolvimento das plantas. “Mesmo que não haja uma perda total das lavouras, a cada dia com déficit hídrico o potencial produtivo vai gradualmente reduzindo”, explica o extensionista rural Alberto Pinheiro, da Emater/RS-Ascar de Vera Cruz.
Além de atingidos pelos problemas de desenvolvimento inicial das plantas, alguns produtores do município tiveram de deixar de lado o plantio de parte da lavoura em dezembro devido ao clima seco. Em Vera Cruz, conforme a Emater/RS-Ascar, a estimativa de plantio para a safra 2020/2021 é de 700 hectares. “É provável que parte dessas lavouras de dezembro, aproximadamente 10 a 15% do total, sejam convertidas em lavouras de milho, visto que esse tem indicação de plantio até 20 de janeiro”, frisa Alberto.
Apesar do receio em função da seca, que levou, inclusive, muitos produtores vera-cruzenses a apostarem mais em seguros agrícolas, a soja ainda tem grande demanda no mercado, representando boa rentabilidade e levando a manutenção da área plantada nas propriedades, sem migração de atividade por parte dos agricultores. Entre eles, Flávio Overbeck, da localidade de Ferraz, interior do município.
O produtor afirma que apesar da falta de umidade para o plantio na safra passada, a colheita ficou dentro da expectativa, por isso, não diminuiu a área plantada desta vez - que corresponde a 20 hectares. “Preciso desta diversificação na propriedade, planto também arroz e tabaco, porque assim garanto rendimento em diferentes períodos do ano, entre eles da soja, que tem tido um bom preço de venda”, garante o produtor, que havia parado anos atrás com a produção, mas voltou justamente pelo bom retorno financeiro adquirido com o cultivo.
Flávio plantou a lavoura tradicional de soja em novembro e diz que os cultivos já vêm apresentando problemas pela falta de chuva. Porém, segundo ele, o que mais deve sofrer com a seca é o plantio da resteva. “Esse plantei há umas três semanas e não tivemos boas chuvas. As plantas estão com uns 20 centímetros e precisam de umidade para florescer. Já dá pra ver bem na lavoura que elas estão ficando murchas”, diz o agricultor vera-cruzense. Segundo ele, a antecipação do plantio não seria opção - buscando maior incidência de chuva -, pois o clima frio da época não iria favorecer as plantas.
A colheita da soja na região só ocorrerá daqui a alguns meses, mas a Emater/RS-Ascar de Vera Cruz, assim como os escritórios de Vale do Sol e Santa Cruz do Sul (na terra da Oktoberfest a área plantada chega a 3.300 hectares) já alertam que para comercializar a produção por valores mais atrativos os produtores vão precisar ficar atentos ao mercado, que sofre oscilações constantes de preço. “A soja é uma commoditie, é um produto global e tem variação de preços por vários fatores, como estoque internacional, clima, consumo, câmbio, entre outros. É difícil determinar o momento mais assertivo para vender o produto, tendo de ser avaliado pelos agricultores”, recomenda a Emater do Vale, onde a estimativa de área plantada de soja se manteve em cerca de 750 hectares.
Flavio, que comercializa a produção para a Cooperativa Coagrisol, confirma a importância deste processo. “Tiro como exemplo a comercialização da safra passada, quando vendi bem mais cedo, conseguindo por volta de R$ 92 a saca. Porém, se tivesse vendido mais tarde, poderia ter ganho R$ 165 por saca. Então, neste ano quero avaliar melhor o mercado”, afirma o agricultor, que também frisa que se a seca demandar falta de produto, os agricultores que mantiverem a produtividade poderão vender bem.