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Enquanto o Enem não chega, a luta continua


Fonte: Grupo Arauto
Publicado 22/05/2020 06:30
Atualizado 22/05/2020 12:02

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A bonita visão que Sabrina Andréia Niedermayer tem do ponto alto aonde vai para pegar sinal no celular, também revela a distância entre ela e milhares de outros candidatos do Enem, que podem pesquisar conteúdos do conforto de suas casas. Ali, em meio à natureza de Linha Vitorino Monteiro, interior de Santa Cruz, a jovem de 17 anos luta por seu aprendizado, mesmo com aulas suspensas e o Enem adiado. O seu principal concorrente, antes das provas, é a desigualdade. Afinal, ela sabe que 30 ou 60 dias a mais, ainda não reduzirão a diferença entre quem consegue ter informações a qualquer segundo e jovens como ela que, enquanto não retornar para sala de aula, irão depender dos arquivos que recebem pela internet. Isso se o sinal colaborar.

Para ajudar uns aos outros, ela e os colegas do Colégio Estadual Monte Alverne (Cema) criaram um grupo para compartilhar conteúdos e materiais de estudo. “Estudo pela internet, mas não tenho acesso em minha casa. Por isso, tenho que me deslocar para um ponto com sinal de celular e assim utilizar os dados móveis. Muitas vezes não tenho tempo durante a tarde ou manhã, devido a outros afazeres. Assim, muitas vezes, tenho que acessar a noite ou de meio-dia”, conta. No caso de vídeos, então, a história fica ainda mais complicada. “Assistir por meio da internet pelos dados móveis, torna mais complicado ainda o carregamento”, salienta. Essa e outras dificuldades a desafiam, mas não a impedem de seguir lutando pelo conhecimento. Entretanto, ela revela ainda não estar pronta. 

Nem ela e nem outros colegas que compartilham do mesmo pensamento. “Nos sentimos prejudicados. Antes mesmo da pandemia, os alunos da escola pública já podem ser considerados lesados, mesmo com os professores fazendo o possível em sala de aula”, diz. Com a chegada do coronavírus, mesmo em período de aulas online, tudo ficou mais difícil. “Nem todos possuem acesso ao material e compreendem da mesma forma que a aula presencial. No momento, eu não me sinto preparada. Ainda tenho que me dedicar e estudar muito para assim realizar meu sonho, assim como muitos querem realizar o seu. Para muitos, o Enem é uma oportunidade única de vida”, ressalta.

”Me sinto prejudicada”

No grupo online de Sabrina e também na roda de amizade está Evelin Samara Raupp Pereira, de 17 anos. Embora a jovem tenha acesso mais fácil ao sinal de internet, ela também sofre com os estudos por conta própria e com a saudade da sala de aula. “Como aluna de escola pública, me sinto um pouco prejudicada, uma vez que há obstáculos no acesso à internet e pela busca dos conteúdos que teríamos no decorrer do ano letivo”, ressalta.

Por isso, a notícia do adiamento do Enem a alegrou, embora acredite que ainda não será o suficiente para superar as diferenças que o coronavírus instaurou entre os alunos brasileiros. “Em meio à pandemia, milhões de estudantes que estudam em escolas públicas não possuem acesso à internet e não estão assistindo as aulas, o que torna as condições de preparo para o exame muito diferentes”, pontua. 
Segundo a estudante do Cema, cada inscrito para a próxima edição do Enem tem muita luta pela frente, batalhas que vão além do entendimento dos conteúdos. 

A jovem, moradora de Linha São Martinho, relata que está se preparando aos poucos. Um dos pontos que a acalma é o fato dela ter realizado o exame no ano passado, como forma de treino, para visualizar como se sairia. E foi bem, porém, a falta de aulas desse último ano de ensino médio a preocupa, mas também a faz perceber que é preciso, cada vez mais, encontrar outras formas de se preparar. “Tenho estudado com livros didáticos, grupos no Telegram, aplicativos com questões que já caíram no Enem, revisão de conteúdos e correção de redações”, fala.  

Adiando o sonho

Em meio às dificuldades de estudos em casa, Felipe Carvalho, 18 anos, teve de adiar o sonho de cursar Produção em Mídia Audiovisual em mais um ano. O aluno da Escola Vera Cruz conta que não se sente capacitado para prestar o Enem e, por isso, não vai fazer as provas neste ano. “Está sendo muito complicado estudar e não poder tirar dúvidas com os professores ou aprender bem os conteúdos. Espero que logo as aulas voltem ao normal, mas, mesmo assim, vou fazer o exame só no ano que vem”, explica o jovem, que lamenta a situação vivida também pelos colegas de classe e de todo o Brasil.