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Entre falsos leilões e nudes, golpes não param em Santa Cruz


Publicado 18/11/2019 06:20
Atualizado 18/11/2019 06:24

Polícia   ESTELIONATO

Pilhas e mais pilhas de papel acumulam-se mês a mês lotando armários e mesas da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Santa Cruz. Em meio a papelada, casos de furto, roubos e homicídios. Por se tratarem de crimes mais graves, detêm a prioridade, mas estão longe de ser a maioria. A maior parte da população que procura a 1ªDP vai para denunciar ter sido vítima de estelionato.

“Os golpes”, popularmente chamados, não param de fazer vítimas. Seja pelo lado emocional, amoroso, pela internet ou apelando pela sede do dinheiro fácil, são ao menos 15 tipos em que os criminosos agem em média 10 vezes ao mês. De quadrilhas diferentes, os tipos são os mais variados e se aperfeiçoam junto com a tecnologia, dificultando o trabalho da polícia.

Conforme a titular da 1ª DP, delegada Ana Luísa Aita Pipi, a maior parte dos golpes é aplicada por criminosos de outros estados e até mesmo de fora do país. “O estelionatário tem um perfil diferente do criminoso que furta e rouba, justamente por pensar muito para elaborar o golpe. Ele tem que ter uma boa conversa, boa aparência para chegar na vítima, uma conquista e isso requer um trabalho de inteligência”, explica. 

No caso de um empresário de 26 anos, que prefere se manter no anonimato, o estelionato foi consumado em uma prática que é cada vez mais comum e que utiliza da tecnologia e clonagem de dados do cartão de crédito. O prejuízo foi de R$ 16 mil e uma conta bancária zerada. O caso aconteceu quando ele estava em viagem de férias. “Fui fazer uma compra e me surpreendi com saldo insuficiente. Achei que tinha algo errado com a máquina, mas na verdade era a clonagem. Compraram geladeira, celular, televisão e só fui me dar conta quatro dias depois”, disse.

Quais cuidados tomar?

Conforme a delegada Ana, são vários os cuidados a serem tomados. Todos variam conforme o tipo de golpe. “Se é o Golpe do Bilhete, o alerta é nunca dar conversa para estranhos. Na internet evitar grandes compras e cuidar muito os sites. Sempre pesquisar antes. Outra dica é não entrar em conta bancária na internet, principalmente em computadores ou celulares que são usados por crianças. Às vezes, os filhos baixam filmes e jogos que podem conter vírus e esses vírus facilitam o trabalho dos hackers. Se tem um aplicativo de banco, usa aquele aparelho só para isso”, alerta.

AUTORIA

Por se tratarem de quadrilhas organizadas, a maioria de longe do estado, e que se protegem através da internet, o trabalho da polícia é dificultado. Mesmo assim, a equipe da 1ªDP já identificou a autoria de um novo golpe: o falso funcionário de banco. Há dois meses, um criminoso fez duas vitimas. Ele conversa com as vítimas e pede para digitarem um código na máquina que estaria com problema. Nesse tempo, enxerga a senha. De uma forma que elas não percebem, troca o cartão do banco por outro. Nos dois casos, mais de R$ 10 mil foram levados.

Porém, o fim pode estar próximo. A Polícia já identificou o autor. “Temos a descrição física e imagens. Já divulgamos por todo o estado e a polícia já tem um parâmetro da sua identificação”, frisa.

QUATRO DOS CRIMES

Desde janeiro, mais de uma centena de casos foram registrados em Santa Cruz. Tem os mais modernos, os que usam a tecnologia, os antigos e os mais audaciosos. Todos eles com suas peculiaridades. “O golpista costuma pegar o ponto fraco das pessoas, o dinheiro, o apego à família, relacionamento sexual e o amor”, comenta a delegada.

Golpe do Leilão

Os golpistas criam sites de leilões de carros, onde as vítimas precisam fazer cadastro e colocar dados pessoais. É mandado um e-mail para a vítima onde consta que ela está apta a dar um lance. Em um momento, a vítima acaba arrematando um lote de veículos por valores bem mais abaixo da tabela. “Esse é o perigo, porque é isso que atrai a vítima”, destaca a delegada. A vítima se interessa pelo valor, faz a transferência, só não se dá conta que na hora de transferir o valor vai para a conta de uma pessoa física e não da Receita Federal.

Valor roubado: R$ 40 mil em média
Perfil das vítimas: homens
Casos em Santa Cruz: três por mês
Como não cair: digitar no Google o nome do site e ver avaliações; cuidar se o site é realmente vinculado à Receita Federal ou Estadual.

Golpe do motoboy

Falsos funcionários do banco contatam com as vítimas e informam que o sistema detectou uma suposta compra com características fraudulentas em sua conta bancária. Os estelionatários passam credibilidade ao mencionar na ligação dados pessoais da vítima. Após, o golpista orienta a vítima a realizar uma ligação posterior na qual confirma a senha e bloqueia as supostas compras. Desta forma, todos os dados ficam expostos permitindo que os golpistas façam transações comerciais em seu nome. E os próprios golpistas realizam um “falso” cancelamento do cartão e alegando motivos de segurança” solicitam ao cliente que envie o cartão à agencia bancária, mantendo o chip junto. A vítima então coloca um cartão dentro de um envelope e um motoboy vai até a residência e pega o envelope.

Valor roubado: acima de R$ 10 mil 
Perfil das vítimas: idosos
Casos em Santa Cruz: uma vítima e um tentado
Como não cair: Manter a calma e ligar para o banco de outro telefone, conferindo a veracidade das informações. Nunca digitar senha em telefone fixo.

Mulher que manda nudes

Tudo começa quando uma mulher jovem chama um homem em um bate-papo nas redes sociais. A conversa, que muitas vezes inicia pelo Facebook, vai para o WhatsApp, onde fotos íntimas começam a ser enviadas pela suposta mulher. Do outro lado, a vítima acaba seduzida. Na sequência, a chantagem. Outro indivíduo entra na conversa e se diz policial civil, advogado, ou até mesmo conselheiro tutelar, entre outras profissões e começa a ameaçar o homem dizendo que ele está conversando com uma menor de idade e que está cometendo crime de pedofilia. Diante disso, o criminoso solicita uma quantia em dinheiro à vítima, pois, caso contrário, fará denúncias e denunciará o caso à sua família. “Ele diz que sabe quem é a vítima, onde mora e qual a família, e que se não pagar vai expor tudo.

Valor roubado: R$ 2 a 5 mil em média
Perfil das vítimas: homens
Casos em Santa Cruz: de um a dois casos por mês
Como não cair: Alerta para números de diversas regiões e fora do Estado. Cuidar com conversas na internet.

Clonagem de Whats

Golpistas enviam códigos para o celular via mensagem usando do momento em que o proprietário do aparelho realiza compras em sites. Assim que o código é discado, a vítima perde acesso ao aplicativo, que passa a ser controlado pelo criminoso, que entra em contato com amigos e familiares da vítima para pedir dinheiro alegando necessidade de tratamento médico ou veículo estragado.

Valor roubado: em média R$ 1 mil 
Perfil das vítimas: jovens
Casos em Santa Cruz: mais de 50 somente neste ano
Como não cair: é necessário ter a verificação em duas etapas do WhatsApp ativada e ficar atento ao receber e-mails de serviços que deixam dados de contato expostos publicamente. Para quem paga, o cuidado se deve em certificar que o amigo ou familiar realmente precisa do valor, fazendo uma ligação

GOLPES

Golpe do bilhete: Um golpista mais humilde aborda a vítima na rua e diz que tem um bilhete premiado, mas que tem medo de ser enganado na hora de resgatar o prêmio ou que não tem os documentos necessários para tal. Nesse momento, o segundo golpista, esse mais articulado, diz que havia prestado atenção na conversa e sugere à vítima que fique com o bilhete premiado para resgatar a fortuna, mas que ofereça ao comparsa algum bem ou valor em dinheiro, que sirva de garantia que ela, a vítima, não irá fugir com o bilhete e enganar o verdadeiro dono do prêmio. O golpe se concretiza no momento em que a vítima entrega o dinheiro ou o bem aos bandidos. Geralmente o valor perdido pelas vítimas varia de R$ 5 mil a R$ 20 mil. 

Golpe do bitcoin: São supostos fundos, clubes de investimento ou grupos de ajuda mútua. Todos prometem ganhos espetaculares para quem decide aderir à "proposta" de investimento. Na verdade, trata-se de uma nova roupagem para um velho golpe: a pirâmide financeira. 

Golpe do primo: Consiste em alguém ligar para casa ou o celular da vítima, fingindo-se ser um primo que há tempos não o vê. Ele alega estar trabalhando como motorista, ou algo do tipo, em um lugar muito longe do Nordeste e estar passando por uma emergência na estrada. Muitos terminam caindo porque imediatamente falam o nome de um primo. Já que ele pergunta se a vítima não está lembrando. Quem cai termina depositando dinheiro em uma conta (a de golpistas). Costumam ser perdidos R$ de R$ 1 mil a R$ 2 mil.

Golpe do falso sequestro: Os criminosos ligam para a vítima contando que um familiar dela foi sequestrado e que, se não for depositada uma quantia (normalmente entre 2 mil e 10 mil R$) imediatamente, será ferido ou morto. Em alguns casos os golpistas solicitam também o fornecimento de um certo número de códigos de cartões de recarga para celulares pré-pagos (servem para os presos se comunicarem desde os presídios). Valor roubado pode chegar a R$ 16 mil.

Golpe OLX: Os golpistas monitoram os sites de venda como OLX, ZAP e Mercado Livre e entram em contato com um vendedor que possa vir a ser um alvo em potencial. Através dos dados do anúncio, os estelionatários conseguem o número de celular da vítima e consequente o de sua conta no aplicativo WhatsApp.Em seguida, eles enviam uma mensagem como se fosse a central de comunicação do site de vendas (sim, eles tentam se passar pelo OLX e Mercado Livre).Valor roubado varia de R$ 5 mil a R$ 10 mil.

Golpe do envelope vazio: uma pessoa vende um produto ou serviço para outra, ou faz um acordo financeiro para depositar um valor X na conta. Em alguns casos, a pessoa entrega um cheque sobre quem será aplicado o golpe, e pede para ela passar aquele valor em dinheiro ou fazer um depósito. No caso do depósito do envelope, a pessoa que está aplicando o golpe vai depositar um envelope vazio, sem qualquer cheque ou dinheiro. Essa pessoa vai pegar o comprovante e enviar para a vítima. O comprovante vai estar mostrando o depósito, o valor. Só que as vítimas esquecem que o depósito só será confirmado quando alguém do banco pegar o envelope e verificar os valores dentro do envelope, depositando, efetivamente, os recursos na conta do destinatário. A vítima chega a perder em média R$ 20 mil.

Golpe do amor: golpistas criam perfis falsos em redes sociais, geralmente passando-se por estrangeiros, manifestam intenção de casamento e dizem enviar presentes pelos correios. Depois, pedem depósitos em conta para liberar produtos na alfândega.

Golpe do dinheiro falso: uma pessoa propõe a um empresário ou profissional, reputado e com boa capacidade financeira, de cooperar em um esquema de troca de dinheiro falso por dinheiro bom. A operação supostamente daria um lucro muito grande. O risco da operação seria muito baixo devido à qualidade altíssima dos falsos. São feitos alguns testes, sempre bem sucedidos e envolvendo pequenas quantias, para atiçar a ganância da vítima. Depois na hora da primeira operação com valores elevados, alguma coisa não dá certo e a vítima perde tudo. 

 

 

 


Foto: Divulgação
Seja pelo lado emocional, amoroso, pela internet ou apelando pela sede do dinheiro fácil, são ao menos 15 tipos em que os criminosos agem em média 10 vezes ao mês
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