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Aqui, o gás não vem do botijão


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 21/09/2018 14:51
Atualizado 21/09/2018 14:58

Geral   COM PENSAMENTO NO FUTURO

É no interior, em um local longe dos grandes centros, que um exemplo de amor ao meio ambiente cresce. Na propriedade da família Knobloch, o esterco, há cerca de um ano, deixou de ser usado apenas como adubo. Ele se transforma, agora, em gás e pode ser utilizado no fogão da cozinha. O sistema é bem simples e fácil de fazer, atesta Orlando, o patriarca da família. A estrutura que recebe os dejetos dos animais foi montada atrás dos chiqueiros – e não levanta odor, como muitos podem pensar.

A ideia de tornar a propriedade mais sustentável surgiu depois de visitas a outras duas cidades: Passa Sete e Ibarama. Lá conheceram o mecanismo e decidiram implementar. Foi teste num primeiro momento, feito por Jarbas, um dos filhos de Orlando. Ele utilizou um cano metálico, daqueles usados em estufas de fumo. Simulou um biodigestor e conseguiu obter o gás, mesmo que em pequena quantidade. Com o resultado positivo do experimento, decidiu empreender os esforços para montar uma estrutura maior.

A família foi pioneira no município de Sinimbu no sistema de produção de gás através do esterco. E se orgulha por isso. “Ajudamos o meio ambiente e poupamos dinheiro”, comenta Orlando, que já não sabe mais quanto custa um botijão de gás de cozinha. “Desde que temos o biodigestor não compramos mais gás. Era um botijão a cada dois meses”, contabiliza a nora Luciane, fazendo as contas da economia.

Hoje, na região, o preço do gás de cozinha varia de R$ 68 a 82. Considerando o valor médio de R$ 75, são R$ 450 gastos por ano com a compra dos botijões. Como a família tem o sistema próprio de geração, poupa esse dinheiro, que pode ser utilizado para o pagamento do financiamento feito. “Pegamos R$ 10 mil para a construção do biodigestor. Se nós pagarmos as parcelas em dia, temos que quitar somente 20%, o que dá R$ 2 mil. O Governo nos parcela em cinco vezes. Então, são R$ 400 por ano, menos do que o valor que gastaríamos com a compra do gás”, observa Orlando, o esposo de Marlise.

Mais do que a questão financeira, a família quer contribuir na melhora do meio ambiente e na qualidade daquilo que a propriedade produz. Hoje, ela consegue utilizar o gás gerado no biodigestor apenas na cozinha. Mas os planos são muitos. Num futuro, quando instalar um balão de armazenamento, quer usar também no secador de grãos (hoje movido à lenha) e no chuveiro (que atualmente funciona com energia elétrica). Serão mais formas de aproveitar o gás gerado de forma sustentável.

BOM PARA TODOS
O uso do biodigestor vai além dos benefícios ao meio ambiente e ao bolso. Conforme a extensionista social rural da Emater de Sinimbu, Paula Sabrina Mallmann, o gás, que no futuro será usado para a secagem dos grãos, trará a redução do teor de umidade e o maior controle e facilidade de transporte e armazenamento. “Além disso, sua queima é limpa. Há possibilidade de automação do sistema, com redução expressiva da mão de obra, controle absoluto de temperatura, diminuição do tempo de secagem e aumento da qualidade final do produto seco”, explica.

Embora a fonte de energia se mostre vantajosa, o uso ainda é bem pequeno. Na região, por exemplo, Sinimbu tem apenas dois biodigestores - o da família de Orlando Knobloch e o da de Jean Carlo Hirsch. Santa Cruz do Sul, a maior cidade do Vale do Rio Pardo, não tem. Vera Cruz e Vale do Sol também não. Apesar de os benefícios serem tantos, o modelo não está enraizado na comunidade daqui. É mais comum a geração através de placas fotovoltaicas. Os números, neste caso, chegam a surpreender, colocando Santa Cruz do Sul como a capital gaúcha da geração de energia solar fotovoltaica, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). São 244 projetos implementados por apenas uma empresa, que se destaca no setor. Na região, Venâncio Aires tem 51 usinas; Vera Cruz, 21;  Rio Pardo, 19; e Candelária, 15. É o desejo de todos por um mundo mais sustentável.

A matéria na íntegra está na edição impressa do Jornal Arauto desta sexta-feira.


Foto Lucas Batista/Jornal Arauto
Esterco dos animais vai para o biodigestor, que se transforma em fonte de energia, utilizado  no fogão da cozinha
Esterco dos animais vai para o biodigestor, que se transforma em fonte de energia, utilizado no fogão da cozinha