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Mãe diz que bullying pode ter motivado ameaça de massacre à escola


Fonte: Grupo Arauto
Publicado 04/08/2022 16:12
Atualizado 04/08/2022 16:43

Geral   DESDOBRAMENTO

Desde o dia 27 de julho, a comunidade de Vera Cruz e região acompanha a repercussão do caso de ameaças proferidas à Escola Vera Cruz por um aluno nas redes sociais, que após investigação policial foi identificado e teve mandado de busca e apreensão cumprido em sua residência. A situação provocou medo na comunidade escolar, motivou atenção e trabalho de suporte por parte da equipe do Poli - que recebeu inúmeras ligações de pais aflitos com a segurança dos filhos -, além de todo um trabalho de investigação e atuação preventiva da Polícia Civil e Brigada Militar. Também, o caso motiva um alerta aos pais e responsáveis para o controle do acesso dos filhos à internet e às redes sociais. Além disso, a partir do relato da mãe do jovem responsável pelas ameaças - que concedeu entrevista ao Jornal Arauto nesta quinta-feira (4) -, vem à tona o diálogo sobre o bullying, fator que ela acredita ter sido o motivador para o comportamento do filho. Ainda que caiba à Justiça julgar e proferir a punição devida ao jovem, a responsável pela DP de Vera Cruz, delegada Lisandra de Castro de Carvalho, enfatiza a importância de a sociedade discutir as motivações do aluno e trabalhar em medidas de cunho preventivo e educativo. 

A mãe do jovem relatou que quando o caso foi noticiado pela mídia, ela e o marido não imaginavam que o autor das ameaças fosse o próprio filho. “A gente sempre olhava o celular, o histórico de acessos, pra saber o que ele andava vendo. Não deixava nada de jogos violentos, cheguei a apagar a conta dele em uma rede social, por acreditar que ele não tinha idade pra isso. Tanto que quando a polícia chegou na minha casa, com as provas, foi uma surpresa. Demorou a cair a ficha. Me desesperei”, conta. 

Sobre uma possível mudança de comportamento do filho que pudesse indicar qualquer atitude suspeita, a mãe revela que ele chegou algumas vezes em casa cabisbaixo após a aula e relatou sofrer bullying através de ofensas de colegas, ao que o pai teria alertado a conversar com eles e pedir que parassem. “Outra situação foi em maio, quando busquei o boletim dele na escola e a professora me contou que ele não foi aceito na turma, não tinha amigos, que ele era um terror. Então, cheguei em casa decepcionada e chamei ele pra conversar, falei o que a professora disse, mas ele não se abriu comigo. Aí monitorei mais uns dias o comportamento dele pra saber se estava melhorando. Talvez eu errei em não tentar fazer ele falar e acho que ele se sentiu sozinho, desamparado e pensou que a maneira de se defender fosse ameaçar os colegas, pra que eles tivessem medo e parassem com o bullying. Não sei se eu não deixei ele à vontade pra contar, ou não fui amiga suficiente pra ele ter confiança. Passou pela minha cabeça que alguém estivesse ameaçando ele para não contar”, recorda ela, que entregou uma carta relatando a situação à polícia. A mãe detalha também que outra mudança significativa de comportamento ocorreu há um mês, quando o filho começou a se preocupar com a aparência: “não comia mais, dizia que estava gordo, se preocupava se a roupa marcava a barriga, algo que não se preocupava antes”

Mãe quer entender o que aconteceu

Após o ocorrido, a mãe salienta que já questionou o adolescente diversas vezes sobre a motivação e qual a lição que ele tirou desta atitude inconsequente. “Ele diz que se arrependeu e sabe que isso foi errado, pois muitos pais ficaram tristes e preocupados. Ele tem noção agora do que fez. Sempre questiono o porquê, pois é difícil pra nós entendermos, e dá pra ver que nem ele entende bem direito”, explica ela, ao citar que a família está com medo, pois está recebendo inúmeras mensagens em tom ameaçador. “As pessoas dizem que sabem onde moramos, quem somos, a nossa rotina, a gente não dorme, não come. Cada comentário que lemos dói muito. A gente não sai de casa por medo, só se necessário. Ele não dorme mais sozinho, já falou em tirar a própria vida. Já decidimos que iremos nos mudar pra outra cidade. Ele está sendo punido pelo que fez, porque foi errado, e ele sabe disso. Não tô passando a mão na cabeça dele, mas digo que ele não pode responder por isso assim, não com ameaça de justiça feita com as próprias mãos. E ele não se transformou nesta criança sozinho, não sei se os pais estão atentos aos seus filhos que fazem bullying, parecem só estar julgando o meu filho”, complementa. 

Desdobramentos

A família passa por atendimento psicológico atualmente. Procurada pela reportagem, a direção da Escola Vera Cruz salienta que ainda não foi procurada pela família, mas que aguarda a realização de uma reunião, agendada através do Conselho Tutelar, com os responsáveis pelo jovem. 

Conforme a delegada Lisandra, nos próximos dias o procedimento para apuração de ato infracional será encaminhado ao Ministério Público. Haverá um processo, trabalhado junto com o Judiciário, para que após o término seja definido se haverá ou não a necessidade de uma medida socioeducativa ao jovem.

Delegada enfatiza foco na prevenção e um olhar socioeducativo

Como alerta aos pais, a delegada Lisandra enfatiza a necessidade de atenção à rotina dos filhos, especialmente aos conteúdos acessados na internet e nas redes sociais e aos relacionamentos virtuais. “O olhar também precisa ser voltado para a relação dessa criança ou adolescente na escola, quais são os grupos de amigos, dar espaço para ouvir dentro de casa. Perguntar ‘como foi o dia hoje?’, ‘quem é teu melhor amigo?’, ‘o que vocês fazem?’, ‘como é teu recreio?’, ‘fica com quem no intervalo?’. Dar espaço para que algo que não esteja certo, um desconforto, alguma angústia ou infelicidade possa ser relatada”, orienta. 

Segundo ela, faz-se importante, ainda, frisar que a consequência do ato, cometido pelo jovem em questão, é uma medida socioeducativa. “Não é uma punição com pena restritiva de direito, com pena privativa de liberdade, não é o mesmo tratamento de um adulto. Como o próprio nome diz, é uma medida que vai servir pra educar. É preciso que todos compreendam que a adolescência é uma fase de desenvolvimento da personalidade, do caráter, e que todos estão sujeitos a cometer equívocos e que esses equívocos precisam de correção e educação pra que possamos ter um adulto feliz, responsável e fazendo o bem. Neste caso, é importante o acompanhamento psicológico e a escola tem que estar atenta a isso, que tenha esse olhar, não punitivo, mas educativo, e que entenda o porquê isso aconteceu para prevenir”, frisa a responsável pela DP de Vera Cruz, ao citar que além de atuar na repressão e na apuração do ato infracional, a polícia se preocupa com o cunho socioeducativo, se sensibiliza com a situação e quer atuar, principalmente, com ações preventivas. “Já se percebe que este jovem está se sentindo culpado, o efeito desta vergonha já acontece. Ele ter se arrependido pelo ato é algo importante por ter a consciência de que estava errado. Tem gente que não tem esta consciência, mas é importante que nós, enquanto sociedade, entendamos porque ele fez isso e que medidas sejam tomadas de cunho preventivo e educativo em relação aos demais jovens, colegas dele também. Que isso tudo seja um alerta para todos”, arremata. 


Foto: divulgação
Carta foi entregue à polícia civil de Vera Cruz pela mãe do jovem
Carta foi entregue à polícia civil de Vera Cruz pela mãe do jovem