Um sentimento está presente em praticamente todas as casas dos integrantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria – frustração. Pais, companheiros e amigos lamentam a anulação, nessa quarta-feira (3), do júri que condenou réus por mortes na boate Kiss.
Em Santa Cruz, o pai de uma das vítimas da Kiss, o professor Nestor Raschen, acompanhou com apreensão o julgamento das apelações contra a sentença do juiz Orlando Faccini Neto. Os desembargadores da 1ª Câmara Criminal decidiram por anular o júri e submeter os réus a um novo julgamento.
Nestor, que carrega ainda momentos de tensão e dor intensa nos cinco dias em que o filho Matheus esteve internado antes de falecer, disse que a decisão é vergonhosa. “O que aconteceu foi um deboche. É uma vergonha. O fato de haver algumas questiúnculas de ordem jurídica não tira a culpa dos réus”, lamentou.
Na opinião dele, um novo julgamento traria mais sofrimento para as famílias que já passaram por momentos difíceis em 2013, com perda de entes queridos no incêndio, e durante o ano passado. “Nós fizemos uma vaquinha para juntar dinheiro para que as pessoas pudessem acompanhar o júri”, falou.
Jovem e cheio de vida, capitão da Seleção Gaúcha de Basquete, Matheus tentou salvar outros amigos que estavam no local e em função da fumaça tóxica inalada veio a falecer dias depois do incêndio. O rapaz esteve internado por quase uma semana no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.
Foram apresentados pelos advogados de defesa 19 pedidos de nulidade. Entre os principais apontamentos da defesa, está escolha dos jurados ter sido feita depois de três sorteios, quando o rito estipula apenas um, e a utilização de uma maquete 3D do prédio, anexada aos autos sem prazo suficiente para que as defesas a analisassem.
