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Alta nos preços vira desafio para compra de itens básicos no supermercado


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 17/06/2022 15:30
Atualizado 17/06/2022 15:35

Geral   CARRINHO MAIS VAZIO

Já virou até meme nas redes sociais. Levar para casa um número considerável de produtos e alimentos do supermercado com R$ 100 se tornou um desafio e tanto. Se há alguns anos, o carrinho transbordava com itens que somavam este valor, agora, dependendo das opções do consumidor, cabem até mesmo em uma cesta - como comparam as publicações na internet. Para comprovar na prática, a reportagem do Nosso Jornal foi às compras com R$ 100, em um supermercado de Vera Cruz. No carrinho e no bolso, espaço apenas para nove itens: um quilo de feijão, cinco quilos de arroz, dois litros de leite, um quilo de açúcar, um pacote de massa de 500 gramas, 900 mililitros de óleo de cozinha, papel higiênico com quatro rolos, duas bandejas com duas coxas e sobrecoxa em cada e um limpador líquido. Produtos, que dependendo do consumo da família, podem durar de uma, talvez cheguem a duas semanas. 

Assim como a reportagem, pelos corredores os clientes comparam os preços e tentam fazer a mágica acontecer frente à desvalorização do dinheiro - tão perceptível na hora de fazer o rancho ou mesmo as compras para a semana. “Se há meio ano ou mais, o rancho que fazia pra casa não chegava a R$ 200, agora, para levar a mesma quantidade preciso desenbolsar R$ 500”, desabafa Glaci dos Santos Bastos, de 62 anos, moradora de Entre Rios. Nas compras dela estão impactos como preço do pó de café, que custava em torno de R$ 6 e, que nos últimos meses, chegou a encontrar  por quase R$ 20. Outro vilão, cita ela, são as verduras e legumes. “O tomate que comíamos todos os dias está sendo tirado do cardápio. O preço em geral das verduras e frutas está um absurdo. Antes eu vinha comprar esses itens pra semana e saía com três sacolas pagando uns R$ 30, hoje, desembolso R$ 100 para a mesma quantidade”, exemplifica Glaci, que tem driblado os altos preços da carne bovina, consumindo a produção de frango e porco da sua propriedade. 

Menor quantidade, mesmo preço

Além da alta no valor pago pelos itens, os consumidores sentem, ainda, os reflexos no bolso da diminuição na quantidade e tamanho do produto vendido, porém, com manutenção do preço. Moradora de Linha Dona Josefa, Gertrudes Beatriz Goelzer, de 64 anos, percebeu essa diferença nas barras de chocolate. “Noto que se antes eu pagava cerca de R$ 5 por uma barra de 200 gramas, hoje, mesmo com a redução para 90 gramas, pago o mesmo valor. Acaba gastando mais, porque se antes comprava uma barra, agora são no mínimo duas pra preparar o mesmo doce”, revela. 

Conforme o economista e professor do Departamento de Gestão de Negócios da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Heron Begnis, o fenômeno - popularmente chamado de reduflação - pode ser explicado por duas razões. “Uma delas é a estratégia de manutenção de preço e, assim, para não aumentar o preço do produto, as indústrias diminuem a quantidade ofertada. Por outro lado, isso também pode ser explicado pela aproximação dos mercados nacionais com os internacionais, em um movimento de equiparação de quantidades e tamanhos, visando a venda dos produtos no país, mas também no exterior”, esclarece ele, ao orientar que o consumidor fique atento às embalagens dos produtos, que devem conter as modificações.

Dica

Uma boa saída para minimizar o impacto no bolso durante as compras do supermercado, alerta o professor de economia Heron Begnis, é não se apegar às marcas, abrir o leque de possibilidades e experimentar produtos com preço mais em conta. Também, ficar atento aos alimentos fora da estação, consumindo frutas, por exemplo, da época, que se tornam mais baratas. E se for antecipar a compra dos produtos de olho no preço baixo, a dica é se certificar de que o preço está realmente bom. “Por isso, é imprescindível acompanhar os preços sempre, fazer as compras com atenção e pesquisar”, conclui. 

Para não subir o preço dos produtos, empresários buscam alternativas

Com os derivados do leite e as frutas e legumes cada vez mais caros, a proprietária de uma boutique de doces e bolos em Vera Cruz, Gizelle Christina Brandt, teve que pensar em soluções para não repassar a alta dos preços aos clientes. Os bolos de cenoura e as tortas que levam morango, por exemplo, são vendidos em tamanho um pouco menor do costume - uma estratégia também para  driblar a disparada no preço das embalagens, que dobrou -, porém, mantendo o preço. “O cliente procura pelo mesmo preço, em contrapartida, os preços dos alimentos só sobem. A cenoura que antes custava R$ 2,29 foi subindo, subindo e chegou a 11 e pouco, variando pra R$ 7 às vezes. O preço do leite também praticamente dobrou e os derivados, como a nata, chegam a uma diferença de R$ 3 de antes pra agora”, conta ela. 

Essa estratégia, observa Heron, também é adotada em outros empreendimentos do ramo, como restaurantes e lancherias. “Se diminui a porção dos pratos servidos para manter a tabela de preços ao consumidor, um desafio e tanto, mas necessário para driblar a alta nos preços dos alimentos. Entre as dicas, pode-se pensar em novas opções, um novo sabor de bolo cujo produto principal esteja mais em conta, repensar o cardápio do restaurante, é preciso ser criativo. Na medida em que conseguir manter os preços de venda, mesmo com mudanças no cardápio, o consumidor vai perceber um esforço do empreendimento”, orienta o profissional. 


Foto: Jornal Arauto / Taliana Hickmann
Nas compras com R$ 100, nove itens no carrinho
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