A falta de medicamentos é uma realidade nas farmácias da região, sejam públicas ou privadas. Há uma série de fatores que explica a situação, dentre eles o frio intenso dos últimos dias, que acarreta em doenças respiratórias e síndromes gripais, ocasionando uma maior demanda por remédios. Classes de medicamentos utilizados para tratamento dos sintomas de gripe tiveram aumento de procura, como antialérgicos, antibióticos e analgésicos. O problema de fornecimento já é sentido na maioria dos estados brasileiros.
A farmacêutica Jamile Helena Marques, que atende na Farmácia Municipal de Vera Cruz, explica sobre o fornecimento prejudicado. “A procura é muito alta e o volume de produção das indústrias não consegue atender tudo, tanto do setor público como do privado. De alguns itens temos estoque por ora, mas já temos informação da dificuldade no fornecimento por parte da indústria. Muitos medicamentos já se encontram em falta e não há previsão de reposição”, comenta.
Rosimeire dos Santos, dona de casa, recebeu receita para uso de dois medicamentos e não teve sucesso na Farmácia Municipal de Santa Cruz do Sul. “Eu precisava da amoxicilina e do clavulanato de potássio. Não tinha nenhum deles. A explicação é de um problema geral com o fornecimento”, conta.
A falta de medicamentos afeta principalmente as pessoas que utilizam para tratamento de sintomas respiratórios, sendo, na maioria das vezes, com período de uso limitado (cerca de 10 dias). Porém, no caso da falta de medicamentos de uso contínuo, em virtude de dificuldade de produção por parte das indústrias farmacêuticas, seja por falta de matéria-prima ou de material de embalagem, há orientação para troca de tratamento por outro medicamento. Nesses casos, o paciente necessita retornar ao médico e, em conjunto, decidir a melhor opção para continuação do tratamento.
Além do aumento da demanda ocasionada pelo frio, outros fatores devem ser considerados, como os conflitos entre Rússia e Ucrânia e o lockdown na China. “Tanto essa questão da guerra quanto o isolamento total na China influenciaram muito o desabastecimento de alguns medicamentos no Brasil. Grande parte dos insumos para produção vem da China, e com lockdown ocorre o desabastecimento. Além disso, há relatos de falta de embalagens para envase dos medicamentos, motivado também pelos conflitos na Europa. Assim, em alguns casos, a produção dos medicamentos ocorre de forma contínua, porém há falta de embalagens para envase, como frascos, conta-gotas, entre outros”, afirma Jamile.
O problema no fornecimento de antibióticos de uso infantil já é percebido há pelo menos dois meses nas farmácias da região. Como há menos opções de remédios que podem ser utilizados por pacientes pediátricos, a carência torna-se um desafio para quem precisa comprar.
Na Farmácia Municipal de Vera Cruz, é recomendado ligar antes para confirmar se há o medicamento em estoque. O contato é (51) 3718 1334 e pelo WhatsApp (51) 9 9866 0349.
Nas farmácias do setor privado, a situação com o fornecimento é a mesma. Vânia Rech Angeli, que é sócia-proprietária da Farmácia Agafarma, de Vera Cruz, também enfrenta o problema. “Nessa época é normal o aumento da procura por medicamentos. Já em abril nós tivemos alguns casos de remédios faltando. No início nós até pensamos que fosse alguma questão pontual da indústria, mas depois vieram as explicações sobre falta de insumos e embalagens. Nós temos falta principalmente de antialérgicos e antibióticos. Deixamos de atender muitos casos por causa disso. É importante que as pessoas entendam que se trata de um problema de todo o setor farmacêutico. Muitos chegam aqui e reclamam que estamos sem o medicamento, sendo que o problema é maior e está afetando de forma geral”, explica.
A Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) aponta que o Brasil sente os efeitos da pandemia na logística, e o lockdown na China voltou a gerar instabilidade, com complicações para trazer qualquer insumo em geral ou medicamentos. O Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) é a base para a produção de todos os medicamentos. O Brasil importa 95% do IFA utilizado nas fábricas nacionais. Desse total, 68% tem origem da China.