Tendo em vista as transformações emergentes no meio rural, a exemplo do crescimento do protagonismo feminino junto às propriedades, bem como a introdução de tecnologias em benefício das atividades, uma pesquisa está sendo realizada com cinco mil agricultoras em todas as regiões do Estado. O objetivo é aprofundar o conhecimento sobre as mulheres atendidas pela Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) do Estado, em uma ação conjunta entre a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado (SEAPDR) e a Emater/RS-Ascar, em parceria com o Departamento de Economia e Estatística da Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG). As entrevistas seguem até o dia 17 deste mês e, entre as cidades, ocorrem em Vera Cruz.
Conforme a extensionista rural social do escritório da Emater/RS-Ascar na Capital das Gincanas, Paula Sabrina Mallmann, no total 30 mulheres, de todas as idades e diferentes níveis de instrução, do ensino fundamental ao superior, serão entrevistadas no município, moradoras das localidades de Entrada Ferraz, Ferraz, Ponte Andréas, Linha Andréas, Vila Progresso, Linha Tapera, Entre Rios, Linha Alta, Dois de Dezembro, Linha Henrique D’Ávila, Linha Fundinho, Coxilha Mandelli, Dona Josefa e Linha Cipriano de Oliveira. “Buscamos traçar o perfil das agricultoras, identificando como elas se inserem no contexto social e econômico em seu dia a dia. Posteriormente essas informações vão possibilitar a criação de novas políticas públicas e servirão de base para a execução de trabalhos mais condizentes com a realidade que vivenciam. Muita coisa mudou em relação à participação e a visão delas sobre as atividades desempenhadas no campo e, dessa forma, nosso trabalho precisa atender a essas novas necessidades”, esclarece Paula.
Na pesquisa, as mulheres rurais respondem perguntas ligadas à rotina da propriedade, à gestão do dinheiro e/ou lucro das atividades desempenhadas e à tomada de decisão, relatando qual seu grau de envolvimento em cada uma delas. Além disso, são questionadas a respeito do uso de tecnologias, sobre o grau de conhecimento acerca de temas como saúde, violência e direitos sociais, e os impactos da pandemia no campo.
Ao realizar ao menos 27 entrevistas, Paula enfatiza que a atuação das mulheres nas propriedades rurais está cada vez mais evidente. “Algumas até tocam a propriedade sozinha, outras administram junto ao marido. Neste sentido, grande parte relatou que seu trabalho impacta em metade ou mais da metade do rendimento da propriedade. Se essa pergunta fosse feita há alguns anos, talvez muitas responderiam que seu trabalho tem pouco impacto. Muito tem a ver com as mudanças culturais e sociais, mas também com a forma como elas se enxergam e valorizam a sua participação no dia a dia do campo”, avalia. “Neste sentido, também é preciso ficar atento à sobrecarga, uma vez que muitas delas, além das atividades rurais, desempenham também tarefas domésticas, cuidam dos filhos ou de pessoas idosas, enfermas ou com deficiência. Em alguns casos os homens auxiliam, mas nem sempre é assim”, acrescenta.
Segundo Paula, chama atenção que, apesar de as entrevistadas terem um olhar crítico sobre questões relacionadas à violência, muitas não sabem como auxiliar frente a um caso como esse, evidenciando a necessidade de discutir mais sobre o assunto junto às mulheres rurais. “Também é interessante observar o uso de internet e do celular, sendo para fazer pesquisa e tirar dúvidas sobre as atividades desempenhadas, ou até mesmo no uso de aplicativos de banco. 50% dessas mulheres dominam bem esses meios e as demais estão num progresso para chegar lá”, comenta a extensionista da Emater/RS-Ascar, que avalia como essencial a pesquisa que, entre as questões, tem identificado o maior protagonismo das agricultoras vera-cruzenses nas atividades do campo.