compartilhe >>

Ele driblou a morte e resolveu espalhar alegria para a vida das pessoas. Então, virou Noel


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 25/12/2021 00:06
Atualizado 25/12/2021 16:19

Cobertura Especial   ESPECIAL DE NATAL

O vera-cruzense Marco Aurélio José da Silva, 60 anos, nutria há bastante tempo o desejo de se transformar em Papai Noel. Sempre foi muito comunicativo, carismático, amigão das crianças. Só que Nenê, como é conhecido, possui distrofia muscular de cintura desde a adolescência, e por não conseguir se abaixar para pegar a criança no colo, achou que não serviria para o papel. Apesar de ser uma doença degenarativa, ele conseguiu estacionar sua evolução e, cultivando bons hábitos de vida, associado à fisioterapia, vive bem, tem todos os movimentos no corpo, apenas não consegue ficar de pé e, portanto, caminhar.

Só que o desejo voltou com força depois de passar por um susto maior, que exigiu muita fé e força para superar. Nenê teve uma enfermidade grave em 2017, quando uma bactéria rara no país atingiu sua flora intestinal. Depois de 28 exames, relata ele, que tal bactéria foi descoberta e se tornou muito agressiva. Tanto que passou dois anos indo e vindo de hospital e até ano passado ainda tomava antibiótico. “Estava desacreditado. Todos acharam que eu não ia resistir. Mas tive fé, não tá morto quem peleia”, diz Nenê,  que ficou um tempo na UTI, teve três paradas respiratórias e emagreceu o que acredita ter ficado perto dos 30 quilos. “Eu era um esqueleto humano, mas consegui, sempre tive muita vontade de viver”, garante.

Pois ainda no ambiente hospitalar, quando estava se recuperando, Nenê recebeu a visita dos Dr. Só Risos com suas palhaçadas e músicas. A alegria foi contagiante, a tal ponto que resolveu viver essa magia e ser o Papai Noel. “Pensei: eu preciso fazer alguma coisa. Eu quis levar amor ao próximo, isso é ser Papai Noel. Ter carinho e amor pelas pessoas, levar esperança”, resume ele, que no ano passado fez sua estreia, distribuiu balas para a criançada e fez a alegria para muitos adultos. “Fui pelas ruas, na praça, no mercado, foi aquela folia, todo mundo querendo tirar foto”, diverte-se Nenê, que esperou este dezembro começar para ir às ruas.

Nenê diverte-se lembrando de uma mulher na rua, gritando: “olha o Papai Noel, quem vê ele tem sorte”. Mas a passagem mais marcante, como não poderia deixar de ser, veio da inocência de uma criança. “A criança me perguntou: onde estão as renas? Fui ligeiro para pensar numa resposta. Expliquei que as renas estavam cansadas da viagem lá da Lapônia [conhecida como a terra do Papai Noel] e precisavam descansar. Aí eu vim com minha cadeira de rodas elétrica para não cansar muito, porque o Papai Noel está mais moderno”, justificou, mostrando que a distrofia, que o impede de caminhar, não atrapalha o seu desejo de incorporar o mais clássico dos personagens natalinos. “Sei que as pessoas veem aos montes o Papai Noel, mas não na minha condição. Eu recebo muita força e alegria de todos, é uma verdadeira troca. Enquanto tiver fôlego, vou continuar, não quero parar”, sublinha o vera-cruzense, cheio de energia.

Papai Noel de Rua

Diferente de muitos que se dedicam a percorrer as casas nos dias 24 e 25 para fazer a entrega dos presentes e recebem uma renda extra para isso, Nenê se classifica como um Papai Noel de rua. É sair com sua cadeira elétrica pelas calçadas para transmitir sua alegria contagiante a quem enxerga. É levar o sentimento de que é preciso reforçar os laços de amor entre as pessoas, cultivar a fé, renovar a esperança. 

Porque para ele, que tantas experiências já viveu, esperança é palavra-chave para traduzir o Natal, junto da paz e do amor. A festa cristã, para ele, é a crença de que Jesus existe e está no meio de nós. A alegria em viver isso depois de ter renascido para a vida o enche de felicidade. “Estou representando a harmonia entre as pessoas, a gratidão pela vida, a fé. No hospital, o Papai do Céu me chamou e disse: vai levar alegria e paz para as pessoas”, reflete Marco Aurélio, o Bom Velhinho sobre rodas que é pura motivação para fazer cada instante da vida mais feliz.


Foto: Carolina Almeida/Jornal Arauto
Vera-cruzense Marco Aurélio José da Silva, 60 anos, nutria há bastante tempo o desejo de se transformar em Papai Noel
Vera-cruzense Marco Aurélio José da Silva, 60 anos, nutria há bastante tempo o desejo de se transformar em Papai Noel

Ele driblou a morte e resolveu espalhar alegria para a vida das pessoas. Então, virou Noel