Quando Tanelise Aline Braatz conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada, em um posto de combustível de Candelária, adorava observar as viaturas do Batalhão Rodoviário de Cachoeira do Sul que chegavam para serem abastecidas. As cores, a sirene, os uniformes dos policiais. Tudo sempre fez muito sentido para o coração da jovem. Eram apenas sonhos de uma menina que se tornariam reais seis anos depois.
Nascida e criada no meio rural, a jovem se tornou agricultora de forma natural, a exemplo da família moradora de Travessão Schoenfeldt, interior de Candelária. "Sempre ajudei minha mãe e irmãos no cultivo do fumo. Em 2015 consegui meu primeiro emprego de carteira assinada em um posto de combustível. Foi daí que veio minha motivação, pois algumas viaturas abasteciam lá e, certa vez, os policiais comentaram que estava por sair o edital do concurso. E então comecei a pensar no assunto", conta.
Com esse contato com a polícia, Tanelise sentiu ainda mais vontade de ingressar na área militar, profissão que sempre admirou. Na época, por ter um filho de seis meses, pensou bem antes de decidir e realizou a inscrição no último dia. Porém, em junho de 2018, após todas as fases concluídas, a jovem recebeu uma notícia muito triste. "Minha mãe estava com câncer em fase terminal. Me abalou muito, pois ela era uma pessoa batalhadora e criou seus seis filhos praticamente sozinha. Lembro dela no hospital falando para as pessoas que a filha dela ia ser brigadiana e que estava orgulhosa disso. Infelizmente, ela partiu em menos de seis meses, deixando muita saudade", diz.
Em dezembro do mesmo ano, a jovem precisou enfrentar outra situação preocupante, quando precisou sair do emprego para cuidar do marido que havia realizado uma cirurgia no coração. "Em junho de 2019 me empreguei novamente em uma rede de varejo em Candelária e em outubro descobri que estava grávida novamente. No dia que saiu a convocação para ingresso no Curso Básico de Formação Policial Militar (CBFPM), em 8 de dezembro de 2020, fui demitida. Deste tempo até o início do curso, em 15 de março, fiquei trabalhando na roça, colhendo fumo por dia na localidade onde morava para juntar dinheiro e pagar o exames para a inclusão no curso", relata.
Já no curso, em maio, Tanelise recebeu outra notícia que encheu seu coração de angústia. "Lucas, meu filho mais velho, foi diagnosticado com autismo grau leve. No começo demora a cair a ficha. É algo novo e não sabíamos o que fazer. Começamos a levar ele em fonoaudióloga e conseguimos colocar ele na creche, pois a fala estava bem atrasada. Hoje, graças a Deus, é quase imperceptível e a fala já evoluiu muito. Enfim, apesar de tantos obstáculos, nunca pensei em desistir, isso tudo me deu mais forças para continuar e conseguir dar uma vida melhor aos meus filhos. Agradeço muito ao meu marido por ter cuidado dos nossos filhos e entendido e apoiado nos diversos momentos que me fiz ausente", ressalta a jovem de 23 anos.
Com o amor dos filhos Lucas Braatz dos Santos, quatro anos, e Filipe Braatz dos Santos, um ano e oito meses, a agora soldado Tanelise tem mil motivos para comemorar. Afinal, embora os obstáculos que ela e o marido Ubiratan Schumacher dos Santos tenham passado, a gratidão a Deus é pelas vitórias obtidas durante o caminho. Atualmente, com a melhora em todos os sentidos, Tanelise faz plano para sua profissão, na certeza de que fez a escolha certa. "Pretendo ficar pela região do Vale do Rio Pardo. Minha classificação está boa para escolher a região. Posterior quero continuar estudando e assim que as coisas se estabilizarem quero iniciar o curso de Direito para ascender na carreira", deseja.