A 36ª Oktober foi inesquecível. Não só por marcar a retomada dos grandes eventos, mas também por despertar o olhar para as diferenças. Para a necessidade da acessibilidade em todos os espaços. Por mostrar que para sonhar não há limites. Neste aprendizado, uma jovem de cabelos loiros e sorriso largo foi – e continua sendo - protagonista. Luiza Fischer de Almeida, que se expressa através da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e com a ajuda de intérprete, ensina que a deficiência auditiva não é empecilho para comunicar e encantar. Um mês após a realização do evento, ela segue inspirando as companheiras de reinado e fortalecendo o legado de força e perseverança, construído desde a noite de 22 de agosto, quando anunciada a Soberana Destaque da Festa da Alegria.
Desde o primeiro contato com a rainha da 36ª Oktober, Luana Terezinha Rech, e as princesas Amanda Angélica Beckenkamp e Renata Maria Müller, a interação foi natural. Aos poucos, as colegas - que se tornaram amigas - aprenderam alguns sinais, motivadas em facilitar a comunicação com Luiza, mas também em saber o que a jovem tão expressiva e agitada tinha a dizer. “Ao mesmo tempo que incentivei as meninas a aprender libras, houve o interesse por parte delas, o que foi muito importante. Elas sempre me perguntavam as palavras e conversávamos pelo WhatsApp. Foi um aprendizado para todos que aconteceu gradualmente, como tinha que ser”, vibra Luiza.
Entre os sinais prediletos, Luana, Amanda e Renata aprenderam seus nomes, o que rendeu momentos engraçados, comenta Luiza. “Elas ficavam se achando, dizendo em libras: ‘meu nome é tal’”, recorda aos risos, ao citar que criou uma expressão própria para se referir às colegas e ensinou diversos sinais que facilitaram a comunicação entre elas. “Aprendi algumas coisas, como cantar a música Barril de Chopp [da Banda Ghermania], dizer quando tinha desfile e encontros no Pavilhão Central e ir ao banheiro”, conta Amanda. Para ela, muito mais que um desafio, a experiência despertou um olhar mais carinhoso com as diferenças, além de grande admiração por Luiza. “A gente sempre acha que pratica a inclusão, mas conviver com ela nos mostrou que precisamos dar mais atenção a esse tema”, acrescenta a primeira princesa.
Por sua vez, Renata frisa que a aprendizagem de libras e o convívio diário com Luiza refletem em ensinamentos valiosos. “A Luiza nos mostrou o quão grande é a comunidade surda e o quanto ela necessita de acessibilidade em todos os lugares. Realmente ela foi uma grande inspiração para eles. Foi uma experiência muito legal, acredito que tanto pra nós quanto pra ela”, enfatiza a segunda princesa da festa.
Assim como a rainha e as princesas da Festa da Alegria em 2021, o público também se encantou com o jeito comunicativo e alegre de Luiza. “Muitas pessoas tentaram fazer os sinais, se comunicar e isso foi muito bacana”, enfatiza a rainha Luana, ao falar da companheira de reinado. “O público vinha falar comigo, querendo aprender a língua de sinais. As pessoas perguntavam: ‘como faço o sinal de rainha? De princesa? Como é sinal de amor, de família?’. Assim, eu ia ensinando e dando essas informações”, acrescenta Luiza, ao falar da emoção que sentiu ao estar rodeada de tanto carinho.
Na interação com o público, as soberanas destacam a identificação e admiração das pessoas com algum tipo de deficiência por Luiza, como se nela encontrassem inspiração para quebrar barreiras, seguir seus sonhos. “A Luiza me ensinou que devemos sonhar mais alto e ir em busca dos nossos objetivos. Ela é uma mulher forte e determinada! Muitas vezes pensamos que pessoas surdas possuem algo limitante, que possa vir a impedi-las de realizar seus sonhos, e vi que não, que nada é capaz de impedir alguém quando se é determinado”, arremata a rainha Luana.
Com orgulho da caminhada que vem construindo, sem esquecer das dificuldades diárias que ainda desafiam os deficientes em diversos momentos do dia – que são lembradas neste mês, especialmente no dia 10, voltado à prevenção e combate à surdez -, Luiza acredita estar abrindo portas para outras meninas que têm o sonho de se tornar soberanas ou de brilhar em qual seja o seu objetivo de vida. “Nunca me limitei, sempre me esforcei, não tive preguiça. Sempre corri atrás para mudar minha vida. As pessoas não são obrigadas a nada, mas podem mudar suas vidas se elas quiserem”, incentiva Luiza, ao complementar que sempre é possível quebrar barreiras, por mais grandes ou difíceis que sejam.