Muito forte em toda a região no passado, a cultura do trigo por muitos anos foi perdendo o interesse dos agricultores, que começaram a investir na produção de arroz e soja. No entanto, com as duas últimas safras tendo apresentado valorização no preço, a cultura foi ganhando novamente espaço e há quem tenha apostado pela primeira vez.
Conforme o escritório regional da Emater/RS-Ascar de Soledade, que abrange 39 municípios e se divide em cinco microrregiões administrativas, incluindo o Vale do Rio Pardo, em 2020 foram utilizados 49.500 hectares que obtiveram uma produtividade média de 2,9 toneladas por hectare. Já em 2021, com 90% da safra já colhida, a área quase duplicou, passando para 78.550 hectares e uma produtividade média de 3,2 toneladas por hectare.
Ainda, o órgão regional destaca que na atual safra os produtores da área de abrangência conseguiram obter, em média, 55 sacas por hectare. Com base no preço dos insumos e demais investimentos na produção, seriam necessárias 30 sacas em média, por hectare, para pagar o custo de produção. Contudo, com o aumento dos insumos em 2021, esses números devem sofrer alteração para a próxima safra.
De acordo com o extensionista rural da Emater/RS-Ascar de Vera Cruz, Alberto Pinheiro, no ano de 2020 não foi observado o plantio de trigo em Vera Cruz. Em 2021, no entanto, foram cinco produtores que realizaram o cultivo. “A cultura do trigo já se fez bastante presente na agricultura do RS como um todo, e em Vera Cruz não era diferente. Entretanto, devido à baixa rentabilidade e ao alto risco climático, o trigo acabou sendo aos poucos substituído por outras culturas”, salienta.
O assistente técnico regional da Emater de Soledade, Josemar Freitas, ressalta que a valorização do preço da cultura foi fundamental para o crescimento da produção. Se em novembro de 2019 o preço da saca estava em R$ 38, em 2021 a saca já está valorizada em R$ 83. Na atual safra, um fator que ajudou na qualidade da produção foi a ajuda do clima, que possibilitou que 90% da safra fosse colhida pelos produtores.
Morador da Travessa Becker, interior de Vera Cruz, o agricultor Irineu dos Santos decidiu apostar na cultura do trigo nessa safra pela primeira vez, na entressafra da soja, na qual planta oito hectares.
Segundo o vera-cruzense, o investimento no plantio de 2,7 hectares foi muito positivo. “Foi a primeira vez que investi no trigo. Obtive um retorno de 128 sacas mesmo tendo tido problemas com doenças fúngicas. Para o ano que vem, pretendo ampliar a área de plantio para 4,5 hectares. É uma cultura de inverno, que além de ter um interessante retorno econômico, também ajuda na manutenção de um solo de qualidade”, destaca o agricultor vera-cruzense, satisfeito com a experiência na cultura de grãos.
No entanto, para a safra de 2022, Irineu já projeta uma produção mais complicada, tendo em vista que o preço de insumos, maquinário e combustível estão com tendência de alta para este e o próximo ano, se comparado a alguns meses atrás, quando foram realizados os investimentos para a atual safra.
Conforme o extensionista rural Alberto Pinheiro, um cultivo que vem ganhando espaço no Rio Grande do Sul é o chamado “Trigo Duplo propósito”, o qual é cultivado para pastoreio e posterior colheita de grãos. No início do ciclo, na fase vegetativa, a lavoura é disponibilizada para pastoreio bovino e, antes da fase de emissão das panículas, os animais são retirados e a lavoura produz grãos para serem colhidos. Cabe ressaltar que existem cultivares próprias para esse propósito.