Durante os quase 50 anos de história da Banda Municipal de Vera Cruz - que reúne talentos locais desde 1973 -, os músicos participantes pouco se lembram de terem ficado tanto tempo afastados dos ensaios e dos palcos, como nos últimos meses. Entre eles, um dos mais antigos no grupo, Antenor Kappke, de 76 anos, que desde 1977 assume o trombone na Banda, atesta: “a saudade era grande”. Saudade de encontrar os amigos. Saudade da energia do público. Saudade de tocar junto aos demais, afinal, não se forma uma banda com músicos tocando individualmente.
Contudo, vinha sendo assim desde março de 2020 - quando a pandemia interrompeu os encontros. Cada um ensaiando de sua casa. Focados para que saxofones, trombones, trompetes, contrabaixo, teclado, bateria, percussão, bombardino - instrumento de sopro - e voz se entrosassem com tamanha naturalidade, como se nunca tivessem se separado.
Com a volta da formação completa do grupo aos ensaios - e com o ingresso de jovens músicos -, todas às terças-feiras à noite, no Centro de Convivência do Idoso, o maestro Carlos Oscar Procat se diz surpreso com o desempenho. “Temos tido uma evolução muito bacana em poucos ensaios, todos pegando junto, tirando tempo para passar as partituras em casa também, tamanha era a saudade e vontade de estar junto e fazer bonito com o grupo”, revela o músico, ao contar que novas músicas estão sendo introduzidas no repertório, a exemplo de pot-pourris de canções de Roupa Nova e The Beatles.
Em meio à alegria por estar de volta, pelo menos aos ensaios, os músicos integrantes da Banda Municipal recordam-se com saudade da última apresentação realizada antes da pausa. “Foi durante as comemorações de fim de ano, em dezembro de 2019. A igreja estava lotada, o público muito animado, de pé aplaudindo e dançando”, rememora Ido Christmann, de 65 anos, que ao longo de quase toda a vida tocou em bandas de baile e, mais recentemente, há três anos, atua com trompete na Banda Municipal de Vera Cruz.
A volta aos ensaios também foi especial para o músico Milton Afonso Kroetz, de 56 anos. Após nove dias internado pela Covid-19 em março desde ano e meses de dedicação a exercícios respiratórios para reverter as complicações pela doença - em um processo lento, tal qual o embalo de uma valsa -, ele pôde, enfim, fazer o som do saxofone entoar em meio à Banda. “Tem sido muito gratificante voltar e ver os avanços a cada ensaio. Ainda tenho dificuldades com a resistência, mas sei que aos poucos, com a prática, vou ficar cada vez melhor”, conta o músico, feliz pela chance que tem de recomeçar e, quem sabe em breve, estar de volta também aos palcos.
O maestro Carlos recorda-se dos tempos em que a Banda Municipal era composta por 33 músicos. Hoje são 20. Número, que segundo ele, precisa aumentar, buscando a continuidade do grupo pelas próximas gerações. Para isso, a ideia é ministrar aulas de música a partir de 2022 para quem tiver interesse, com divulgação nas escolas. “Leva um tempo para aperfeiçoar o aprendizado de um instrumento, mas é importante que o primeiro passo aconteça”, frisa ele, animado pela possibilidade de ver novos talentos no grupo.
