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Hanna é arte, Hanna é diva


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 18/07/2021 17:00
Atualizado 18/07/2021 17:08

Geral   ORGULHO

Quem já conhecia o vera-cruzense Jackson Winck na infância, talvez possa atestar que o caminho artístico veio ao natural. Desde criança, crescido na localidade de Vila Progresso, ele estava envolvido em peças teatrais da escola, no coral da comunidade religiosa, no gosto pela escrita e na habilidade natural para o desenho. Hoje com 27 anos, DJ e micro-digital influencer, Jack carrega mais uma peculiaridade: faz tudo isso com sua identidade drag queen. 

Antes que alguém confunda com travesti ou transgênero, uma drag queen - que tem seu dia comemorativo nesta sexta-feira - nada mais é do que um homem vestido e produzido como mulher, geralmente de forma extravagante, com finalidade artística.

Foi assim que Jack deu vida à Hanna Harley. E dessa forma, a profissão de DJ, iniciada em 2015, ganhou um boom. Porque mais legal do que ter o Jack tocando em uma festa, é ver Hanna, do alto de seu salto, com seu cabelo loiro esvoaçante e olhos azuis, a la Pabllo Vittar, que por sinal é uma das inspirações do vera-cruzense, que já foi estudante de Jornalismo e trabalhou no setor de criação e arte do jornal Arauto.

Foi ao assistir a série RuPaul’s Drag Race, um realitty para escolher a melhor drag queen dos EUA, que Jack se voltou a este universo. Mas em 2017, quando uma amiga ligada à área de eventos o convidou para ser DJ drag, montado com toda a produção que se pede, foi que a carreira começou. Do primeiro cachê, de R$ 100, ele traz boas lembranças de um mundo que se abriu. Veio a segunda, a terceira festa,veio programa de TV, participação em eventos de várias cidades, até que naturalmente, ainda mais em tempos de pandemia, sem eventos, Jack, ou melhor, Hanna, se tornou micro-digital influencer, com publicidade especialmente de cosméticos e produtos de beleza. Ser Hanna Harley - nome inspirado em Hanna Barbera, criador de desenhos como Os Flintstones, Os Jetsons, Corrida Maluca, Scooby-Doo e Smurfs; e Hannah Montana, personagem que precisava se disfarçar para ser artista; com a mistura de Harley, da moto Harley-Davidson e da vilã Arlequina, cujo nome original é Harleen - virou sua profissão.

Aprendeu pela internet a se maquiar, ganhou muitos cosméticos em suas divulgações e adquiriu acessórios; estudou marketing digital, realizou curso de escrita criativa - porque o antigo sonho de escrever um livro permanece vivo, só que agora assinado por Hanna - e ganhou visibilidade. Na família, explica Jackson, já não causa mais estranheza, justamente porque figuras de drag queens e transformistas estão popularizadas desde a época de Rogéria e Isabelita dos Patins. E ainda que o universo LGBTQIA+ tenha glamourizado a produção da drag queen, Jackson explica que nada mais é do que uma fantasia de um homem vestido de mulher, como é na origem dos teatros em que não havia atrizes na interpretação, mas sim homens caracterizados como elas. “Posso ser muitas personagens. Assim como mulheres, crianças também podem ser. Não precisa estar num saltão, com brilhos, para se transformar numa drag queen”, opina.

Ser drag queen, para Jackson, é um ato político, de combate a toda forma de preconceito. “É um grito de liberdade. A Hanna é uma versão melhorada de mim mesmo”, resume ele, que demora cerca de quatro horas para se “montar”. 

Aceitação

O Jackson se define hoje com um resquício de síndrome de Peter Pan, com a dificuldade de crescer, mas talvez porque nunca deixou de sonhar. E ao sonhar, passou a expor quem é de verdade, tornando-se um adulto corajoso e convicto de suas escolhas. “Por mais que a cultura alemã seja conservadora, muita gente me abriu portas para ser o único drag queen da região. Não me importo mais com o preconceito, isso ficou na infância”, frisa, reafirmando que não precisa ir para grandes centros para ser quem é.

E para quem associa a carreira diretamente com a orientação sexual, Jackson também desmente. Por ser gay,  não quer dizer que não se aceita, pelo contrário. “Se eu quisesse ser mulher, já tinha feito a transformação. Sou homem, mas me identifico com o universo feminino. Ser drag nada mais é do que uma expressão artística”, sublinha.

E como artista que é, Hanna é luz, é alegria, é espontaneidade. É divertida, ácida, é cor. “A Hanna quer ser vista como diferente entre os iguais. É de diversidade que estamos falando e levanto bandeiras, seja pelo orgulho LGBTQIA+, pelo feminismo, pela causa animal ou qualquer outra forma de combater a violência e o desrespeito”, assinala. Hanna é amor à arte com liberdade, e ponto.


Fotos: Carolina Almeida/ Jornal Arauto
De Jack a Hanna, a transformação do vera-cruzense pela arte
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