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Sem shows, o trabalho agora é realizado em outros palcos


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 02/06/2021 06:51
Atualizado 02/06/2021 06:52

Geral   NOVA ROTINA

Considerada uma das áreas mais afetadas durante a pandemia, o setor de eventos têm enfrentado um desafio sem precedentes com a impossibilidade da realização de shows, eventos sociais e festas. Espalhados em todo o país, milhares de profissionais tinham na música a sua fonte de renda principal para sustento da família. Já para outros, o dom de transmitir emoção através do som era utilizado como uma renda extra importante no fim do mês. Indiretamente, o setor de eventos movimentava milhões de pessoas, dos mais diversos segmentos e áreas de atuação.

A sua paralisação causou a descontinuidade de renda não apenas dos músicos, mas também para aqueles profissionais que trabalhavam nos bastidores. No entanto, com a atual situação da pandemia, as festividades continuam em segundo plano, impossibilitadas de um retorno. Com isso, aqueles que dependiam da música precisaram encontrar uma alternativa para seguirem com suas vidas, mesmo que em uma profissão completamente diferente. Exemplos não faltam para demonstrar que, quando necessário, é possível se adaptar às adversidades. A reportagem foi em busca destes exemplos. Teve quem trocou a profissão de músico pela de mecânico, de agricultor, taxista ou até mesmo pelo trabalho em obras.

Assim, 1 ano e dois meses após serem encerrados os eventos no Rio Grande do Sul, o cenário é de incerteza e saudade para músicos e trabalhadores envolvidos na área. Em Vera Cruz, o som dos carros anunciando as festividades do fim de semana e os cartazes colados em postes ou paredes deram lugar às fiscalizações e denúncias por aglomerações. No entanto, para os integrantes da Banda Destinu’s, de Vera Cruz, assim que for possível retornar às atividades, a alegria e animação voltará a ser marca registrada nos salões da cidade e do interior.

Criada em 2013, a banda vera-cruzense se tornou conhecida pela regravação da música “Meu Mel”, ainda em 2013. Nos anos seguintes emplacou sucessos como “Se não era amor”, “Quarto solidão”, “Gente invejosa”, entre outros. Assim, as viagens pelos três estados da região sul do país se tornaram frequentes, fazendo com que investimentos em estrutura e equipe fossem possíveis. Até a paralisação dos shows, o grupo contava com sete músicos, sendo eles: Robson Luis (vocalista), Régis Zanatta (baterista e vocal), Volnei Silva (contra baixo e vocal), Samuel Isaias (gaiteiro e tecladista), Michel Jackisch (trompete e trombone), Maurício Bastos (guitarrista) e Jeferson Moeller (trompetista).

Mesmo sem os eventos, o grupo segue unido e fica na expectativa por um possível retorno. Enquanto isso não acontece, os integrantes buscam alternativas para que seja possível passar por esse difícil momento e posteriormente voltar a fazer o que gostam: trazer alegria e entretenimento para os fãs.

Antes vocalista, Robson agora se dedica à agricultura e ao táxi

Com 22 anos de carreira, o cantor candelariense Robson Luis já tinha uma trajetória marcada por participações em outras bandas da região antes de chegar na Destinu’s. Segundo o cantor, a amizade e as viagens eram os principais motivos pelo qual a vida na estrada o deixava feliz. “Sempre gostei muito de viajar, conhecer novos lugares e fazer novos amigos. A maior realização de um músico é sentir a energia das pessoas nos eventos e no final receber um abraço dos fãs dizendo que estava muito bom”, relembra.

Conforme o músico, no início a expectativa era de que tudo voltasse ao normal em dois ou três meses, o que não se confirmou. Por isso, tendo em vista a diminuição de renda em razão da falta de shows, Robson aposta na agricultura e em um ponto de táxi, que repassa para um amigo cuidar quando está nos afazeres do campo. “Minha família sempre foi do interior. Acabei me criando no meio do campo, principalmente nas lavouras de fumo. E assim continuo até hoje, com a cultura do tabaco, tendo também um táxi aqui em Candelária, que me ajudou a segurar as pontas”, destaca o músico, que revela ser os prejuízos financeiros e a questão psicológica os principais impactos da pandemia na sua vida. “Além da perda de uma importante renda, ainda temos a saudade dos amigos, das pessoas nos recebendo, abraçando. Isso sim fez e faz muita falta”, ressalta o cantor.

Ajuda na mecânica da família

Natural de Sinimbu, o baterista Régis Zanatta, de 24 anos, teve como inspiração para entrar no meio musical a família, que era toda formada por músicos. Aos 11 anos, Zanatta já se apresentava em bailes e shows. Segundo o baterista, o momento está sendo complicado, pois nunca havia parado por tanto tempo. “Para nós foi um baque, pois vínhamos em uma sequência muito boa de shows e com toda certeza pensávamos que isso passaria logo. Eu tive que me organizar na questão financeira para passar por este período”, ressalta.

Sem os shows, a dedicação toda agora é na mecânica da família, onde o jovem trabalha na função de mecânico automotivo. “A alternativa que tive foi me dedicar à oficina mecânica. Então, me esforcei muito mais, pois a rotina do trabalho é bastante puxada”, destaca Zanatta, que revela estar ansioso por uma volta aos palcos da região. “A expectativa, com toda certeza, é de que os shows voltem o quanto antes, pois a saudade está grande”, frisa o músico.

Ciente das dificuldades que outros colegas estão enfrentando, o baterista agradece a possibilidade de ter um trabalho que lhe ajude financeiramente a se manter. “Graças a Deus eu consegui me manter nesta pandemia por ter a chance de trabalhar na mecânica. Espero que tudo isso passe e as coisam possam voltar à normalidade”, conclui.

O dia a dia na construção civil

Trompetista e trombonista, Michel Adriano Jackisch, de 29 anos, afirma que já trabalha com a música há 12 anos. Morando em Vera Cruz, Jackisch se dividia entre os eventos com a banda e os serviços na construção civil. “A nossa rotina de bailes era quase todos os finais de semana. Já começava na sexta-feira, sem contar os ensaios que fazíamos algumas vezes durante a semana. Além desse meu envolvimento na banda, também tinha um trabalho na área da construção civil”, destaca Jackisch.

Nas obras, diferente da rotina  dos shows, o trabalho continua a todo vapor, uma forma de, ao menos, garantir uma boa renda, que anteriormente era incrementada pelas apresentações musicais. “A rotina  mudou bastante, porque a gente era acostumado a cada fim de semana estar na estrada. A renda que tenho hoje é boa, mas o salário que a gente recebia da banda faz falta. No entanto, a pandemia serviu para mostrar que estar em casa com a família também é muito bom”, afirma o músico.

Agora, o que resta é a saudade dos eventos, mas Jackisch tem expectativa de que em breve voltem a acontecer. “Acredito que a volta dos eventos ainda possa ocorrer neste 2021. Assim, a gente poderia voltar a viajar e trabalhar novamente levando alegria para os lugares em que fazíamos os shows”, finaliza.

Uma nova realidade

Segundo o proprietário da Banda Destinu’s, Rudimar Furtado, a proibição da realização de eventos afetou consideravelmente a  possibilidade de investimentos na estrutura da banda. No entanto, Furtado salienta que todos os integrantes do grupo estão trabalhando em outros empregos, um fator positivo em meio a tantas dificuldades. “A situação está muito ruim para o nosso setor, mas pelo menos não dependemos só da banda. Após todo este tempo sem as festividades, quando os shows voltarem, vamos ter muita coisa para arrumar nos equipamentos pelo tempo de inatividade”, destaca Furtado, que ainda acumula as funções de operador de áudio e motorista da banda. Segundo ele, a Destinu’s realizava em média seis shows por mês em diferentes regiões do Estado.  


Foto: Divulgação
Banda realizava shows nos três estados do sul do país e estava em plena ascensão antes da paralisação
Banda realizava shows nos três estados do sul do país e estava em plena ascensão antes da paralisação

Foto: Arquivo Pessoal
Trabalho no tabaco é alternativa para Robson
Trabalho no tabaco é alternativa para Robson

Foto: Arquivo Pessoal
Régis agora trabalha com mecânica automotiva em Sinimbu
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Foto: Arquivo Pessoal
Michel tem se dedicado exclusivamente à construção civil
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