“Vocês preferem aulas on-line ou na escola?” A pergunta feita pela professora foi respondida em coro e em bom som pela turma do 1º e 2º anos do Ensino Fundamental da Escola Estadual Tenente José Jerônimo Mesquita, de Vera Cruz: na escola. Contentes, eles recém tinham recebido as boas-vindas às aulas presenciais e já estavam caracterizados para a disciplina de educação física no pátio.
Se antes as atividades perpassavam por uma tela de computador, ontem estudantes e professor, juntos, praticavam os exercícios. Da mesma forma, no lado interno do educandário, as classes estavam ocupadas e as salas de aula preenchidas como tem que ser.
A professora de anos iniciais Francieli Uberti salienta que o retorno às salas de aula também requer um preparo psicológico, uma vez que a readaptação ao ensino presencial está aliada aos cuidados essenciais no combate ao coronavírus. “Neste momento, é imprescindível que nos coloquemos no lugar do outro. Durante as aulas, enfatizo aos meus alunos a importância de usar a máscara corretamente, de evitar contato físico e de usar álcool em gel, pois além de estarmos cuidando de nós, estaremos preservando a saúde do colega também”, destaca.
Francieli frisa que o retorno gradual deve ser feito com tranquilidade, respeitando o período de adaptação dos alunos. “Os estudantes permaneceram muito tempo em casa, ao lado dos familiares. Portanto, é natural que o retorno ao ambiente escolar cause certa estranheza para eles, como saudade dos pais ou saudade de casa. E para lidar com essa situação, é preciso estarmos preparados também, saber ouvir, conversar e evidenciar a importância dele estar dentro da sala de aula ao lado dos colegas”, explica.
Quanto à metodologia, a professora destaca que as aulas continuarão a usufruir da tecnologia. Primeiro, porque têm pais que optaram por manter seus filhos em casa com ensino remoto e, segundo, que a aprendizagem via computador ou celular auxiliaram neste período e, por isso, as sistemáticas que deram certo continuarão a ser executadas. “Readequamos e transformamos o ensino. O que foi bom e útil com certeza continuará”, reforça.
Selma Oliveira, de 59 anos, é merendeira do educandário há nove anos. Desde o início da pandemia, viu a atividade mudar. Durante o período, o trabalho foi escalonado. A vinda à escola era apenas uma vez por semana. “Foi muito difícil vir trabalhar e não escutar as crianças e não fazer o lanche para o recreio”, conta. Nos demais dias da semana, a merendeira atendia aos afazeres de casa.
Porém, após o vai e vem das aulas, para a profissional, esta segunda-feira amanheceu diferente. “Estou muito feliz com o retorno dos alunos e poder ver o refeitório ocupado, mesmo que em número menor. O trabalho passou por mudanças, mas o amor à minha profissão continua o mesmo”, salienta Selma.
Nesta segunda-feira (3), retornaram os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental das escolas estaduais. Nesta quinta-feira (6), voltam os estudantes do 6º ao 9º ano e na próxima segunda-feira (10), a recomendação é que retorne o ensino médio, curso normal e profissionalizante. Nas escolas municipais, o retorno acontece gradualmente nesta semana, com o sistema híbrido, dividido em grupos.
Ainda na manhã de ontem, um encontro de conciliação foi mediado pela juíza Ana Oppitz, coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc), de Porto Alegre, para decidir se suspende ou mantém as aulas presenciais no Rio Grande do Sul.
Após mais de quatro horas de reunião, uma nova audiência foi marcada para amanhã, dia 5 de maio, para apresentar os argumentos favoráveis e contrários. O intuito da audiência é solucionar o impasse sobre a volta às aulas no Estado.
As escolas voltaram às atividades presenciais após a publicação do Decreto Estadual 55.856/2021, que alterou as regras do modelo de Distanciamento Controlado, alterando a bandeira preta para a vermelha. Com isso, todos os níveis da educação básica, ensino superior e cursos profissionalizantes foram autorizados a retornar ao modo presencial.