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Especial Dia do Trabalho: entre agulhas e tecidos, ela também costura histórias


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 01/05/2021 10:00

Geral   VESTINDO SONHOS

Um corte aqui. Uma costura ali. Medir. Colocar alfinetes. Bordar. Voilà. O universo da costura se assemelha a uma sinfonia. Haja vista o roteiro afeiçoado pelos apetrechos: fita métrica, agulha, régua, tesoura, lápis, que juntos transformam-se em vestuário, tal como a junção de todos os sons para compor uma melodia. É arte.

Um dom maestrado com perfeição pela costureira Lúcia Konzen, da Arte Singela, que hoje completa 70 anos de vida. Mas desses, 45 anos a vera-cruzense se dedica à profissão. Talento provindo de criança. Na época, sonhava em ser artista. Desenhar e pintar eram suas paixões. “Sempre fui muito criativa e idealista, mas também perfeccionista em tudo que me propunha a fazer, desde pequena”, conta Lúcia. 
As primeiras modelos eram nada mais nada menos que as suas bonecas. As primeiras costuras que fizera eram roupinhas para elas. A brincadeira de criança era enfeitar os brinquedos com os trajes criados por ela mesma. Naturalmente, Lúcia foi tomando gosto pelo trabalho e aperfeiçoando o hábito de coser. 

Por volta dos 25 anos, começou a costurar profissionalmente com a abertura de sua loja, em Vera Cruz. Tornou-se uma fada madrinha, como era carinhosamente chamada por algumas clientes. “Comecei a costurar oficialmente roupas casuais, como camisas, calças, saias. Mais tarde, parti para a linha festa e noiva e não parei mais”, destaca. No currículo, vestidos de prenda, confirmação, fantasias para Carnaval e até pelo universo do artesanato Lúcia transitou. 

Entre tantas memórias fruto da longa carreira, a costureira recorda-se de uma situação para lá de inusitada. “Estava produzindo os vestidos de prenda para o CTG Candeeiro da Amizade, um dia antes de iniciar os bordados e costurar as rendas, queimei a palma da mão na chapa do fogão a lenha. Com ajuda de várias outras mãos de integrantes do CTG, consegui entregar as vestimentas, mas foi um sufoco”, relembra. 

Também rememora quando finalizou o vestido de uma noiva que morava em Dubai, em pouco mais de uma semana – o processo de acabamento demora bem mais. Desde aquela época, Lúcia cria e executa os modelos conforme o gosto das clientes. “Nunca fiz aulas específicas de costura e estilismo. Crio os moldes de forma espontânea e natural. Sempre tive facilidade de entender o que a cliente espera e sonha”, ressalta.

Entre um bordado e outro, Lúcia também costurou com suas próprias mãos histórias. Da mesma maneira que fez parte de tantas outras. A começar pelo sonho da noiva de subir ao altar com véu e grinalda. Da menina ansiosa pela festa de debutante. Da celebração de colação de grau. Até do sonho de tantas meninas em se tornarem verdadeiras majestades. “Fizemos inúmeros modelos para soberanas dos municípios e elaboramos diversos trajes, um mais bonito do que o outro. Com toda certeza criar e confeccionar vestidos para soberanas foi um ponto alto na minha carreira”, realça. 

A costureira lembra com carinho de cada cliente que passou por ela ao longo dos 45 anos. “Elas são únicas e ocupam, cada uma, um espaço especial em meu coração”, frisa. A compra dos tecidos era totalmente descontraída. Por vezes, Lúcia e a noiva viajavam juntas à procura do pano perfeito. “Faço parte de momentos tão desejados, como casamento, formatura, 15 anos, e elaboro a roupa que será companhia por toda a noite”, ressalta.

Lúcia Konzen construiu uma carreira sólida e tornou-se figura importante em Vera Cruz. Não foram poucos os elogios oriundos da comunidade a respeito de suas belíssimas produções. Sem mencionar os vários prêmios e troféus recebidos pelo destacado trabalho. A profissão é uma paixão. “Eu não atendo somente as pessoas, atendo aos seus pedidos para que eu possa realizar sonhos e ultrapassar suas expectativas”, salienta. Para a vera-cruzense, a profissão é compensatória. “Quem costura se realiza profissionalmente e emocionalmente. Minha maior alegria é ver alguém usando uma obra minha”, reforça, orgulhosa. 

SONHO DE MÃE E FILHA

Lúcia trabalhou sozinha por muitos anos, até que a filha Francine, artista nata, frisa a mãe, cresceu e, não rara as vezes, serviu de inspiração e de modelo para as composições. Francine faleceu em janeiro de 2020, aos 32 anos. Apesar da partida precoce, mãe e filha realizaram juntas o sonho da repaginada e modernização da loja da família. “Era um sonho de criança da minha filha”, frisa. Até meados de 2018, o empreendimento ficava na casa antiga, onde Lúcia também residia. Porém, o espaço reduzido não comportava mais a demanda e então começaram a planejar um espaço mais amplo, à altura da vocação da costureira. A nova loja foi inaugura em 23 de julho de 2019. “O ambiente que tenho agora foi sonhado e executado em parceria com a minha filha que, sem dúvida, lá do céu continua me incentivando nesta caminhada”, diz Lúcia, emocionada. 

Comparando-se ao início da carreira, em 1976, Lúcia reinventou-se. Hoje as máquinas de costura são eletrônicas. Os modelitos também se transformaram. Mais renda. Pedrarias. Seda. Alguns tecidos bordados são costurados na máquina. Mas em sua grande maioria, continuam a levar o toque especial que somente as mãos talentosas sabem fazer. 


Foto: Caroline Moreira/Jornal Arauto
Entre inúmeros vestidos, Lúcia salienta que cada um é especial para ela
Entre inúmeros vestidos, Lúcia salienta que cada um é especial para ela

Foto: Caroline Moreira/Jornal Arauto
Em sua grande maioria, os vestidos são bordados à mão, dando um toque especial ao traje
Em sua grande maioria, os vestidos são bordados à mão, dando um toque especial ao traje