Após período de seca e com a chegada da pandemia, o cenário descrito pelos produtores da agricultura familiar no início de 2020 era de queda na produtividade e de incertezas sobre as vendas. Nos meses que seguiram, o setor viveu altos e baixos. Se por um lado um novo público, atraído pela alimentação saudável e pelo preparo das refeições em casa, passou a ir à feira rural com mais frequência, de outro, a movimentação dos idosos, maioria na clientela, reduziu em função do risco de contágio para o coronavírus.
Igualmente, enquanto os agricultores vera-cruzenses e santa-cruzenses viram a demanda de produtos destinada a programas como de alimentação escolar (PNAE) e de aquisição de alimentos (PAA) reduzir drasticamente, também se reinventaram, apostando nas vendas pelo WhatsApp e tele-entrega. Passado um ano, eles já vivem perspectiva melhor, como em relação à produtividade, porém ainda com desafios.
Com a maior incidência de chuva – mesmo que nas últimas semanas a falta dela venha preocupando -, Rosimeri Jaeger e outros 100 associados da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Vera Cruz (Coopervec) têm colhido melhores resultados nas hortas e ofertado maior variedade em produtos. Contudo, ao passo que a produção se mantém constante, a comercialização nas feiras ainda cresce em ritmo lento. “No início da pandemia as vendas caíram, porque as pessoas tinham maior receio em circular. Agora, mesmo com a melhora na movimentação, temos o desafio de vender toda a produção colhida - para evitar estragos -, só que nas feiras não sai tudo. Aí, estamos mantendo também as vendas com tele-entrega”, conta Rosimeri, que junto ao marido e os sogros cultiva banana, abacate, mamão, feijão, batata-doce, aipim e mel na propriedade em Linha Andréas, Vera Cruz.
Apesar da produção de tabaco também ser fonte de renda para a família de Rosimeri, a situação financeira ficou mais complicada com a queda em mais de 70% na demanda de alimentos ofertados para o PNAE. “Antes a gente fornecia 100 quilos de banana por semana para a merenda escolar. Agora, mesmo com os kits de alimentação para os alunos, a demanda chega a 30 quilos no máximo por semana”, lamenta a agricultora. Assim como ela, outros 39 associados da Coopervec foram prejudicados pela queda na demanda, além de mais de 100 agricultores de Santa Cruz do Sul, que abastecem o programa através da Cooperativa Regional de Alimentos Santa Cruz Ltda (Coopersanta).
Da mesma forma que o possível retorno da demanda na merenda escolar poderá incrementar a renda, as mais de 35 famílias da Coopervec, que abastecem o PAA, têm outro motivo para respirar mais aliviadas, já que o programa deve retornar em junho em Vera Cruz.
Quem também torce para a retomada das aulas presenciais são os produtores Enio e Lucilda Dummer, da localidade de Ferraz, que comercializam variedade em hortifrutigranjeiros, além de schimier, pão, massa caseira e bolacha desde 2001 na feira localizada em frente à Secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente. “Retomando as aulas, a gente vai ter maior movimentação de pais da EMEI Pingo de Gente [que fica ao lado da feira] por aqui. Facilita porque eles não precisam vir especialmente para a feira, o que normalmente eles não fazem, mas com as aulas, eles buscam os filhos e na passada vêm comprar com a gente”, explica Enio.
Segundo o produtor, ao longo dos 18 anos participando das feiras em Vera Cruz, nunca tinha passado por período tão desafiador. “Antes da pandemia, a gente conseguia prever a quantidade que iria vender na feira. Hoje, precisamos cuidar mais para não desperdiçar os alimentos e, a cada semana, repensar melhor o que traremos para vender”, arremata.