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Marcelo Boeck: o filho da casa que ganhou os gramados do mundo


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 25/04/2021 18:29
Atualizado 25/04/2021 18:29

Esportes   DIA DO GOLEIRO

Difícil é encontrar um menino que nunca sonhou em ser um jogador de futebol. No dia do goleiro, comemorado na próxima segunda-feira (26), o Jornal Arauto conversou com o goleiro vera-cruzense Marcelo Boeck. Com 36 anos, uma trajetória que iniciou no Clube Vera Cruz e chegou aos gramados da Champions League, hoje o guarda-redes atua no Fortaleza.

Como foi o começo da tua carreira?

Minha carreira começou no Clube Vera Cruz. Fala-se muito do Internacional, que me deu oportunidade de fazer o primeiro jogo como profissional, em 2005, na final de Gauchão, mas minha carreira começou no Clube. Meu pai sempre esteve envolvido na diretoria e na Escolinha. Foi no Clube e no quintal de casa, com meu vizinho ou sozinho chutando na parede, quebrando janelas de casa.

Sempre foi goleiro?

Sim. Sempre tive o gosto de cair no chão, me jogar. Em uma oportunidade, na Escolinha do Clube, tínhamos dois goleiros e só um zagueiro. Decidimos que eu jogaria na zaga, para ajudar. Era no meio do campeonato, fazíamos muitos triangulares. Jogávamos sábado e domingo. No sábado perdemos um jogo. No domingo voltei a ser goleiro, ganhamos, dali nunca mais saí e não joguei em outra posição.

Como é a vida de goleiro profissional?

Há 18 anos como profissional, no plantel principal, posso dizer que mudou muito. É uma vida regrada, aprendi isso melhor depois dos 30 anos. Comecei a cuidar mais do meu corpo e da alimentação. Hoje posso dizer que faço menos, mas com mais intensidade. A vida do profissional é muito visada. Tudo que eu faço está sendo cuidado e julgado. Tenho o privilégio de ser capitão nas equipes que passo, então sou mais visado ainda, por todas atitudes dentro e fora de campo. Preciso ser exemplo. Deus me deu de dom e preciso cuidar e ser grato a isso. Muita gente vê só os 90 minutos de jogo. Digo que isso é o show, o espetáculo, é muito bom chegar ali, mas no dia a dia, a pressão, a responsabilidade, as desilusões, as vitórias, isso poucas pessoas veem.

A passagem pela Chapecoense. O que pode falar do que viu e viveu lá?

A Chapecoense é algo que vai ficar marcado para sempre na vida de todo mundo. Voltei para o Brasil para poder viver um pouco mais do futebol daqui, pois saí muito cedo. Foi uma lição de vida na qual eu e minha família tivemos uma segunda chance de viver melhor e enxergar a vida de outra maneira. Não que não déssemos valor, mas queira ou não queria é um puxão de orelha. É uma ferida que vai estar sempre ali. Como tudo na vida, é um aprendizado. Pude estar mais perto da minha cidade. Passava no máximo um mês em Vera Cruz, nesse período tive a oportunidade de estar mais perto dos meus.

A passagem por Portugal e por que voltar para o Brasil?

Portugal foi onde eu amadureci. Como homem, como profissional e como pai. Foi lá o início do casamento, o nascimento dos meus filhos. Fui o primeiro goleiro brasileiro da história de Portugal. No meu segundo ano lá, me tornei capitão. Pude jogar com quem eu só via no videogame. Foram nove anos e por mais que tenha sido bom, nada é como a nossa casa, como nosso país. Sinto muita falta de Vera Cruz e dos meus amigos. Meu filho sentia muita falta da família. Em um recesso de Natal ele pediu para voltar ao Brasil. Discutimos a possibilidade e em seguida veio a proposta da Chapecoense. Portugal sempre vai ser um lugar especial. No mundo do futebol, não podemos dizer nunca, mas não cogito mais sair do Brasil.

Tu imaginastes algum dia chegar onde chegou?

Nem nos meus melhores sonhos eu viveria o que eu vivi, veria o que eu vi, conquistaria o que conquistei. Deus me deu a oportunidade de jogar com grandes jogadores, em grandes clubes. Eu joguei contra o Klose, Luca Toni, Del Piero, Pirlo e Buffon, fui convocado para a seleção sub-20. Isso vai me marcar eternamente. O menino de Vera Cruz, onde tudo era muito limitado, conseguiu realizar todos os sonhos de um atleta profissional. Ser campeão do Mundo, da Libertadores e da Recopa pelo Inter. Ir para um clube que eu nunca imaginei, que é o Fortaleza, onde me tornei um dos maiores ídolos da história. Ajudei a tirar o clube de uma Série C e, depois de oito anos, ser protagonista e viver uma Série A e Sul-Americana. Se encerasse minha carreira hoje e pudesse fazer tudo de novo, eu faria da mesma maneira. Daqui a alguns anos vou olhar pra trás e dizer: caramba eu pude fazer aquilo que eu jamais imaginava.

Uma mensagem para aqueles que se inspiram em ti.

Nunca limitem os sonhos. Nunca deixem que ninguém fale que não pode. Nunca olhe pra você e fale que não pode. Sempre creia que Deus tem o melhor para você e temos tudo para correr atrás. Ser goleiro é um dom. Deus coloca dentro de nós esse dom. Vai doer muitas vezes, no corpo e na alma, mas depois que você consegue alcançar e ter sucesso, não tem dinheiro que pague. Se eu consegui, qualquer um consegue. Me orgulho de ser de Vera Cruz e pude levar o nome da cidade para o mundo.  Creio que tem mais meninos e meninas que podem levar o nome da nossa cidade para longe. Feliz dia do goleiro para todos que têm isso como uma paixão. Nunca foi sorte, sempre foi Deus. Ele tem um plano para cada um de nós e não podemos limitar o nosso sonho.


Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
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