Esforço. Talvez essa tenha sido a ação mais constante das secretarias municipais de educação desde a suspensão das aulas. Os municípios têm se esforçado diariamente para tentar minimizar as dificuldades encontradas pelos alunos da rede municipal de ensino em meio à pandemia.
Por conta do coronavírus, as aulas foram de presenciais para remotas e muitas famílias sentiram os efeitos, principalmente aquelas sem acesso à internet. No entanto, para que o cenário não seja ainda mais prejudicial aos estudantes, municípios adotaram a Busca Ativa, com o intuito de resgatar e manter o vínculo do aluno com o ambiente escolar. “A evasão escolar é algo que nos preocupa muito. Em nossa rede de ensino, na educação infantil, nos anos iniciais e finais o índice de evasão é muito baixo. Mas trabalhamos preventivamente sempre na tentativa do contato com alunos e famílias”, explica a secretária de educação de Vera Cruz, Micheli Rech.
Na Capital das Gincanas, conforme Micheli, desde o ano passado, através da Busca Ativa, o educandário faz contato com a família. Quando essa atividade se torna insuficiente, são acionados os órgãos da rede de apoio, como o Conselho Tutelar. “Em função da nossa realidade e pensando na equidade e no acesso igualitário a todos, hoje realizamos entrega física das atividades pedagógicas não presenciais aos que não tem acesso a elas de forma on-line. Ao mesmo tempo em que muitas famílias acessam as atividades pedagógicas de forma física, acontecem intervenções síncrona e assíncrona com os alunos”, ressalta a chefe da pasta.
Os professores são orientados a manterem contato com seus educandos de forma digital quando possível através de chamadas de vídeo, plataformas on-line de conversação, entre outras ferramentas. “Ainda temos os casos específicos em que, no dia da entrega física das atividades, esporadicamente o professor faz a explicação das atividades ao aluno e à família. Sempre mantendo os protocolos estabelecidos pelo Governo Estadual”, salienta.
Micheli enfatiza que o município não aderiu a nenhuma plataforma específica para as aulas remotas pela dificuldade de acesso da grande maioria dos alunos. Por isso, tem pensado em políticas públicas de acesso à internet. “Estamos trabalhando para aperfeiçoar as redes de internet de nossas escolas. Mas é preciso pensar além do espaço escolar, pois as ferramentas digitais farão parte de nossa prática diária, mesmo voltando às aulas presenciais”, frisa Micheli.
De acordo com a secretária de educação de Vale do Sol, Deisi Blasi, existe evasão de alunos no município. Porém, com o trabalho que está sendo realizado pela equipe da Secretaria, dos educandários e do Conselho Tutelar, o problema tem se apresentando em proporções menores. “A taxa é mínima na rede municipal de ensino”, destaca a chefe da pasta.
Por meio da Busca Ativa, que é feita em parceria com as conselheiras tutelares, são realizadas intervenções junto às escolas e famílias, a partir de diálogos e visitas domiciliares para evitar a evasão escolar. “Todos esses impasses são percebidos em menor ou maior grau. Depende muito das famílias e de onde residem. Em nosso município, por exemplo, nem todos tem acesso à internet e, consequentemente, às ferramentas on-line. Por isso, as atividades são impressas e entregues diretamente nas escolas”, explica.
Para minimizar as consequências causadas pela pandemia, os educandários disponibilizam atividades e material físico para retirada em dias e horários marcados para cada turma. “Mesmo que as aulas não estejam acontecendo de forma presencial, estamos no sistema remoto e quando um aluno não corresponde, na retirada e devolutiva das atividades, a escola inicia um trabalho de contato via telefone para reforçar a obrigação tanto do aluno quanto da família de cumprir com as atividades remotas. Em caso de não obter retorno da família, é comunicado ao Conselho Tutelar e à Orientação Escolar, que fazem a Busca Ativa destes alunos”, salienta Deisi sobre o processo e esforço em manter o aluno ativo.
Para ela, adotar medidas que evitem a evasão e o abandono escolar – principalmente nesta época – é fundamental. “A maioria das pessoas só tem consciência da importância dos estudos quando a vida adulta oferece oportunidades que exigem o mínimo de formação”, acentua a Secretária de Educação.
De acordo com a Equipe Multiprofissional de Santa Cruz do Sul, os educandários também têm se organizado para manter o vínculo com os alunos, adotando recursos e estratégias que proporcionem aprendizados mesmo à distância.
São realizados contatos telefônicos, disponibilização de material impresso e visitas domiciliares às famílias, quando as mesmas não mantêm contato. Quando as escolas esgotam todas as possibilidades de comunicação com o aluno e a sua família, os casos são encaminhados para a equipe composta por psicóloga, assistente social, psicopedagoga, supervisora da Educação Especial e orientadora educacional.
Além destas ações, o município também aderiu ao programa Busca Ativa, com o intuito de agilizar o processo de readesão do estudante ao ambiente escolar e evitar que o mesmo abandone a escola, principalmente neste período de pandemia.
Conforme a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), o isolamento social e as condições de vulnerabilidade socioeconômica de muitas famílias foram agravados com a pandemia. “Por essa razão, há a necessidade urgente de realizar a Busca Ativa dos alunos e estabelecemos parcerias com o serviço de rede de apoio para que todos sejam atendidos pelos serviços públicos e tenham todos os seus direitos garantidos, especialmente o direito à educação”, salienta o coordenador Luiz Ricardo Pinho de Moura.
Ao final do ano letivo de 2020, os alunos que não compareceram à escola e que não fizeram devolutivas foram colocados em Busca Ativa. Para minimizar a perda de vínculo dos alunos, a 6ª CRE criou um projeto implantado em todas as escolas de abrangência da coordenadoria: Ao Encontro.
O processo é identificar o aluno que perdeu vínculo, entrar em contato com a orientadora educacional para saber qual abordagem já foi realizada com ele e seus familiares. Após, é realizada novamente a Busca Ativa deste aluno para conversa (presencial ou virtual) com o propósito de conhecer sua realidade, suas justificativas para ausência e de forma conjunta com a escola e o serviço de rede local, auxiliar no seu retorno ao educandário.
Os professores devem comunicar à direção quais estudantes não retornaram às atividades propostas. A gestão da escola deve recorrer à Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente, no prazo máximo de 30 dias, quando o estudante tiver cinco registros NRA (não realizou a atividade). “Como resultado do trabalho realizado na Busca Ativa houve um baixo índice de alunos que estão sem vínculo com a escola ou não fazendo as devolutivas dos trabalhos”, salienta Moura.
Em Vera Cruz, dos 1.494 alunos da rede estadual, 19 estão em Busca Ativa. Em Vale do Sol, dos 633, quatro estão em Busca Ativa e em Santa Cruz do Sul, dos 8.688 estudantes, 94 estão em busca.