Com o distanciamento social na pandemia, os aparelhos eletrônicos tornaram-se indispensáveis na rotina das pessoas, principalmente em atividades como home office e ensino remoto. Ao mesmo tempo, seu uso excessivo e o período maior em frente às telas trazem à tona preocupações com a saúde, como por exemplo, a da visão. Para o oftalmologista Jaime Fracasso Junior é preciso haver equilíbrio. Se é inevitável fazer uso desses dispositivos diariamente, tão necessários para a educação em tempos atuais, também é preciso estimular estratégias para diminuir sintomas prejudiciais aos olhos, tais como fazer pausas após uso do computador, piscar com mais frequência e manter correção oftalmológica adequada.
Segundo o profissional, a exposição excessiva às telas e a diminuição das atividades ao ar livre podem provocar miopia em crianças – problema que deixa especialistas em alerta, pois estima-se que até 2050 atingirá metade da população mundial. “Essas questões são comentadas há alguns anos. Tem um artigo da revista Nature, publicado em 2015, que fala sobre o boom da miopia nos países do leste asiático. Eles perceberam que o aumento da miopia entre as crianças e adolescentes estava relacionado às poucas atividades ao ar livre e a grande exposição aos eletrônicos, estimulando o foco para perto e inibindo para longe. E a miopia é a falta de visão para longe, fazendo com que objetos próximos sejam vistos com clareza, mas os distantes não”, esclarece. Outro efeito positivo de se praticar atividades no ambiente externo de casa, conforme ele, ocorre devido ao contato com a luz solar, que estimula a dopamina dentro dos olhos e evita a miopia.
Para evitar problemas com a visão devido ao tempo excessivo em frente a computadores, celulares, tablets e televisores, o oftalmologista recomenda que crianças fiquem expostas às telas, em média, 30 minutos por turno. “Esse tempo é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que traz dicas também por faixas etárias. A Sociedade não recomenda essa exposição para crianças menores de dois anos. Já para dois a cinco anos orienta a uma hora por dia (30 minutos por turno), para seis a 10 anos, de uma a duas horas por dia, e para 11 a 18 anos, de duas a três horas por dia”, frisa.
Após a fase de crescimento do indivíduo – quando há maior risco para miopia –, o especialista afirma que se voltam as atenções para a fadiga ocular. “Quando focamos a visão para perto, o olho faz mais força. Dessa forma, no uso diário de computadores é preciso fazer pausas, seguindo a regra 20-20-20, ou seja, pausar por 20 segundos, olhando para 20 pés (o mais longe que conseguir) a cada 20 minutos - recomendo 30 minutos”, alerta Jaime, ao lembrar a necessidade de piscar com maior frequência, estimulando a hidratação dos olhos.
Assim como na visão, cuidados relacionados à ergonomia contribuem com a saúde física e mental – e de quebra para melhor produtividade nos estudos e trabalho em casa. Para promover um ambiente adequado, a fisioterapeuta Glaucia Mariele Kohls orienta a condutas como: regular o monitor do computador na altura dos olhos, bem como manter teclado à frente, ombros e quadris alinhados, punho em posição neutra, encosto adaptado à curvatura da coluna e mouse próximo ao teclado e no mesmo nível.
Para o consultor de vendas de uma loja de Vera Cruz, Marcos Vinícius Werner, essa necessidade fez com que o comércio de cadeiras de escritório e escrivaninhas crescesse, mesmo que de forma discreta. Segundo ele, a preferência é pelos produtos de menor valor, valorizando o conforto para as atividades, porém, sem grandes gastos em função da crise econômica.
“Mesmo para quem não tem uma cadeira de escritório, adaptar outra conforme a altura já é medida suficiente para melhorar a postura”, frisa Glaucia, ao citar também orientações para crianças. “Para elas, a adaptação geralmente é maior, como em relação à superfície na qual estudam. A atenção deve ser redobrada, pois como estão na fase de crescimento, as alterações podem ser mais graves. É interessante adquirir uma cadeira que seja mais fácil para adaptar à mesa e seguir as demais regras conforme citei para os adultos”, afirma. Para os pequenos, Glaucia alerta, ainda, a estudarem sentados. “Nada de deitar na cama, se atirar no sofá. Esses cuidados evitam posturas erradas, que causam desequilíbrio postural e resultam em desvios, como cifose, escoliose e lordose”, salienta.
Tanto para crianças como para adultos, a profissional lembra a necessidade de manter boa iluminação no ambiente de trabalho ou de estudos, de alongar braços, pescoço e pernas a cada duas horas, bem como de fazer uma caminhada de 15 minutos após o expediente, evitando, assim, dores e lesões por esforços repetitivos.