compartilhe >>

Com julgamento do Caso Kiss marcado para dezembro, pai de vítima relata alívio pela notícia


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 11/04/2021 07:30
Atualizado 11/04/2021 07:31

Geral   APÓS QUASE UMA DÉCADA

Quase uma década depois do incêndio de grandes proporções na Boate Kiss, em Santa Maria, que interrompeu a vida de 242 jovens, a maioria universitários, e deixou 636 feridos, 2021 parece trazer, enfim, um pouco de conforto a familiares e amigos das vítimas - que seguem na luta por justiça. O julgamento de Elissandro Callegaro Spohr, Mauro Londero Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, que respondem pela tragédia, ocorrida na noite de 27 de janeiro de 2013, foi marcado para 1º de dezembro, a partir das 9 horas, em Porto Alegre. 

Uma notícia muito esperada, conforme Nestor Raschen, que viu a vida e os planos do filho caçula, Matheus Rafael Raschen, se perderem após o incêndio. “Isso já deveria ter ocorrido no ano passado, mas todo esse processo foi retardado em função da pandemia. Nosso desejo é que de fato se consiga cumprir a data, mas ainda depende da evolução da pandemia e da vacinação. Isso porque esse é um júri que os pais, em sua grande maioria, vão querer acompanhar e como é preciso todo esse cuidado em função da contaminação pela Covid-19, ainda pode ser que se altere a data, mas esperamos que não”, afirma Nestor, que é diretor do Colégio Mauá. “Isso não vai trazer o Matheus de volta, a gente sabe, mas pelo menos fica a questão registrada de que houve negligência, faltou cuidado e isso precisa ser responsabilizado”, complementa. 

Dessa forma, ao ansiar pelo julgamento, Nestor e outros pais que há oito anos carregam a dor pela perda dos filhos, buscam um marco para a trajetória de luta, não só por justiça, mas também para que a tragédia sirva de exemplo. “Lutamos para que as pessoas tenham mais cuidado com a vida, para que possam sair e se divertir e, ao mesmo tempo, voltar para casa seguros, como todo pai e mãe esperam que aconteça. Lutamos também para que os protocolos de segurança sejam cumpridos, especialmente em lugares que recebem a fluência de grande público. Muitos cuidados já melhoraram, acho que já conseguimos salvar outras vidas pelos cuidados que houveram depois da tragédia. A nossa luta teve eco, sem dúvida”, aponta. 

“Ele foi um garoto fantástico”, diz pai

Na época em que a tragédia ocorreu, Matheus tinha 20 anos. Estudava Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e traçava planos de seguir na área de pesquisa de alimentos saudáveis, cursando também mestrado e doutorado.  Além disso, era um apaixonado pelo basquete, já tendo integrado a seleção gaúcha sub-18 da modalidade esportiva. “Ele tinha tudo já traçado, um projeto de vida, e nós vibrávamos a cada conquista dele”, recorda o pai, ao citar que volta e meia as lembranças dos momentos que passou ao lado de Matheus vêm à memória. “Ele foi um garoto fantástico, um menino extraordinário. Alguém que aos 20 anos tinha uma maturidade incrível, uma maneira de encarar a vida com alto astral. Era muito feliz e cheio de ideias. E ao longo de sua vida só fez o bem, inclusive conseguiu sair da boate e ajudar outras pessoas. E é esse exemplo de ser humano que ele foi que nos reconforta, porque ele fez o que deveria ser feito, o que ele sempre fez, ajudar os outros”, rememora o pai, emocionado.  

Assim como Matheus, outros 241 jovens, que tinham toda vida pela frente, tiveram seus sonhos interrompidos pela tragédia. “Os momentos pelos quais muitas famílias celebram hoje, nós fomos privados. De ver eles se formarem, se casarem, até de nos darem netos. Fui privado de um abraço no Dia dos Pais todos os anos. Então, a gente se apega aos bons momentos para lidar com a dor. Seja quando vejo jogos de basquete ou atletas bem-sucedidos, porque ele treinou na seleção brasileira com amigos que hoje estão na NBA, e essas coisas sempre nos lembram dele”, relata Nestor, em meio às lágrimas que traduzem a saudade do filho. 

No próximo dia 18 de abril, o jovem estaria completando 29 anos e, segundo o pai, ao longo deste período com certeza teria feito coisas maravilhosas. “A única alegria que de fato a gente tem é saber que ele viveu esses 20 anos plenamente. Viveu tudo o que queria e intensamente”, arremata.  

Veja como será o julgamento: Julgamento do caso Kiss é marcado para 1° de dezembro.


Foto: arquivo pessoal
Última foto que Nestor e Matheus tiraram juntos antes da tragédia, no Réveillon de 2012
Última foto que Nestor e Matheus tiraram juntos antes da tragédia, no Réveillon de 2012

Foto: arquivo pessoal
Matheus (ao centro, segurando o troféu) está entre o grupo de ex-alunos do Colégio Mauá que formavam o Mauá 6
Matheus (ao centro, segurando o troféu) está entre o grupo de ex-alunos do Colégio Mauá que formavam o Mauá 6