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Após um ano, como a Saúde nos municípios se ajustou à demanda da pandemia


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 07/04/2021 06:50
Atualizado 07/04/2021 12:36

Geral   ENFRENTAMENTO À COVID-19

Há cerca de um ano a pandemia do novo coronavírus mudou hábitos de toda população brasileira e mundial. Usar máscara e álcool em gel se tornou rotina e os abraços e o toque, em sinal de carinho, deram espaço aos encontros virtuais, bem como ao distanciamento social. 

Também, em 19 e 20 de março de 2020, os municípios de Santa Cruz do Sul e Vera Cruz decretaram, respectivamente, situação de calamidade pública em razão da pandemia. Alguns dias depois, em 5 de abril, o que até o momento se baseava em medidas de precaução, tornaram-se efetivamente ações de enfrentamento, quando o primeiro caso da Covid-19 foi confirmado na terra da Oktoberfest – colocando em alerta as cidades vizinhas. 

Desde então, diversas foram as adequações para lidar com a doença – até então pouco conhecida. Municípios ganharam Ambulatórios de Campanha, unidades básicas de Saúde e hospitais reorganizaram estruturas, assim como quadros de funcionários e fluxos de atendimento para acolher pacientes sintomáticos e positivados para a Covid-19. 
  
Dessa forma, a pedido do Nosso Jornal, as secretarias de Saúde e os hospitais de Vera Cruz e Santa Cruz do Sul fizeram o exercício de olhar para trás, neste um ano que passou, e refletir sobre o que se avançou em termos de estrutura física, fluxo de atendimentos e mobilização de pessoal para o enfrentamento da pandemia nestes municípios e na região 

VERA CRUZ

Com a iminência dos primeiros casos suspeitos e positivos da Covid-19, Vera Cruz deu início ao enfrentamento à pandemia em março de 2020 – na época, com a montagem do Ambulatório de Campanha. A estrutura entrou em funcionamento em 10 de junho, quando Vera Cruz contabilizava três casos confirmados de coronavírus e os índices da doença cresciam na região. 

Conforme a secretária de Saúde, Clair Tornquist, a estruturação do Ambulatório desafogou as unidades básicas de saúde e evitou a circulação de pacientes sintomáticos, centralizando o atendimento. Mais recentemente, o município aderiu às consultas com médico por chamada de vídeo, o TeleCovid, outra estratégia que veio a somar, evitando a circulação dos pacientes sintomáticos e diminuindo a demanda junto ao Ambulatório e ao Hospital Vera Cruz (HVC). 

Com essas e outras adequações – somadas às mudanças realizadas junto ao HVC –, Clair afirma que Vera Cruz se qualificou grandemente nos últimos meses, podendo dar conta da demanda acarretada pela pandemia. A Secretária complementa ao dizer que, atualmente, o município segue na busca constante pela aceleração do processo de vacinação, que depende de um alinhamento entre município, estado e união. 

HVC amplia leitos e reorganiza espaços

O HVC passou por diversas adequações para atender a demanda Covid. Entre as principais, a ampliação da disponibilidade de leitos clínicos. Conforme a coordenadora de Desenvolvimento Humano da instituição, Cintia Genehr, foram recebidos recursos específicos via emendas para estruturação interna envolvendo leitos Covid no ano passado, o que possibilitou o desenvolvimento de projeto arquitetônico, em parceria com o Município, ampliando de 36 para 50 leitos de internação. Desses, foram estruturados 10 leitos específicos de isolamento para tratamento desses pacientes. A ampliação, que ainda está em fase de conclusão, abre possibilidades para a casa de saúde ser referência clínica para outros municípios da região. Sendo assim, o HVC tem capacidade técnica para receber até oito pacientes clínicos (não Covid) de outros hospitais.

A casa de saúde também promoveu mudanças internas, conforme portarias e decretos, em menos de 48 horas – um desafio e tanto. Foi estruturada a sala de observação com três leitos e três poltronas para atendimento de pacientes Covid, Sala de Emergência com ventilador pulmonar, monitor multiparâmetros, rede de O2, 10 leitos de isolamento e duas salas de paramentação. No fluxo de atendimentos, o HVC passou a contar com entrada alternativa, específica para pacientes sintomáticos, e as visitas foram canceladas. Além disso, conforme Cintia, a equipe de trabalho – que se entregou ao desafio, muitas vezes, com jornadas de 12 horas seguidas - teve atenção especial, recebendo reforços e treinamentos. 

OXIGÊNIO 

Outro reforço importante ocorreu ainda em 2020, quando o HVC instalou um tanque de criogênio – que funciona em sistema de comodato e é pago mensalmente -, garantindo capacidade de estoque com custo menor. “O oxigênio produzido pelo tanque abastece diretamente todos os leitos que possuem tubulação de rede. Esta rede de O2 foi viabilizada através de projetos desenvolvidos pelo Hospital. Hoje 95% dos leitos da instituição tem tubulação própria de rede de O2, inclusive o Centro Cirúrgico e as salas de Emergência”, esclarece. Contudo, ainda há carência de cilindros tradicionais, os torpedos, utilizados pelos pacientes Covid quando precisam ir ao banheiro e para transporte em necessidade de exames. “Atualmente o HVC possui quatro torpedos móveis e está buscando adquirir mais quatro cilindros. Porém, o material está escasso no mercado, o que dificulta a compra”, pondera Cintia.

Como necessidade emergencial para aumentar a capacidade técnica de atendimento, o hospital ainda busca formas de adquirir alguns equipamentos, como ventiladores pulmonares e acessórios específicos, cilindros de O2, fluxômetros, umidificadores, além de recursos específicos para aquisição de medicamentos, materiais, insumos de lavanderia e para contratos emergenciais de equipe técnica.

SANTA CRUZ DO SUL

A pandemia trouxe a necessidade constante de reavaliação das ações e programação de novas condutas na atenção à saúde em Santa Cruz, conforme membros da equipe da Secretaria de Saúde, como a diretora das Ações Especializadas, Caren Picasso, a diretora das Ações e Programas em Saúde, Anelise Aprato, o diretor administrativo financeiro, João Corrêa, e a responsável pela pasta, Daniela Dumke. 

O retorno do atendimento 24 horas junto ao Hospitalzinho desde o início do ano foi uma adequação importante, segundo a equipe, principalmente para desafogar o atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no Hospital Santa Cruz (HSC). 
Buscando evitar, ainda, as aglomerações nas unidades de saúde e agilizar o atendimento para pacientes com problemas respiratórios foram elencadas cinco unidades de Atenção Primária à Saúde (APS), para se transformarem em Unidades Sentinelas, e o Posto Central passou a abrir nos fins de semana, recebendo, assim, as demandas de atendimento com classificação verde/azul do HSC.

Assim como as estruturas, as equipes de trabalho também ganharam reforços para atender à demanda Covid, sendo contratados recursos humanos em nível de atenção básica e urgência/emergência, abrangendo Ambulatório de Campanha, HSC e Hospital de Monte Alverne. 
Somada reorganização constante das estruturas físicas, fluxo de atendimentos e das equipes de trabalho, a Secretaria frisa os esforços para o avanço da vacinação contra a Covid-19 da população como medida de enfrentamento à pandemia no município. 

Nos hospitais, luta para disponibilizar mais leitos

Com a pandemia e tudo o que ela trouxe, os hospitais buscaram se adequar e dar vazão à nova realidade que batia em suas portas. Com o crescimento dos atendimentos, somada ainda a demanda que vem de outros municípios da região – e até do Estado -, as casas de saúde de Santa Cruz tiveram um grande desafio: disponibilizar mais leitos. 

No Hospital Ana Nery (HAN) foram criados inicialmente cinco novos leitos UTI para atendimento de pacientes Covid e nove leitos para internações clínicas Covid. De acordo com o  diretor executivo da instituição, Gilberto Antonio Gobbi, com essa estrutura, ao longo de 2020 foi possível atender de forma tranquila a demanda, sem falta de leitos ou superlotação. Porém, o quadro se alterou de forma brusca nos primeiros meses de 2021, levando a casa de saúde a ampliar de nove para 15 os leitos clínicos, depois para 20, para 25 e, finalmente, para 32 - número que seria o limite, em virtude da capacidade dos profissionais de saúde necessários. Entretanto, houve o cancelamento das cirurgias eletivas e não urgentes, o que possibilitou o deslocamento da equipe para esses atendimentos, chegando-se, assim, aos 44 leitos clínicos atualmente disponíveis para o atendimento de pacientes Covid e aos 12 leitos de UTI.

No HSC, a adequação se repetiu. O número de leitos de UTI Adulto que era de 10 em fevereiro de 2020, aumentou durante a pandemia para 25 leitos, sendo 15 desses destinados para pacientes com Covid. Junto à UTI foram implantados, ainda, oito leitos de cuidados semi-intensivos, destinados a pacientes Covid. Esse crescimento também se deu nos leitos clínicos. Até fevereiro de 2020 a casa de saúde não contava com leitos clínicos específicos para pacientes Covid, já em março deste ano são 51 leitos clínicos destinados a esses pacientes. 

Também, para auxiliar na redução da demanda da instituição, demais casos de internação clínica foram reestruturados para o Hospital Monte Alverne e o Hospital Vera Cruz. 

Fluxos de atendimentos sofrem mudanças

Com a pandemia, além de maior disponibilidade de leitos, hospitais do município promoveram mudanças nos fluxos de atendimento. Para isso, equipes foram treinadas e as estruturas adequadas. 

O diretor executivo do HAN, Gilberto Antonio Gobbi, avalia que as mudanças modificaram temporariamente a característica de hospital aberto à comunidade. “Houve alterações em protocolos e rotinas hospitalares, criamos acessos exclusivos e restritos, suspendemos visitas, cancelamos cirurgias, quase que nos isolamos para atender adequadamente nossos pacientes e manter a segurança de todos”, explica. 

Da mesma forma fez o HSC, restringindo acessos à casa de saúde, direcionando espaços específicos de atendimento a pacientes sintomáticos gripais ou com síndromes respiratórias, cancelando cirurgias eletivas, suspendendo visitas e treinando os profissionais que atuam na instituição.  

Com as estruturas físicas e o quadro de funcionários reorganizados, foi necessária também a busca por equipamentos que pudessem atender ao novo quadro vivenciado nas instituições. “Precisávamos ter um número maior de respiradores, monitores, leitos de UTI e uma infinidade de outros itens. Solicitamos auxílio à comunidade, que nos respondeu prontamente. Pessoas, empresas e entidades nos doaram equipamentos e insumos ou nos repassaram valores que foram revertidos para o mesmo fim. Igualmente, o Governo do Estado nos guarneceu com itens fundamentais, como respiradores”, frisa Gobbi.  

Para o diretor executivo, o HAN conseguiu adequar a estrutura ao longo de 2020 para o atendimento de pacientes Covid, mesmo que de maneira célere. Porém, cita o aumento brutal no volume de atendimentos em 2021, que fez a casa de saúde – e outras da região - ultrapassar em mais de 500% a capacidade instalada para Covid-19, obrigando a novos planejamentos, adequações e buscas de apoio. “Diante desse quadro, montamos a melhor estrutura possível, mas também precisamos ressaltar que fomos (todos os hospitais) sumariamente ‘atropelados’ pela voracidade e disseminação da pandemia, quase que levando nossa região ao colapso”, afirma. 
O diretor geral do Hospital Santa Cruz, Vilmar Thomé, salienta também que a adequação das estruturas físicas, quadro de funcionários, bem como de equipamentos se mantém constante para atender a demanda imposta pela pandemia, se mostrando um dos maiores desafios, a montagem das equipes que atuam especialmente na linha de frente em geral.


Foto: Arquivo Jornal Arauto
Entre as principais alternativas, municípios estruturaram ambulatórios de campanha
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