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Santa Cruz já teve oito estupros de vulneráveis em 2021 e mais de 100 casos de violência doméstica por mês


Publicado 30/03/2021 19:36
Atualizado 30/03/2021 19:36

Polícia   DADOS QUE ENTRISTECEM

Os números da violência doméstica e infantil em Santa Cruz do Sul seguem um padrão com o passar dos anos. Entretanto, embora não se perceba um aumento, a não redução dos indicadores também preocupa a polícia. Apenas nestes três primeiros meses de 2021, oito estupros foram contabilizados no município, de acordo com dados da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Além disso, mais de 100 situações de violência doméstica foram registradas por mês desde o início do ano, mobilizando tanto Polícia Civil quanto Brigada Militar. 

Conforme a delegada Lisandra de Castro Carvalho, que também responde pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), os crimes costumam ser intensificados nos meses de verão, devido ao calor e a consequente ingestão de bebidas alcoólicas. Em janeiro e fevereiro de 2021, foram registrados 107 e 141 ocorrências de violência doméstica, respectivamente. A maioria das vítimas, segundo a delegada, são da Zona Sul do município. 

De acordo com Lisandra, os números sempre são muito altos. Em 2020, a Polícia Civil encerrou o ano com 1.335 casos. O número foi ainda maior em 2019, com 1.468 situações, além das 1.387 de 2018 e das 1.506 de 2017. "Nós nunca temos uma redução de 50% ou algo nesse sentido, que pudesse ter um grande significado como diminuição real da violência. Além disso, há todas as outras violências que não chegam até nós, porque não são registradas e nem contabilizadas", explica.

Somente no atendimento da Brigada Militar, de acordo com o capitão Rafael Menezes, coordenador da Patrulha Maria da Penha, foram 167 novas vitimas cadastradas em 2021, com 114 visitas domiciliares. Neste trabalho ostensivo-preventivo, a BM fiscaliza o cumprimento de medidas protetivas de urgência oriundas do Poder Judiciário. No ano passado, foram 441 vitimas cadastradas e 784 visitas realizadas.

Assim como as vítimas se sentem confortáveis ao chegarem na Delegacia da Mulher e se depararem com a delegada Lisandra, a formação da equipe da Patrulha Maria da Penha também é pensada neste sentido. "Vemos a necessidade de uma policial feminina na Patrulha para o melhor acolhimento das vítimas, que, na sua maioria, estão com medo e veem na figura masculina uma ameaça ou uma lembrança ruim. Ao encontrar uma policial feminina, a vitima se sente mais segura e confortável para a conversa", destaca o comandante.

Interligados por uma rede de proteção, com vários órgãos e entidades, Polícia Civil e Brigada Militar trabalham juntos na troca de informações e encaminhamentos. Com vítimas da violência doméstica que variam de 6 a 87 anos, a BM reforça que os atendimentos ocorrem tanto em caso de emergência, mas também de pacificação de conflitos, de orientações a mulher vítima quanto a seus direitos e à rede assistencial existente, assim como na realização de campanhas para arrecadação de materiais de higiene, vestuário e medicamentos para famílias necessitadas. 

Estupros: crime que choca e também revolta  

Numa rotina difícil de atendimentos, a delegada Lisandra destaca que os casos, principalmente nos crimes de estupro de vulneráveis, abalam o emocional de quem precisa resolver a situação. "Tivemos nas últimas semanas registros de estupros de vulneráveis que acabam se confirmando pelo relato das vítimas, que nos trazem uma riqueza de detalhes. Sempre nos choca. Sempre nos comove. Sempre nos revolta enquanto seres humanos e nos faz dobrar a dedicação no trabalho enquanto policiais", conta. 

E na maioria das vezes, os estupros de vulneráveis - que podem ser contra menores de 14 anos ou pessoas que não conseguem manter resistência - ocorrem dentro do ambiente familiar ou por pessoas próximas, como parentes, padrastros ou vizinhos. Por isso, a delegada pede atenção especial aos pais, para que estimulem o diálogo com os filhos e tentem perceber aquilo que de errado pode estar acontecendo. 

Dos oito estupros de vulneráveis já registrados neste ano, nove menores de 14 anos foram vítimas dos crimes. "Estou há muitos anos na delegacia e ainda assim me choca. São relatos absurdos de abuso", diz. Em 2020, segundo dados fornecidos pela delegada, foram 26 registros de estupro de vulneráveis e 39 em 2019. 

Para tornar a situação menos complicada para as crianças, a delegacia conta com escuta especializada, em um trabalho de excelência de psicólogas que ajudam a acalmar as vítimas na chegada ao local, como também para a extração das informações - de maneira adequada - para o boletim de ocorrência. "É um trabalho muito bonito, de acolhimento, pois é preciso um olhar atento e constante para todos os casos", salienta.

Contatos para urgências:

  • Polícia Civil: 197
  • Brigada Militar: 190
  • Deam/DPCA: 3713-4340
  • Whats App da Deam/DPCA: 9 8600-1946
  • Whats App de denúncias da BM: 9 8413-0784
  • Escritório de Defesa dos Direitos da Mulher: 3715-9305

Foto: Arquivo/Jornal Arauto
Mais de 100 situações de violência doméstica foram registradas por mês desde o início do ano
Mais de 100 situações de violência doméstica foram registradas por mês desde o início do ano