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“O amor que eu sinto por ela jamais vai se apagar”, diz marido de jovem morta pela Covid-19


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 23/03/2021 20:00

Geral   LUTO

“Cuida dos meus filhos, da nossa casa e do meu pai.” As últimas palavras de Camila Winck de Campos foram ditas ao esposo Enio André de Oliveira na noite de quarta-feira, dia 17 de março. A conversa, entretanto, fora por videochamada. Fruto e consequência dilacerantes vindas com o surgimento da pandemia do coronavírus. Não pela tecnologia, que ampara os familiares nestes casos. Mas pela distância imposta tão drasticamente em função do contágio.

Ainda que o diálogo tenha sido intermediado pelos celulares, Camila e Enio estavam a poucos metros de distância. Ela em um leito clínico no segundo piso do Hospital Beneficente de Vale do Sol e ele no andar de baixo, em uma calçada próxima à janela, de onde conseguia observar a movimentação no quarto da esposa.

Prestes a ser intubada e encaminhada a um leito de UTI em Santa Maria, Camila deu adeus à sua vida na terra e partiu precocemente, aos 25 anos. Inconformados com a partida tão prematura da jovem, Enio conta que os médicos, por mais de uma hora e meia, tentaram a reanimação cardíaca. Enquanto ele, da rua, assistia a luta dos profissionais de saúde em salvar a vida da mulher que escolheu viver por muito tempo ao seu lado. Mas o procedimento não teve sucesso. “Não há palavras que definam quem ela era. Como mãe, esposa e amiga, fazia tudo por nós. A felicidade dela era enxergar a alegria nos outros”, realça Enio, emocionado.

Camila entrou para a estatística dos brasileiros que foram vítimas da Covid-19. No município vale-solense, a mais nova em idade. Na região, entre as pacientes mais jovens que faleceram em decorrência da doença.

ZELO PELA FAMÍLIA

A jovem deixou dois filhos, a Talita Gabriela, de 11 anos, e Wesley Gabriel, próximo de completar dois anos. Além de uma grande família. O pai, Ronaldo de Campos, comovido pela perda da filha, lembra-se dela com muito carinho. “Ela estava sempre preocupada comigo. Era uma filha muito carinhosa e atenciosa. Quando chegava do trabalho, ela vinha massagear as minhas costas para que eu conseguisse dormir bem. Ainda não consegui encontrar respostas para o que aconteceu”, salienta.

Assim como o pai, tias, sobrinhos, cunhados, primos, avó e sogra estão devastados com a morte da familiar tão querida por eles. “Ela nos deixa um grande legado. Viver intensamente, aproveitar a vida, amar e se doar pelo próximo”, frisa Enio. Camila também tinha três irmãos: Évelin, Samira e Guilherme. Camila e os dois últimos citados foram separados e cresceram sem qualquer contato.

O esposo conta que há 15 anos, ela conseguiu reencontrar Samira, com quem mantinha, desde então, uma relação próxima. E há pouco tempo a ajudou a encontrar o irmão nas redes sociais. A busca deu certo. Camila e Guilherme conversavam diariamente pelo Facebook. O sonho do encontro, no entanto, foi interrompido. “A maior alegria dela foi ter recuperado a relação com os irmãos. Ela estava radiante. Infelizmente não vai poder realizar um de seus grandes sonhos, que era conhecer o irmão pessoalmente”, conta Enio.

Camila não apresentava comorbidades. Era alegre, sorridente, parceira. Não tinha tempo ruim com ela. O esposo frisa que ela amava acampar na beira do rio e era apaixonada por flores. Na sexta-feira, dia 19, ele fez questão de comprar algumas mudas e plantou em canteiros no pátio da casa, em Faxinal de Dentro, interior de Vale do Sol. “Cumpri uma de suas vontades, que era decorar o quintal com flores. Ela não está mais de corpo presente para ver, mas tenho certeza que, de onde está, ela está muito feliz”, diz Enio.

O casal estava junto há 10 anos. Enio recorda com carinho o primeiro beijo. “Foi no dia 6 de dezembro, um dia depois do meu aniversário. Foi o meu melhor presente”, destaca. E lembra também, tristemente, do último. “No sábado, dia 13 de março, nós demos o último beijo, foi quando a levei para o hospital para que fosse internada, pois já estava com muita falta de ar”, ressalta.

Foram apenas quatro dias de internação. Mesmo com um quadro clínico grave, Camila não perdeu a fé e a esperança. “Não podemos subestimar a doença. Ela é sorrateira. Vem e quando menos esperamos, mata quem amamos. Não desejo para ninguém o que estamos passando, não poder velar e dar uma despedida que ela merecia é muito triste. Só quem perde um familiar assim, consegue entender”, diz o esposo.

Agora, unida, a família busca encontrar forças nos filhos de Camila – que se tornou onipresente, está em cada canto, em todos os lugares e em seus corações –, nas brincadeiras do pequeno Wesley e no sorriso de Talita, que sonha em ser confeiteira. “O amor que eu sinto por ela jamais vai se apagar”, frisa Enio.

SITUAÇÃO NA CIDADE

Conforme o último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Vale do Sol, o município totaliza 10 óbitos e 388 casos confirmados. Desses, 147 estão em isolamento domiciliar com o vírus ativo. Cinco pessoas estão internadas e 226 estão recuperadas.


Foto: Caroline Moreira/Jornal Arauto
Esposo e filhos de Camila vivem em uma residência em Faxinal de Dentro
Esposo e filhos de Camila vivem em uma residência em Faxinal de Dentro

Foto: Caroline Moreira/Jornal Arauto
Familiares estão devastados com a partida tão precoce de Camila, aos 25 anos
Familiares estão devastados com a partida tão precoce de Camila, aos 25 anos