O trabalho incansável do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) já podia ser percebido antes mesmo da pandemia. Entretanto, com a chegada do novo coronavírus e com o crescimento do número de casos e internações nos últimos meses, a demanda aumentou consideravelmente. Junto com a intensificação dos atendimentos, a duplicação dos desafios físicos e mentais de uma equipe que precisa estar sempre preparada para o pior.
Em Santa Cruz do Sul, a demanda do serviço sempre foi intensa, mas nos últimos três meses ela é ainda maior. Conforme o enfermeiro socorrista Jean de Fraga Savegnago, especialista em Urgência, Emergência e Trauma, a pandemia da Covid-19 veio a se somar com as outras patologias atendidas, intensificando em muito a carga de trabalho. "Apesar do Samu ser popularmente ligado à imagem do trauma, se engana quem pensa que só precisa estar preparado para atender vítimas de acidentes. A rotina do serviço também conta com queixas de convulsão, diabetes descompensada, falta de ar, quedas e intoxicação exógena, sem falar das emergências pediátricas, obstétricas e transferência de pacientes para UTI", destaca.
Mesmo acostumados com uma rotina repleta de adversidades, lidar com uma nova patologia e o risco de colapso iminente dos serviços de saúde da região é desafiador. Segundo o enfermeiro, o objetivo principal é jamais deixar as pessoas desassistidas. "Os profissionais de saúde que atuam na linha de frente necessitam aprender a se reinventar a cada plantão para lidar com os sentimentos como medo, angústia, preocupação, raiva, sentimento de impotência, entre outros. Tais sentimentos são gerados tanto pela incerteza do que está por vir, quanto pelo isolamento social imposto aos seus familiares. Para preservar seus entes queridos, os profissionais precisam lidar com a solidão e elaborar estratégias emocionais para seguir adiante", comenta.
Durante o trabalho, as equipes enxergam na prática os números negativos da pandemia. Segundo Savegnago, nos últimos doze meses aumentaram os casos respiratórios e clínicos. Uma realidade que vem se agravando com o passar do tempo. "A percepção geral é que nos últimos três meses aumentaram vertiginosamente os transportes de pacientes Covid-19 positivos para hospitais de referência e leitos de UTIs", lamenta. Atualmente, a equipe conta com sete médicos, sete enfermeiros e oito técnicos de enfermagem, além de nove condutores socorristas. "Dispomos de uma viatura do tipo Suporte Básico (tripulada por condutor socorrista e técnico de enfermagem), uma viatura do tipo Suporte Avançado (tripulada por condutor socorrista, enfermeiro e médico) e uma motolância, pilotada por um técnico de enfermagem com formação especial para este tipo de veículo", explica.
Conforme o enfermeiro, os profissionais do Samu-192 são preparados tecnicamente para agir nos piores momentos das vidas das pessoas. "Lutamos para realizar o socorro da melhor forma possível, com o máximo de segurança e agilidade nos cuidados. Somos um elo de uma extensa corrente que simboliza o próprio SUS. Assim, ficamos frustrados quando nos damos conta de que nós, os profissionais de saúde, queremos muito que as pessoas fiquem bem, saudáveis e felizes, tocando a sua vida, mas, infelizmente percebemos que muitas pessoas da comunidade não se cuidam o suficiente, não fazem a sua parte como deveriam. Seja na imprudência no trânsito ou em relação à pandemia", ressalta.
Por isso, a equipe - que percorre a cidade 24 horas por dia - pede mais colaboração da sociedade. "Infelizmente, notamos que parte da população ainda tem um profundo sentimento de negação frente ao risco de adoecimento pela Covid-19. Mais de 280 mil mortos em nosso país e parte da população ainda é resistente às máscaras e demais medidas de prevenção. Para além de qualquer ideologia, testemunhamos que a doença é real e poderá deixar marcas profundas naquelas pessoas que negam a situação. Por último, pedimos: cuide-se, faça a sua parte", salienta.