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"Reflexos poderão ser sentidos na próxima semana, com fechamentos ou demissões", projeta presidente da CDL de Santa Cruz


Publicado 03/03/2021 07:10
Atualizado 03/03/2021 07:18

Geral   CENÁRIO PREOCUPANTE

Devido à bandeira preta - imposta pelo Governo do Estado e que restringe o funcionamento de diversos serviços no Rio Grande do Sul - o comércio considerado não essencial precisou fechar as portas, pelo menos nesta semana em que permanece em vigor. Em Santa Cruz do Sul, o cenário é de apreensão, angústia e preocupação por parte dos lojistas. 

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Santa Cruz, Ricardo Bartz, observa que se torna desolador caminhar no centro de Santa Cruz e ver tudo fechado, por mais que todos saibam que isso é necessário: "Mas os lojistas estão inconformados, porque está mais do que comprovado que esse aumento do contágio da Covid-19 não se deu dentro do comércio de varejo. Está difícil os lojistas aceitarem a situação de que precisam ficar com as portas fechadas".

Bartz observa que no ano passado o cenário também foi crítico, pois houve, da mesma forma, o fechamento do comércio no primeiro semestre. Segundo ele, a situação é imprevisível e preocupante, até porque há operações que não têm fôlego e nem fluxo de caixa para suportarem o fechamento durante duas semanas: "Se vive essa apreensão sem saber o que pode acontecer". Não existe, conforme ele, uma previsão a respeito de quanto tempo o comércio vai conseguir se manter. Contudo, ressalta que alguns estabelecimentos têm capacidade para se manterem mais tempo do que os outros. "Alguns reflexos já poderão ser sentidos na próxima semana, com alguns fechamentos ou demissões", complementa.

Momento é de frustração

A expectativa dos comerciantes é de que não seja feito um novo lockdown por parte do Município no fim de semana, porque impactaria muito nas vendas do comércio: "A gente sabe que as pessoas receberam seus salários e sabemos que nesses primeiros dias do mês acaba tendo um giro mais intenso de vendas. As expectativas, infelizmente, são desanimadoras. Não sabemos o quanto esse fechamento vai impactar na vida econômica dos estabelecimentos. Esperamos que possamos sair disso o mais breve possível", destaca.

Conforme o presidente da CDL, uma pesquisa será realizada em breve com os lojistas para verificar o quanto a pandemia tem refletido no comércio. Ainda acrescenta que é possível que novas demissões sejam registradas e ainda estabelecimentos fechados. "Existe uma frustração muito grande por parte dos lojistas. Nós não estamos contestando a tomada de decisão do gestor público. Nós temos noção da gravidade do que está acontecendo, mas sabemos que nada disso aconteceu dentro da atividade do comércio. Não há registro de que o comércio aberto impactou no número de casos, até porque foram tomados todos os cuidados possíveis", reforça.

O presidente do Sindilojas de Santa Cruz, Mauro Spode, concorda que a situação é preocupante em todos os sentidos. De acordo com ele, apesar de todos estarem vivendo quase um ano de pandemia, muitos empreendimentos ainda não conseguiram se adequar ao "novo normal". Diante disso, além das demissões e fechamentos de empresas que já aconteceram, também não está descartada a possibilidade de outras lojas fecharem as portas, principalmente no que se refere aos microempreendedores. Ele ainda reforça que as empresas, para conseguirem se manter, têm trabalhado com redução da jornada de trabalho ou, até mesmo, demissões. A expectativa era de que 2021 fosse um ano mais próspero, mas, no momento, de acordo com Spode, o cenário ainda é de incertezas para os lojistas.

"Vai ser difícil aguentar. Vai ter quem não aguentará. E com isso só vai aumentar o desemprego"

A frase acima é do sócio-proprietário da Lula Magazine, Zeno João Reis, que sentiu na pele os reflexos da pandemia. Segundo ele, a situação está difícil não apenas no comércio, mas em vários setores e também no sistema de saúde que está com os leitos esgotados. "Mas nós, lojistas, seguimos todos os protocolos estabelecidos desde o início da pandemia. Se hoje nos encontramos nessa situação, com certeza não foi porque o comércio estava aberto", destaca.

Na loja em que trabalha, Reis necessitou desligar uma funcionária no ano passado e continua com o mesmo quadro de colaboradores, sem ter contratado pessoas para trabalharem em período de Natal, quando acontece intensificação do movimento e das vendas.

Reis define o cenário como angustiante e desabafa: "Não tem como aguentar mais. Ano passado quando se fechou um mês já foi muito difícil. Agora novamente. Temos compromissos diariamente, fornecedores para pagar, funcionários para pagar, obrigações tributárias. Estando fechado, no meu caso, não tenho receita, não tenho venda. As vendas pra mim na tele-entrega são insignificantes. Difícil fazer uma venda porque o cliente precisa experimentar a roupa, precisa, muitas vezes, de ajuste". 

Conforme ele, todos vivem sem saber como será o dia de amanhã. "Não sabemos se vamos poder trabalhar, o que vai acontecer. No nosso ramo se trabalha com antecedência. Os pedidos são feitos planejando meses a frente. A mercadoria está na loja, tem que ser paga. Em nenhum momento estou menosprezando o vírus e seus efeitos. O que quero, como a maioria, é poder trabalhar, fazer o que sei fazer, porque tenho certeza que o problema não está no comércio", reforça.

Ainda segundo Reis, existem alguns aspectos que são defendidos pelos lojistas desde o ano passado no que se refere às normas estabelecidas: "Lojas vendem produtos que eu não posso vender, mas isso tem que ser fiscalizado para não acontecer a venda desses produtos. Eu não posso vender roupas, mas o hipermercado vende. Eu não posso vender chinelos, mas tem farmácia vendendo. São uma série de produtos que se enquadram aí".


Foto: Lucas Batista / Grupo Arauto
Lojistas estão apreensivos com momento atual
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