compartilhe >>

"Um período difícil que se avizinha", projeta economista sobre fim do auxílio emergencial


Publicado 29/12/2020 07:00
Atualizado 29/12/2020 07:13

Geral   VALE DO RIO PARDO

O auxílio emergencial, criado em abril, chega ao fim nesta terça-feira (29). Elaborado pelo Governo Federal como um enfrentamento econômico durante a pandemia da Covid-19, o pagamento do recurso - de R$ 600 ou de R$ 1,2 mil e até R$ 300 em alguns casos - representou mais do que um acréscimo na renda das famílias brasileiras. Para muitos, principalmente para quem perdeu o emprego durante a crise em 2020, o depósito do valor significava a forma de sobreviver ao mês. Anteriormente previsto para acabar após três meses, o auxílio prolongou-se por nove meses e não deve, conforme o governo, ser prorrogado.

Para o doutor em Economia e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Silvio Cezar Arend, o fim do auxílio emergencial ocasiona um período difícil que se avizinha. "Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que esse programa foi muito importante para esse conjunto de famílias atendidas. Grande parte das pessoas conseguiu se recuperar, mas outras não. Quem estava no setor de serviços, não teve uma retomada como nos níveis anteriores da crise. Então, essa parcela da população ainda precisa do auxílio emergencial. Vamos enfrentar ali na frente, a partir de janeiro, uma redução da demanda. Uma dificuldade de aquisição de alimentos e dos outros itens necessários para sobrevivência das famílias ao longo do mês", lamenta.

Conforme Arend, o ramo da alimentação foi o primeiro que teve impacto com esses recursos do auxílio emergencial e será o primeiro a sentir a diferença. "Conforme o nosso último levantamento, do começo de dezembro, o salário mínimo deveria ser de R$ 3.980,10 para custear a cesta básica de Santa Cruz do Sul. 80% da população brasileira não recebe isso. Por isso, enquanto a renda das pessoas não for maior, não iremos para frente", destaca. Atualmente, segundo o economista, há ainda 14 milhões de pessoas no país desempregadas. "Sem dinheiro no bolso, as famílias não compram. Quando a renda é baixa, não adianta falar em reformas. Reformas não colocam dinheiro no bolso do trabalhador que é quem, de fato, consome. Se essas pessoas não consomem, as empresas não têm demanda e não precisam ampliar as contratações", explica. 

Por isso, as perspectivas de contratações também não são positivas. "Enquanto não recuperarmos a renda, não recuperamos a demanda e, portanto, não vamos recuperar o nível de produção e emprego. E quando as empresas não investem, a economia não cresce", salienta. Já quanto às demissões, Silvio Arend acredita que mesmo após o período de estabilidade com o fim da redução de jornadas, elas não devem ocorrer de forma intensa. "A empresa irá verificar a situação do mercado e caso ela não espere uma retomada da demanda, é muito possível que aconteçam demissões. Porém, há todo um custo para isso, como as verbas indenizatórias. E as empresas levam isso em consideração, pois talvez seja necessário, logo ali na frente, recontratar o empregado. Por isso, às vezes é melhor seguir com um pouco de dificuldade e manter o empregado que está adaptado ao ritmo e à missão da empresa", avalia.


Foto: Milena Bender/Portal Arauto
Fim do auxílio também deve impactar no comércio
Fim do auxílio também deve impactar no comércio