O Natal de 2020 vai ser vivido em clima de vitória, bem diferente do tormento de 2019. A fotógrafa vera-cruzense Aline Cristina Bostmann descobriu o câncer de mama dois dias após comemorar seus 40 anos. Ao se tocar, sentiu o nódulo no dia 27 de outubro de 2019, e desde então travou uma luta para vencer a doença, que só de dizer o nome faz com que muita gente estremeça. Mas Aline não se abalou, botou na cabeça que iria ultrapassar isso e hoje pode respirar, aliviada, com a certeza dos tantos aprendizados que este episódio trouxe. Foram seis meses de tratamento com a quimioterapia, além de três cirurgias. “Quando fiz a primeira quimio achei que ia morrer, foi muito difícil, só para quem passa pra saber o que é uma quimio. Mas o que me ajudava muito era que eu sabia que as reações eram só alguns dias e que eu ia vencer, era isso que eu sempre pensava. Os filhos vinham e perguntavam: mamãe, mamãe tá doendo? Eu vou fazer uma massagem e já vai passar”, relembra.
Para quem trabalhava de segunda a segunda, no estúdio e na fotografia de eventos, o momento foi de pausar. Chegara a vez de cuidar de si, da saúde, de finalmente tirar umas férias e ficar com sua família, que é sua base, seu porto-seguro, sem contar os inúmeros amigos que sempre acompanharam a caminhada. “Quando a médica receitou o tratamento e disse que teria que fazer quimioterapia, que era numa quarta, no sábado liguei pra minha amiga de infância e fui lá raspar meu cabelo, e levei meus filhos junto para eles entenderem um pouco o que estava acontecendo. Perguntei pra eles se a mamãe tinha ficado bonita e a resposta que recebi: ‘mamãe, você ficou linda’, disse o meu filho mais novo”, derrete-se por Lucas, quatro anos, e João Carlos, seis anos.
Aline encarou o tratamento como qualquer outra doença, igual uma gripe. “Sempre pensei: não vou desanimar, vou ficar firme e forte, vou conseguir, tenho dois filhos para criar e Deus vai me ajudar, vou ficar bem velhinha e ajudar a cuidar dos meus netos ainda”, reflete. Com o apoio incondicional do marido, Carlos Eduardo Muller, e da mãe, que se preocupou muito devido ao histórico de câncer na família, a fase ruim passou, de fato.
Se dizem que aqueles que passaram por um câncer viveram de novo, a vera-cruzense só tem a comemorar: “faço aniversário duas vezes por ano agora”, diz ela, referindo-se ao 23 de outubro, seu “primeiro nascimento”, e 19 de novembro, dia em que, neste 2020 tão turbulento, ela fez a última sessão de quimioterapia, um dia de felicidade para ela, o marido e os filhos. Ah, e para a legião de amigos que estavam sempre na torcida, alguns, como do grupo que se intitula N’Bando, inclusive rasparam o cabelo quando Aline também o fez. A vitória não foi só dela, paciente. Foi coletiva.
MULHER DE FÉ
Apesar da medicina só considerar a cura passados cinco anos, e Aline sabe que ainda vai ter sessões de radioterapia, comprimidos e exames periódicos para fazer, o fim da quimioterapia é visto como uma vitória. Ela, aliás, nunca desanimou. Se ia perder o cabelo, buscou na psicologia o amparo para lidar com a autoestima. E na fé, sempre presente nas orações e leituras diárias da Bíblia, a fortaleza para superar o maior desafio de sua vida. Foi com a cabeça otimista, vencendo uma batalha de cada vez, que Aline encarava cada consulta, radiante. Não era hora de lamentar pelo destino, era hora de lutar pelo futuro.
“A minha vida mudou muito em 2020, sou uma dona de casa agora, o que eu sempre queria, falava pro meu marido: quando eu me aposentar quero ficar em casa, fazer minhas coisas que gosto, cozinhar, ficar com minha família, dormir depois do almoço, passear com os filhos. Eu acho que o câncer me mostrou como é ser uma dona de casa e uma mãe presente”, frisa ela, que deixou aos cuidados do marido e sua dedicada equipe a empresa. Além de ter a chance de ganhar uma nova vida, Aline integra o projeto Mãos Dadas, com mulheres que já tiveram câncer. É no apoio mútuo que cada uma é encorajada a sorrir e a transformar a vida, a nova vida, mais cor-de-rosa.