Quem imaginava, lá no Natal passado, que 2020 iria trazer um vírus invisível, que rapidamente se espalharia por todo mapa, faria milhões de infectados, deixaria um rastro de mortes e causaria um caos em todos os setores da sociedade? Talvez nem os videntes. Pois o novo coronavírus foi o assunto do ano, causador de muita tristeza, mas há de deixar muitos aprendizados.
Ainda que seja mais preocupante no chamado grupo de risco, que inclui os idosos, a doença não faz distinções e surpreende os mais jovens também. Foi o que aconteceu ao santa-cruzense Jonathan Ebert, de 27 anos, que chegou a ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Jonathan é agente comercial de uma empresa de pagamentos, engenheiro civil e professor de inglês. E mora com a namorada, Débora Arend, que está grávida de cinco meses da Lara. Foi no dia 5 de outubro, segunda-feira, que ele começou a sentir dor de garganta e de cabeça, os primeiros sintomas. Mesmo dia que veio o resultado positivo do teste feito por uma colega de trabalho, que na semana anterior conviveu com ele e outros tantos em evento empresarial, de onde acredita que tenha contraído.
No dia seguinte, a temperatura corporal oscilava e Jonathan sentia cansaço. O quadro foi agravando e na quarta-feira teve a primeira febre, quando foi ao ambulatório de campanha e fez o teste. Hora do isolamento domiciliar. Desde então, a febre começou a aumentar, o Paracetamol não adiantava mais e a saída foi recorrer a medicamentos mais fortes. Na quinta-feira perdeu parcialmente o paladar e o olfato, “foi angustiante”, diz ele, que na noite já tinha febre que passava dos 39 graus. A saúde do jovem se agravou com a dificuldade de respirar, e ao fazer raio-x do pulmão, a constatação de que estava comprometido. Foi preciso internar.
Já no hospital, com o passar dos dias, as dificuldades se tornaram mais evidentes para coisas simples, como caminhar no corredor e tomar banho. “Pelo quinto dia de internação tive que começar a usar oxigênio para ajudar a respiração. Mas os médicos sabiam que poderia piorar, já que os sintomas mais fortes costumam aparecer pelo 10º e 11º dia da doença. De fato foi o que aconteceu. No nono dia já passei muito mal ao tomar banho e decidiram me botar pra UTI: aí foi um grande choque, bateu o desespero, não só em mim, mas na minha namorada, minha família. Cheguei na UTI, muito assustador, conectado a um monte de aparelho e tem exames mais específicos, procedimentos como ventilação não invasiva, é aterrorizante, especialmente para quem tem claustrofobia ou algo do tipo, porque fica com o rosto pressionado à máscara, parece que não consegue respirar”, descreve. Apesar do susto, a UTI foi essencial pelo cuidado permanente, acesso à ventilação de alto fluxo e recuperação de pulmões sem a necessidade de Jonathan ser entubado.
Depois de três dias ali, ao sair da UTI, porque a saturação estava quase 100% e a respiração normalizada, no dia seguinte foi hora de voltar para casa. Parece tão simples, mas ter autonomia e independência para caminhar e tomar banho sem ajuda ganharam valor. Foi aí que percebeu que o pesadelo havia passado. “Sempre respeitei muito a doença, desde dezembro do ano passado, nas primeiras notícias. E depois confirmou, espalhando por todo mundo. Mantive todos os cuidados possíveis”, diz ele.
Mas perto do período em que contraiu o vírus, percebeu que houve certo relaxamento em alguns cuidados, mesmo usando máscara e álcool gel, as pessoas já haviam cansado. E depois do susto, o casal retomou a rigidez dos cuidados, até porque com a gravidez, sem saber se Débora já pegou ou não, e incertezas sobre possíveis implicações que poderiam gerar para o bebê, é preciso. Cada um fazendo a sua parte, assim será também no Natal, sem aglomeração. Mas um Natal de vitória, sobretudo.
Jonathan tem razões para festejar a vida. A que está chegando, para iluminar a relação do casal, e a sua nova chance. “Por mais que tenha sido complicado, consegui sair dessa, estou bem e deu tudo certo no final. Tenho que agradecer”, reflete.