Pouco mais de R$ 200. Esse foi o valor que havia no bolso de Fabrício Lima Vedoy quando ele chegou em Rio Pardo para o curso de formação básica para policial militar. Um sonho antigo realizado após muito esforço, dedicação e fé. Afinal, embora tudo conspirasse para mais dificuldades, a confiança em Deus fazia o jovem continuar. No dia 21 de dezembro de 2020, a tão aguardada formatura ocorreu e ele então tornou-se soldado da Brigada Militar. Um momento inesquecível que jamais sairá de sua memória.
Mas nem tudo são flores. Até esse dia, foram muitas as batalhas. Tudo começou em 2014, quando Vedoy - natural de Canoas - rodou no concurso. Era um período difícil, sem trabalho de carteira assinada e muitas incertezas. Porém, quando chegou 2017, estava trabalhando, pagou um cursinho preparatório em Porto Alegre e obteve o resultado esperado. Ao ser chamado para o curso em 2020, em meio à pandemia da Covid-19, as coisas novamente estavam difíceis.
O jovem de 24 anos estava desempregado, vivendo de trabalhos temporários e com a família - com quem sempre morou - sobrevivendo com pouco mais de um salário mínimo. "Venho de uma família muito humilde, pobre. Como pagamos aluguel, sempre tivemos dificuldades financeiras. Comentei muito com meus colegas sobre a minha história. Sempre chegávamos no dia 15, 20 de cada mês apertados. Às vezes começava a faltar alimentação e eu precisava pedir doação para um vereador em Canoas. Era uma batalha diária", relata.
Com o dinheiro que tinha conseguido com trabalhos temporários em uma oficina, pagou os exames necessários para o ingresso no curso e viajou de Canoas para Rio Pardo. "Cheguei e recebi a notícia de que não poderíamos ficar alojados no batalhão por causa do coronavírus e que teríamos que alugar um apartamento ou casa por conta. Falei com o pessoal e me ajudaram bastante. As mulheres do restaurante começaram a vender marmita pra mim de forma fiada, até eu receber. Meus colegas me apoiaram. Me deram abrigo e acertei com eles o aluguel quando recebi", conta.
A partir do primeiro salário, as coisas começaram a melhorar. "Consegui trazer minha família para cá. Paguei mudança, aluguel. Agradeço a Deus em primeiro lugar. Consegui adquirir meu carro e outro para meu pai. Comprei televisão e uma máquina de lavar para minha mãe. Cheguei no curso sem computador e tive muita dificuldade para acompanhar as aulas. Desde o início recebi muita ajuda de alimentação. Olha, não tenho vergonha de falar, mas se não fosse Deus e a ajuda de colegas e oficiais, eu teria passado fome. O dinheiro que eu tinha deu para pagar a marmita da primeira e segunda semana. Depois acabou o dinheiro", destaca o soldado que, durante o curso, também precisou enfrentar o luto pela perda da avó.
Por isso o jovem, que sonhou em ser policial para fazer a diferença, ajudar as pessoas e proteger o próximo, reconhece também toda a ajuda recebida. "Sempre fui um cara humilde, sempre aceitei ajuda quando estava necessitado. Nunca fui orgulhoso. Meu sentimento é de gratidão. Quero agradecer a todos. Nunca vou esquecer o que fizeram por mim. Só tenho a agradecer a Deus por ter colocado essas pessoas maravilhosas no meu caminho. Estou muito feliz por ter criado uma família dentro da Brigada Militar", fala. De agora em diante, já soldado da BM, o objetivo é evoluir ainda mais. "Quero me qualificar, não parar de estudar e só ascender na carreira", conclui Vedoy que se esforça todos os dias para orgulhar os pais João Pedro e Ana Paula, o restante de sua família e todos aqueles que passarem em seu caminho.