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Como a alta no custo da alimentação de aves impacta produtores de Vale do Sol


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 04/11/2020 07:00

Geral   NA PANDEMIA

Aprodução no setor de avicultura tem sofrido impactos nos últimos meses, principalmente pela alta do preço dos grãos, como milho, farelo de soja e minerais, que alimentam os animais. Em Vale do Sol, por exemplo, onde as criações comerciais têm na base de sua alimentação o milho produzido pelos próprios produtores familiares, as perdas acarretadas pela seca que atingiu o Estado levaram as famílias a comprar ração para as galinhas, ao invés de manter o cultivo próprio. “Cerca de 70% da ração das galinhas é composta pelo milho e a produção própria não foi suficiente para fabricar toda a ração necessária aos animais até a chegada da nova safra. Os produtores estão tendo que adquirir o milho, assim, além de aumentar o custo da ração, há o risco de adquirir grãos de má qualidade, com a presença de fungos, que é extremamente prejudicial às aves”, explica o médico veterinário da Emater/RS-Ascar do município, André Macke Franck. 

Entre os produtores impactados pelo alto custo dos grãos e os prejuízos pela estiagem está Bruno Bencke, da localidade de Campos do Vale, que neste ano começou a criar as aves para venda de carne de frango para vizinhos e conhecidos. “Na alimentação das aves, costumo adquirir o concetrado com a Languiru. Em julho, cheguei a pagar R$ 61,50 o saco de concentrado de 25 quilos, mas neste mês paguei R$ 89,50 pelo mesmo saco. Já pelo milho quebrado, que compro em uma cooperativa em Vera Cruz, paguei recentemente R$ 55 pelo saco de 40 quilos e em outubro comprei por R$ 73. Houve um aumento bem grande em pouco tempo”, revela. 

O produtor afirma que chegou a ter 200 galinhas para o abate por mês e, na época, gastava 24 sacos de milho e 12 de concentrado. Hoje, devido ao valor da ração e do milho, está parando com a criação das aves, mantendo apenas para consumo próprio. “Antes do aumento dos preços, vendia a carne a R$ 9 o quilo, mas hoje vendo a R$ 10. Mesmo assim não está compensando tanto como antes da pandemia, por isso, pretendo parar”, salienta. 

Produtora percebe aumento na venda de ovos nos últimos meses

Vera Voese, moradora da localidade de Faxinal de Dentro e produtora de ovos desde 2013, também sente no dia a dia a alta no preço dos grãos. Assim como Bruno, a vale-solense afirma que no período de dois meses, o saco de milho de 50 quilos teve um aumento de R$ 13,50. Por mês, o consumo das 550 aves que cria na propriedade é de 20 sacos de 50 quilos. “Esse aumento também é visto no preço do concentrado e o revendedor de onde faço a compra, já avisou que vai ter mais aumento no valor”, pondera. 

Se hoje, Vera desembolsa mais dinheiro para o trato das galinhas, também teve de repassar o aumento ao consumidor de ovos. Atualmente, ela comercializa a dúzia por R$ 6, mas antes da pandemia chegou a vender por até R$ 4. No entanto, segundo ela, os consumidores entendem e, mesmo assim, as vendas seguem crescendo. “Tenho vendido bem durante a pandemia, o que compensa um pouco o alto custo que tenho com a produção. Faço entregas sempre nas segundas-feiras para mercados, confeitarias e lancherias, além de vender para particulares, como vizinhos e conhecidos”, explica. Para dar conta da demanda de entregas, Vera frisa que costuma recolher 38 dúzias de ovos por dia, chegando a 260 dúzias por semana – produção que, segundo ela, tem destino certo todas as semanas. 

SE PRECAVENDO

Para diminuir os custos com a compra do milho e garantir a produção própria, Vera afirma que neste ano antecipou o plantio e que pretende poder alimentar os animais com o cultivo a partir de janeiro. 

ALTA NO PREÇO

O médico veterinário da Emater/RS-Ascar de Vale do Sol, André Macke Franck, explica que a alta no preço pode ser justificada pelo aumento das exportações de grãos, principalmente a soja, impulsionada pelo aumento do dólar e por novos fatores causados pela pandemia. “Houve crescimento inesperado do consumo de alimentos pelas pessoas que estavam em confinamento, além de que os países perceberam que estavam muito vulneráveis a crises alimentares devido aos baixos estoques de alimentos, tanto para a alimentação direta da população, como também grãos para consumo animal, que são usados pelos seus produtores para alimentar os animais, para só então produzirem carne, ovos ou leite nos países importadores”, esclarece. Dessa forma, o profissional afirma que as nações, principalmente a China, ratificaram seus planos de soberania alimentar buscando ampliar seus estoques.


Foto: Jornal Arauto / Caroline Moreira
Apesar de impacto no custo de produção, Vera comemora crescimento das vendas
Apesar de impacto no custo de produção, Vera comemora crescimento das vendas