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Menos cotas e mais abstenções fazem filas da Saúde multiplicarem na região


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 03/11/2020 20:00
Atualizado 04/11/2020 07:17

Geral   NA PANDEMIA

Problema conhecido do sistema de saúde público, a abstenção continua impactando no crescimento das filas de espera para consultas, exames e outros procedimentos. Em Vera Cruz, por exemplo, das 716 marcações efetuadas entre maio e agosto de 2020 no Sistema de Regulação (Sisreg) e Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon), 53 pessoas não compareceram. A situação preocupa, sobretudo porque o número de pacientes à espera de atendimentos já apontava crescimento antes da pandemia, sendo ainda maior a partir de abril, quando os atendimentos eletivos foram suspensos – mantendo-se apenas os de urgência. Além disso, os municípios enfrentam, ainda, dificuldades para dar conta da demanda, já que desde a retomada desses procedimentos, em maio, houve queda nas cotas ofertadas mensalmente nos serviços de referência para especialidades. 

A secretária de Saúde de Vera Cruz, Liseana Palma Flores, explica que as cotas mensais reduziram em mais de 50% em especialidades como cardiologia, otorrinolaringologia, vascular e traumatologia, tendo queda ainda mais brusca em odontologia. “A demanda em saúde bucal é grande, já que o Conselho de Odontologia não autorizou o retorno na totalidade dos procedimentos eletivos. Mas, é claro, os profissionais usam do bom senso e às vezes acabam atendendo o paciente eletivo por uma questão de baixa renda ou até mesmo para terminar um acompanhamento que tem sido realizado há meses”, explica a responsável pela pasta. 

A oftalmologia é outra especialidade com número de cotas reduzido em mais da metade, ao mesmo tempo, em que tem representativo índice de abstenções. Em julho de 2020, por exemplo, só os faltosos de oftalmologia correspondem a 23% das marcações efetuadas neste mês, contabilizando nove pessoas.

FALTOSOS

Mais do que a redução na oferta de procedimentos, as abstenções colaboram para o aumento das filas de espera e ocorrem por diversos motivos. Liseana acredita que o medo em função da pandemia do coronavírus possa ser uma das motivações que impactou, por exemplo, nos atendimentos em fisioterapia, que tiveram alto índice de abstenções. “É uma questão muito séria. Se é marcado o atendimento para uma pessoa na área de vascular e esse paciente não comparece e não avisa, além dele perder essa vaga, está tirando a oportunidade de outro indivíduo de consultar. E se ele volta para a fila de espera são mais duas vagas preenchidas, a dele e de outra pessoa que poderia estar no seu lugar”, salienta. Segundo a secretária, é fundamental que o paciente avise o serviço caso não possa comparecer, bem como mantenha seu número de telefone atualizado junto às unidades. 

OUTROS MUNICIPÍOS

Em Santa Cruz do Sul, as faltas também geram preocupação. Conforme a coordenadora da Atenção Básica, Vanda Hermes, não se sabe o real motivo para as ausências, pois as pessoas simplesmente não aparecem e não justificam. No município, segundo ela, de janeiro a setembro de 2019 foram efetuados 312 mil atendimentos, no entanto, em 2020, esse montante reduziu para 183 mil. 

Em Vale do Sol, a secretária de Saúde, Daiane Krainovic, explica que o crescimento no número de pacientes esperando por atendimento se deu, principalmente, pela redução na oferta de procedimentos pelos prestadores, e não tanto em função das abstenções. Segundo ela, os vale-solenses têm voltado aos poucos a procurar com mais intensidade as unidades de saúde. 

PLANO DE RECUPERAÇÃO

O crescimento das filas de espera para os atendimentos em saúde vai muito além das cidades de Vera Cruz, Santa Cruz e Vale do Sol. O assunto foi discutido recentemente em reunião da Comissão Intergestores Regional do Vale do Rio Pardo (CIR-VRP), com os 13 municípios de abrangência da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (13ª CRS). A partir disso, foi proposto um plano de recuperação para os prestadores de serviço da saúde – que atendem demandas de especialidades com consultas, exames e procedimentos –, já que os atendimentos permaneceram suspensos em abril. Dessa forma, a 13ª CRS enviou aos hospitais prestadores desses serviços uma correspondência solicitando a oferta de mais cotas para consultas, exames e procedimentos, dentro de sua possibilidade. Eles tiveram até o último sábado, dia 31, para retornar o pedido, afirmando se irão se comprometer com a questão e se devem ofertar mais cotas mensais. 

 “As situações clínicas continuaram e surgiram novas demandas”, diz secretária

Conforme Liseana, o índice de faltosos, bem como a menor oferta de cotas mensais para os procedimentos, podem desencadear problemas futuros, já que as situações clínicas continuaram acontecendo nos últimos meses e trouxeram outras demandas, como por exemplo, relacionadas à saúde mental dos pacientes que ficou mais vulnerável. “É preciso entender que quando as pessoas se abalam emocionalmente, altera-se também pressão, batimento cardíaco, levando a alteração da clínica”. Além disso, destaca que problemas de saúde que poderiam ter sido diagnosticados em caráter inicial neste período, podem ter sido prejudicados, devido à suspensão das investigações e acompanhamentos de pacientes eletivos. “Uma coisa leva a outra, porque o atendimento na atenção primária começa em caráter de diagnóstico e muitas vezes precisa de uma avaliação da especialidade. Como a especialidade não estava atendendo os eletivos, esses pacientes acabaram sendo remanejados na unidade, não da forma como de fato deveria ocorrer”, complementa. 


Foto: Jornal Arauto / Taliana Hickmann
Com cotas de atendimento reduzidas, demanda segue nas unidades
Com cotas de atendimento reduzidas, demanda segue nas unidades