Enquanto os produtores rurais ainda se recuperam dos prejuízos causados pela seca que assolou recentemente o estado, a preocupação já toma conta pela falta de chuvas prevista para os próximos meses. Mais que lamentar as dificuldades que estão por vir, eles têm procurado agir. Conforme os escritórios da Emater/RS-Ascar de Vera Cruz, Santa Cruz do Sul e Vale do Sol, os agricultores têm apostado em estratégias para garantir o armazenamento de água, como limpeza e ampliação de reservatórios, construção de açudes e cisternas que captem o volume das chuvas. “Alguns produtores de tabaco, por exemplo, adiantaram o cultivo para antecipar o desenvolvimento das plantas e a colheita, mas nos parece que a estiagem também está se adiantando neste ano”, avalia o extensionista rural Vilson Pitton, da Emater/RS-Ascar de Santa Cruz.
Outra alternativa possível, apontam os escritórios da Emater, é a instalação de sistemas de irrigação nas propriedades, solução que esbarra no alto custo - ainda mais com os prejuízos econômicos recentes - e na falta de reservatórios para captação da água. Entre os produtores que neste ano vão contar com o sistema para irrigar a produção na lavoura está o vale-solense Jair Regert, da localidade de Linha Bernardino. Sua família está entre as 14 contempladas em Vale do Sol pelo Programa Segunda Água, do Governo Federal, desenvolvido em parceria com o Governo do Estado e a Emater/RS-Ascar.
O extensionista rural Dagoberto Antunes explica que a iniciativa teve início com a construção de microaçudes nas propriedades no ano passado. Em 2020, o programa segue com a entrega de kits de irrigação por gotejamento para uma área de irrigação de até mil metros quadrados, que serão instalados com o auxílio da Emater. Até o momento, três já foram instalados.
Jair conta que em novembro de 2019 chegou a iniciar o plantio de mudas de pepino – um complemento importante na renda da família durante o verão – e de hortaliças como repolho, couve-flor e brócolis, mas as plantas secaram e não se desenvolveram. Na época, o microaçude – com 30 metros de comprimento, 16 de largura e dois metros de profundidade - estava pronto, mas não teve tempo de reter água da chuva suficiente. “Então desisti e não plantei mais, fiquei apenas com o plantio do tabaco, que também nos deu prejuízo”, relembra. “Nesse ano, a expectativa é que seja bem diferente e que os plantios retenham o volume de água necessário, já que recebemos os kits de irrigação há uns três meses e o açude encheu bem, principalmente no inverno. O sistema de irrigação é por gotejamento, ou seja, a água não vai fora e as plantas recebem a quantidade que precisam”, comemora o agricultor, que irá plantar os pepinos e as hortaliças em menos quantidade neste fim de ano, prevendo, ainda, possíveis perdas na produção e queda nas vendas.
Outra estratégia que vem sendo utilizada para amenizar os possíveis prejuízos pela estiagem, afirma o engenheiro agrônomo Alberto Evangelho Pinheiro, da Emater/RS-Ascar de Vera Cruz, é a procura por instrumentos que assegurem a produção nas lavouras, através de programas de políticas públicas ou de seguros para a agricultura familiar. Segundo ele, é um aspecto importante - no qual a Emater auxilia fornecendo orientações -, mas que precisa vir atrelado, ainda, à melhoria da qualidade do solo. “Em certos casos, a estiagem pode prejudicar menos se o solo estiver em boas condições, em camadas um pouco mais profundas. Quantos mais as raízes das plantas tiverem a possibilidade de explorar camadas mais profundas do solo, mais água haverá disponível para elas”, esclarece. “Se houver, por exemplo, compactação logo abaixo da área lavrada, o chamado pé de arado, a raiz não penetra tão profundamente e acaba explorando pouca profundidade de solo, consequentemente, pequenas estiagens já causam um déficit hídrico para a planta e ela para de crescer”, complementa.