É difícil definir uma geração de crianças e não raras vezes se quer denominar de alguma coisa: Z, Alpha, Índigo e tantas outras nomenclaturas que se podem criar a partir dos hábitos, das vivências, da tecnologia. Mas não dá - nem nunca deu - para generalizar, e assim como existem crianças reféns do que se conecta numa tela ou dos brinquedos que teimam em dominar os canais pedindo pelo consumo, existem tantas que têm em sua vivência, seus estímulos e seu protagonismo muito a ensinar. Inspiram não só a outras crianças, mas também a uma legião de adultos. Plantam árvores e flores no bairro, recolhem lixo das ruas, reciclam, participam de ações comunitárias, aplicam sustentabilidade no cotidiano, se importam com o outro e fazem isso com toda a leveza que só a infância traz.
Ela tem apenas nove anos e mostra, com atitude e determinação práticas, que as crianças têm muito a ensinar. A começar pelo exemplo. A vera-cruzense Sofia Müller acompanhou, há dois anos, a construção de uma composteira no pátio da escola e se sentiu estimulada a fazer em casa também. Um local adequado para receber os resíduos orgânicos para a decomposição. Cascas, folhas secas e restos de frutas e verduras que antes iriam para o lixo comum, acabam se transformando em adubo orgânico para ser usado no jardim da família.
Sofia gostou tanto da ideia que pesquisou sobre o assunto, pediu ajuda aos pais, Mânon e Guilherme, e foi atendida. Sem contar com espaço adequado no chão e por terem cachorros em casa que poderiam revirar tudo, resolveram comprar uma composteira vertical. E foi assim que Sofia ensinou a toda família uma mudança de hábito que reflete na redução do lixo que vai para a coleta do município e que, de quebra, contribui na formação de uma terra rica em nutrientes para qualquer plantio. Inclusive testar novos experimentos aprendidos nas aulas do Instituto Sinodal Imigrante.
Leva até dois meses para que as cascas e outros resíduos verdes se misturem e se decomponham para serem aproveitados na terra. “Antes, colocava tudo fora e hoje usamos essas sobras para fazer nosso solo mais rico para plantar”, resume Sofia. A menina reconhece que a atitude faz bem ao meio ambiente - e para toda família - com a lição multiplicada entre os pais, avós e que certamente vai contagiar o mano Eduardo, de dois aninhos.
Praticar boas ações faz parte dos valores ensinados pelo movimento escoteiro. O Caetano, filho de Michelle e Giuliani Schwantz, acompanha o pai, chefe no Grupo Escoteiro Santa Cruz, desde bebê nas atividades, mas foi há dois anos que pôde ingressar nos lobinhos, ramo voltado ao público infantil. Hoje com nove anos e com função de liderança na sua matilha, o santa-cruzense revela que adora as aventuras, os acampamentos, a amizade e tudo o que se aprende no movimento. E uma destas lições foi desenvolver a empatia e a solidariedade.
No ano passado teve início um projeto para reciclar guarda-chuvas estragados, transformando-os em almofadas e caminhas para pets. Deu tão certo que as “almofadas do bem” se transformaram em projeto maior, com apoio da cooperativa Sicredi, e mais de 300 unidades foram feitas para beneficiar instituições. As caminhas para cachorro, trocadas por saco de ração, também têm o foco de fazer o bem, pois o alimento é doado para organizações que mantêm os animais recolhidos das ruas. O Caetano virou protagonista ao desenvolver ação para divulgar o projeto que é de todo o grupo, e com a ajuda dos pais multiplicou a ideia de doar os guarda-chuvas em desuso. Tratou de espalhar caixas coletoras para as doações. “Me sinto feliz em poder ajudar o próximo. Isso é muito importante”, revela. “O fato do Caetano envolver-se cada vez mais com ações como essa me mostra que estou no caminho certo enquanto pai e voluntário do movimento escoteiro, pois assim como Baden-Powell, acredito que precisamos deixar o mundo melhor do que encontramos e que a melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros”, reflete o pai. O menino é engajado em muitas outras boas ações desenvolvidas no grupo, como arrecadação de tampinhas, materiais eletrônicos, brinquedos, agasalhos, alimentos e tudo que a comunidade precisar. Lá estará ele para ajudar e inspirar.
A vale-solense Mirella Eduarda Reimann tem 11 anos, e não é apenas uma aluna aplicada nos estudos. Quando recebe uma atividade, seja da escola, seja dos lobinhos, no Grupo Escoteiro Sönnenthal, é visível o esforço e sua dedicação, diz a mãe, Carine. Não faz de qualquer jeito só para terminar logo. Capricha bastante dando sempre o seu melhor, faz jus ao lema dos lobinhos, o ramo infantil do movimento escoteiro. Na igreja, a menina gosta de atuar na liturgia.
Mas é nas atividades comunitárias que seu engajamento chama a atenção no município. Antes da pandemia, no início do ano, fez parte da mobilização da alcateia na elaboração de pulseiras, enfeites de cabelo e chaveiros para a campanha Ame Juju. Aliás, nem precisou ser atividade escoteira para a menina se sensibilizar com a santa-cruzense que possui AME, diagnosticado há pouco mais de um ano. Mirella se tornou uma formiguinha e mobilizou seus familiares na arrecadação de tampinhas de embalagens plásticas, para ajudar a somar recursos para o tratamento de Júlia Cardoso Torres, a Juju. E agora, novo engajamento com o grupo, encerrado nesta quinta-feira, teve como propósito arrecadar alimentos não perecíveis para o Hospital Beneficente de Vale do Sol.
Mais uma vez, lá estava Mirella ajudando a multiplicar solidariedade ao disseminar a mobilização para o maior número de pessoas. “Fazer o bem ao próximo nos faz sermos melhores, tentamos fazer com que outras pessoas vivam melhor, e quanto mais eu faço o bem, mais bem eu vivo”, frisa. Seus pais dizem que oportunizam várias atividades para Mirella, que contribuem para formar valores para a vida. “Ela nos mostra que devemos celebrar cada dia, cada conquista, e viver de forma prazerosa. É o que proporciona a vivência nos escoteiros: forma cidadãos responsáveis, participativos, atuantes em seu grupo e na sua comunidade”, refletem seus pais, Sandor e Carine.