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Dois carros sorteados no mesmo dia e bilhete premiado no chão; conheça histórias da Lotérica


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 27/09/2020 20:00

Geral   VERA CRUZ

1979. Vera Cruz estava no auge de seus 20 anos. Havia recentemente conquistado o telefone automático. Tinha a Lopes Sá como economia pujante. Tinha também aqueles que sonhavam, mesmo que para isso tivessem que driblar muitas adversidades. Empreendedores da contabilidade, Martin Weissenstein e Hildor Bieck decidiram dar início à história da primeira – e única – lotérica do município. No início, conta Martin, dava prejuízo, mas que era “amenizado” pelo fato de precisarem ir a Porto Alegre em função dos serviços do escritório. “Então, nós aproveitávamos a mesma viagem para levar os jogos. Tudo era levado para Porto Alegre, nada de sistema, como é hoje”, relembra.

Nos primórdios da lotérica, as apostas eram na Loteria Esportiva, que tinha sorteio uma vez por semana. Eram 13 jogos e 13 pontos. E mesmo que muitos têm superstição de que este é um número de azar, sobretudo pela sexta-feira 13, em Vera Cruz deu sorte a um morador. “Um homem fez 13 pontos. Todos”, relembra Martin, ao contar, ainda, o quão engraçado foi o episódio. “Sempre nas quintas-feiras, nós passávamos no Bar do Baleia [na época, tradicional no Centro de Vera Cruz] para recolher os jogos. Chegamos lá e um homem havia feito um, mas achou muito caro. Então, pegou e jogou fora. Aí um amigo disse: ‘não, não, me dá aqui’. E aumentou a aposta”, relembra. O resultado foi o acerto dos 13 palpites sobre os jogos de futebol daquela rodada e uma bolada no bolso. O que jogou a aposta fora ganhou uma gorjeta, segundo Martin.

Tantos outros fatos são guardados com carinho pela família Weissenstein, que até hoje administra o espaço. Uma delas foi a de um morador de Vera Cruz que ganhou um grande prêmio na Quina. “Ele [o ganhador] chegou aqui, porque havia escutado os números na rádio. Achou que havia acertado na quadra, mas na verdade acertou a Quina. Foi um grande valor”, lembra Martin, que não esquece também do dia 10 de agosto de 1993,  quando uma moradora de Vera Cruz ganhou dois carros no mesmo dia. “A gente vibrou junto com a Alci”, cita ele (leia a história abaixo).

MAIS LOTERIAS

Ao longo dos anos, surgiram outros tipos de loteria, como a de números, que é a atual Quina. Era um jogo com 100 dezenas. Hoje é 80. As apostas eram – e seguem atualmente – de cinco a 10 dezenas, sendo cinco sorteadas. Dos jogos de loteria, conta Martin, a Quina é a primeira. “É bastante jogado, tem todos os dias. Mas, atualmente, o que puxa a frente é a Mega-Sena, com rodadas nas quartas e nos sábados”, frisa, ao comentar ainda de tantos outros serviços que a lotérica foi agregando ao longo dos anos, como o pagamento de contas, seja de energia elétrica, água, luz, telefone ou boletos. Ela também virou quase um banco, ofertando, por exemplo, financiamentos habitacionais.

Tudo isso é o que gera uma gigantesca fila a cada início de mês em frente ao local, situado bem próximo à Prefeitura de Vera Cruz. Por tantas vezes, virou pauta nas redes sociais e até mesmo no Legislativo. Os pedidos eram por mais profissionais e guichês de atendimento. A Caixa Econômica Federal, porém, que responde por essa ampliação, cita que a Lotérica opera inclusive abaixo da capacidade, não sendo necessárias, portanto, ampliações.

Sorte dupla: um Escort e um Gol no mesmo dia

Ela era telefonista. Trabalhava na Dibrell, fumageira que por anos empregou milhares de vera-cruzenses. Era também apostadora de um dos mais tradicionais jogos de loteria: a Raspadinha. O que Terezinha Alci da Costa, hoje com 66 anos, não imaginava é que seria contemplada com um grande prêmio. “Eu ganhava pouco valor, às vezes apenas para trocar por outras raspadinhas”, relembra ela, que em 1993 foi a sortuda de uma premiação que ficou na história da Capital das Gincanas. Ganhou dois carros, no mesmo dia, na mesma Raspadinha.

Alci lembra bem como foi aquele agosto. O estafeta da fumageira era quem ia até a lotérica comprar os bilhetes. Tinha a função de adquirir para uns quantos colegas. “Eu pedia, toda semana, pra ele comprar duas, três Raspadinhas pra mim”, conta. Certo dia, como de costume, o colega entregou os bilhetes e Alci logo foi raspar. Eram seis espaços. Ela raspou e viu Gol, Gol e Gol. Para ganhar um carro, precisava aparecer três vezes. E deu. Festejou um bocado. Foi abraçada e recebeu muitas felicitações. “Até tinha gente que queria encostar em mim para pegar a minha sorte”, sorri. 

Naquele momento, ela não sabia que o prêmio era ainda maior. Foi a cunhada, que tempo depois disse: “mas Alci, tu ganhou um Escort também”. Na euforia, a vera-cruzense havia raspado os outros três espaços e não reparou que apareceu três vezes a palavra Escort. Mais uma vez, pulos de alegria.

A Raspadinha era do Grêmio e o prêmio precisava ser resgatado em Porto Alegre. Os dois automóveis, de cor branca e zero quilômetro, foram buscados pelo esposo e pelo pai de Alci. Cada um veio dirigindo um. No caminho, Alci lembra bem que um dos carros era a álcool e o pai chegou em um posto de combustíveis e abasteceu com gasolina. “Veio falhando até em casa. Foi difícil chegar”, rememora. O automóvel Gol Alci vendeu e comprou na época uma chácara. O Escort foi seu companheiro de estrada por longo período. “A gente não acredita, às vezes, que vai ganhar. Eu não acreditava, mas claro que queria ganhar um dia. E veio”, conta ela, que guarda com carinho em casa a Raspadinha do Gol e do Escort, assim como os recortes de jornais da época (foto acima). 

A RASPADINHA
A Raspadinha custava, na época, CR$ 30.000 - ainda não era Real. Nos dias de hoje, o equivalente a R$ 10. Tinha do Internacional, do Grêmio e a Bônus da Saúde. Alci comprava a do Tricolor. Pelo menos outros três carros foram entregues em Vera Cruz no auge das Raspadinhas, por volta do ano de 1994. Em Santa Cruz do Sul também foram entregues automóveis. Era a sorte brindando o Vale do Rio Pardo.

 


Foto Lucas Batista/Jornal Arauto
Alci ganhou dois carros no mesmo dia e guarda os recortes do jornal da época
Alci ganhou dois carros no mesmo dia e guarda os recortes do jornal da época