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Na pandemia: como os tradicionalistas têm cultuado a tradição gaúcha


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 18/09/2020 06:05
Atualizado 18/09/2020 09:51

Geral   RAÍZES FORTES

Acada encerrar dos festejos farroupilhas, já se inicia a contagem regressiva para o próximo. Ainda que as tradições sejam cultuadas o ano inteiro, é na Semana Farroupilha que a história e a paixão pelo Estado ficam mais evidentes. Se voltar para setembro de 2019, ninguém imaginaria que o ano de 2020 transformaria os pampas. Em uma época atípica a tudo aquilo que se conhece, se fez necessário apostar na inovação, ou melhor, na renovação.

Foi o que aconteceu. O tradicionalismo gaúcho precisou se reinventar e foi na internet que os CTGs viram um leque de opções. O culto ao gauchismo no ambiente virtual dissemina a cultura para além das fronteiras estaduais. É só dar um clique que, esteja onde estiver, é possível acompanhar os conteúdos divulgados pelas entidades em suas páginas oficiais.

PAIXÃO ATRAVÉS DA ARTE

As escolas sempre tiveram um papel fundamental no culto às tradições. De dentro das salas de aula saíram verdadeiras obras de arte, desde encenações artísticas até pinturas dos mais variáveis estilos. É o encontro entre as artes e o tradicionalismo gaúcho. Embora muitos alunos estejam longe do ambiente escolar, é de casa que eles fortalecem as atividades alusivas aos festejos este ano.

Consagrado entre os estudantes, o concurso vera-cruzense de desenho e poesia não foi deixado de lado. Dentro da temática Gaúcho sem fronteiras, as crianças e os adolescentes, de todos os níveis de ensino, foram incentivados a explorar a criatividade através de ilustrações  e poemas.

A representante da secretaria de Educação de Vera Cruz e membro do Conselho Municipal de Tradições Gaúchas, Micheli Rech, salienta que a ação estimula e valoriza a história rio-grandense. “O júri avalia o capricho, a organização, a ortografia e a beleza dos materiais. Mas, acima de tudo, reconhece a colaboração dos educandos”, destaca.

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO

O tradicionalismo se perpetua na casa da vera-cruzense Linele Braga, de 30 anos. Ela e o esposo, Paulo Santos, têm como hábito conversar acompanhados do chimarrão. Para alegrar os filhos Agatha, de 7 anos, e Anthony, de 4 anos, a mãe teve uma ideia: pilchar as crianças para uma atividade escolar. “Na escola onde eu trabalho fomos motivados a elaborar um vídeo sobre a Semana Farroupilha, logo pensei em falar das indumentárias típicas para que pudesse vestir os meus filhos e amenizar um pouco a vontade deles em usar as vestimentas”, conta. Linele afirma que o legado é repassado para eles diariamente. “Sinto muito orgulho em ver eles se sentirem motivados a valorizar e cultivar a nossa tradição gaúcha”, diz a mãe, alegre.

NOVOS TEMPOS: TECNOLOGIA CONSERVA TRADICIONALISMO

Câmera direcionada. Cenário pronto. Que comecem as gravações. Parece bastidor de novela, mas não é. Essa tem sido a rotina dos tradicionalistas que, com um empurrão da tecnologia, estão gerando conteúdos para as redes sociais, como forma de manter vivos a paixão e os costumes em época dos festejos farroupilhas. Como resultado, qualquer pessoa pode cultuar as tradições gaúchas, agora virtuais, sem precisar sair de casa.

Em Vera Cruz, o CTG Candeeiro da Amizade é a prova de que, neste ano, foi preciso se reinventar para não deixar a chama e o amor pelo Estado se apagarem. Se comparado aos anos anteriores, esta semana também seria repleta de apresentações artísticas, danças e os tradicionais fandangos. Mas como tudo está mudado, a Semana Farroupilha se transformou.

Se antes as prendas e os peões rodeavam pelos salões aos olhares atentos de tantas pessoas, agora é a tela do celular que garante que as coreografias possam ser apreciadas, através das mídias sociais. No último sábado, dia 12 de setembro, a entidade deu início às gravações. Na ocasião, a primeira prenda juvenil, Natália Machado, de 15 anos, e o peão José Victor Menezes, também de 15, integrantes da invernada juvenil, apresentaram uma dança típica gauchesca. A responsável pela filmagem, a coordenadora artística Andréa Sehnem, salienta que o objetivo este ano foi, principalmente, explorar as redes sociais para manter e reforçar as festividades.

Nesta semana, foi realizada uma das principais celebrações: o Culto Crioulo, que evidencia a fé e a tradição. As gravações ocorreram na Paróquia Evangélica Martin Luther, em Vera Cruz. Para o pastor John Espig, a missa transmite a mensagem do amor divino, por meio do linguajar, das vestimentas, músicas e do ambiente que remonta aos pampas. “Com certeza deixa viva a mensagem do tradicionalismo gaúcho, mesmo em tempo de pandemia”, reforça.

TRADIÇÃO É CELEBRADA ATRAVÉS DA GASTRONOMIA GAUDÉRIA

Falar em festejos farroupilhas e pensar na culinária  rio-grandense é inevitável. Além do churrasco e do carreteiro, outras iguarias engrandecem as mesas das famílias. Como de costume, durante o mês farroupilha, a comida de galpão é idealizada e preparada pelas mãos daqueles que veem na culinária gauchesca um jeito de fortalecer a tradição e perpetuar os sabores típicos do sul.

Pensando nisso, uma equipe de tradicionalistas do CTG Candeeiro da Amizade, de Vera Cruz, organizou a noite do pastel campeiro. A novidade, segundo o patrão, Paulo Mans, foi a adaptação da receita de entrevero para o recheio do pastel, misturando as carnes de porco, gado e frango e dois tipos de linguiça. Mas além desses, tinham recheios para todos os gostos: de frango, carne e chocolate. Todos preparados com uma pitada de amor dos chefes voluntários.

 A ação foi tão aceita, que pessoas de Santa Cruz do Sul buscaram as delícias. É o caso do Lucas Freitas, de 36 anos, que saiu do trabalho e foi direto para a entidade retirar as encomendas. Freitas salienta que sempre participou ativamente das programações do CTG e neste ano não seria diferente, mesmo que atípico. “Pelo menos uma vez ao mês vinha a Vera Cruz para prestigiar as atividades da entidade. Apesar da proibição dos tradicionais jantares e bailes, vim apreciar a noite do pastel campeiro. Volto para casa com as sacolas cheias”, diz ele, que estava curioso para experimentar o pastel de entrevero.

Conforme Mans, cerca de 500 pastéis foram vendidos. Para ele, valeu a pena reunir a turma – em um dia chuvoso. “Estamos recebendo muitos elogios de quem experimentou e ficamos felizes em poder proporcionar um alento, através da culinária,  àqueles que reverenciam a nossa história”, frisa Mans.

 


Foto Caroline Moreira/Jornal Arauto
Culinária e tecnologia preservam o culto às tradições gaúchas
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Foto Caroline Moreira/Jornal Arauto
Linele e os filhos demonstram que o amor ao Rio Grande pode ser passado de geração para geração
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