Valdomiro Persch é filho de agricultores e foi nas terras de seu Pedro e dona Helga, em Linha Herval de Baixo, Vale do Sol, que “perdeu o umbigo”, como ele mesmo diz, no dia 25 de novembro de 1953. Em uma família de quatro filhos, com apenas 11 anos de vida ele ganhou seus primeiros 22 hectares do pai, em Herveiras. A vocação agrícola, à primeira vista, não foi o que fez a cabeça do jovem, ao sair da localidade para ir estudar em Candelária. Foi lá, na cidade do Botucaraí, que ele fez sua estreia nos microfones da rádio Princesa, não por vocação, mas por ser a oportunidade que surgira, primeiro como operador e depois como locutor de rádio.
Foi a partir desta experiência que Valdomiro trocou Candelária por Farroupilha, em 1975, onde também atuou em rádio, e que abriu portas para uma trajetória de sucesso no Paraná, em Marechal Cândido Rondon, quando desembarcou em 1978 com a missão de substituir o famoso Walter Basso, conhecido pela música Castelo de Sonhos, e que na época precisava viajar muito para os shows, se ausentando dos estúdios de rádio.
Pois quem diria que acabou roubando a cena. “Cheguei lá, o gaúcho petulante, com muita energia, vibrante. Estourou a audiência”, frisou Valdomiro.
Além do instinto empreendedor, Valdomiro quis prestar uma homenagem aos saudosos pais ao dar uma nova paisagem às terras em Herval de Baixo, que tinham no tabaco o sustento de várias famílias. Em 2010 foi a última safra, fechou 15 estufas. Tratou de reflorestar as terras e criou um projeto inovador para aquela região, para manter estrutura produtiva naquela área e agregar renda. Pelas suas viagens, ao contemplar plantações de diversas culturas, era impossível não imaginar alternativas para a sua terra natal. Valdomiro Persch tomou gosto pela fruticultura e, em suas andanças, tratava de descobrir tudo sobre produção, estrutura, venda, para fazer suas escolhas.
Uvas, ameixas, figos e pêssegos colorem a propriedade e atraem muitos visitantes, especialmente para o colha e pague na safra das videiras. O turismo pode ser alavancado, para além das fotos nos parreirais. Valdomiro, há anos, revelou o desejo de instalar uma agroindústria no local, para beneficiar sucos e geleias. Os equipamentos já estão comprados faz tempo, guardados debaixo das lonas, à espera de produção. Mas alguns entraves atrasam esta partida, como licenças, instalação de energia trifásica e boas estradas, com possibilidade de ingressar carretas para o carregamento na propriedade.
As dificuldades existem, mas o empresário parece ser movido a desafios. Com sua visão de agregar negócios, possui investimentos imobiliários, industriais, soja em terras arrendadas no Maranhão, mandioca no Paraná, sociedade em escritório de advocacia. Para dar conta de tudo, migra entre suas moradias no Paraná, em Santa Catarina e a propriedade em Vale do Sol, onde vem a cada mês, em média.
É nas Videiras do Vale - Alma Serrana, que Valdomiro cultiva seu hobby, sua paixão e seus sonhos. E enquanto estiver vivo, garante que aquelas terras, conquistadas com muito trabalho e suor pelo pai, que viveu até quase os 100 anos, não irá para as mãos de mais ninguém. É sua homenagem ao seu exemplo de vida e é sua herança para os filhos.
Valdomiro é um visionário com os pés no chão. Ainda que alimente projetos a curto e médio prazo, nada o impede de deixar a imaginação ganhar outras proporções para suas Videiras do Vale. E confessa: “penso num parque, um resort, agroindustrial, onde estaremos processando todos os produtos da vitivinicultura”, dispara o empreendedor. E vai além.
Em uma área de mais de 100 hectares disponíveis onde estão as videiras, pensa na implantação de uma cervejaria artesanal, uma agroindústria de azeite de oliva extravirgem, um alambique de cachaça premium, uma horta orgânica voltada para o colha e pague o ano inteiro, assim como a ampliação da fruticultura.
O resort, compartilha ele, poderia ter 100 leitos temáticos com os diferentes estilos de pipas de vinho. Os passeios ecológicos encontrariam cenários deslumbrantes, com lindas cascatas. Quatro cúpulas para a realização de celebrações poderiam ser erguidas em pontos distintos, sob o parreiral e próximo da cascata, por exemplo. Não faltariam restaurantes temáticos, SPA fitness e agroindústrias de embutidos, panifícios, doces, conservas. Afinal, o visitante gosta de levar para casa suas experiências saborosas. “Não tenho este dinheiro, mas sou visionário. O primeiro passo é sonhar”, sublinha, ao reconhecer que é preciso energia de qualidade, estradas, um bom projeto para captar investidores neste sonho milionário. Mas, antes de tudo, é preciso querer.
A reportagem completa está na edição impressa do jornal Arauto deste fim de semana.