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Santa Cruz do Sul registra um abuso sexual de crianças e adolescentes por mês


Fonte: Jornal Arauto
Publicado 28/08/2020 19:57
Atualizado 28/08/2020 19:57

Geral   CRIME

Recentemente, o caso de uma menina de 10 anos do Espírito Santo (ES) que engravidou após ser estuprada pelo tio, voltou a atenção do país para o crime de abuso sexual de crianças e adolescentes. E não é preciso ir muito longe para encontrar essa realidade. Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, de janeiro a 25 de agosto de 2020, oito crimes desta ordem foram confirmados pelo Conselho Tutelar. Em Vera Cruz são seis desde o início do ano e em Vale do Sol, dois. Os números, bem como o caso que repercutiu nacionalmente, chocam e indignam. Ao mesmo tempo, provocam uma discussão necessária sobre o assunto e que nem sempre acontece, conforme a psicóloga da Secretaria de Políticas Públicas e Assistência Social de Santa Cruz do Sul, Lucia Helena Marques D’Avila. 

Os abusos sexuais sofridos desde os seis anos pela menina do Espírito Santo só foram relatados a um familiar quando ela deu entrada em um hospital e se sentiu confortável em revelar à tia e aos médicos o que acontecia. Foi um longo período de silêncio motivado pelas ameças do tio, bem como pela insegurança em falar do assunto dentro de casa, lembra Lucia. “É preciso que haja a escuta na família e os próprios familiares trabalharem esse ambiente para que a criança se sinta confortável em falar de qualquer assunto. Não se deve antecipar assuntos que ela não questione ou que não sejam apropriados à sua idade, mas se ela perguntar é preciso responder em uma linguagem que entenda”, reforça, ao citar que ao se sentir respeitada e acolhida, a criança entende que ali há um vínculo seguro.  

Para a profissional, é importante que familiares e pessoas do convívio fiquem atentos às mudanças de comportamento. “Às vezes, a criança não sabe diferenciar um carinho de um abuso, ainda mais sendo cometido por um familiar, que deveria ser uma figura protetora”, explica ela, ao frisar da importância do acolhimento dos familiares quando o abuso é relatado. “A família precisa resgatar essa criança, retomar a confiança dela, pois um trauma como esse causa diversos impactos no convívio e nas relações. Além disso, precisa haver distanciamento entre ela e o abusador, pois se a criança não se sentir segura dentro de casa, não há equilíbrio emocional para lidar com tudo isso”, completa. 

Lucia recomenda, ainda, a ajuda profissional para lidar com o trauma, não só para a criança, mas também à família - que vai ajudar a lidar com a situação. “Com certeza um crime como esse fica para o resto da vida, mas a questão é como trabalhar esse trauma para que não interfira nas demais relações afetivas e até sexuais, posteriormente”, salienta. 

DENÚNCIAS NA PANDEMIA
Conforme a conselheira tutelar de Santa Cruz do Sul, Janete Franke, as denúncias de negligência, maus tratos, abandono de incapaz e abuso sexual a crianças e adolescentes aumentaram na pandemia – apesar da suspensão das atividades nas escolas, responsáveis pela maior parte dos encaminhamentos ao órgão. “O momento vivido é de muito estresse, pouca tolerância e paciência. Sendo assim, mais casos têm aparecido”, explica, ao mencionar que muitos se tratam de conflitos entre pais e filhos. Neste momento, Janete afirma que diversas denúncias chegam através de vizinhos e de conhecidos. A conselheira tutelar de Vale do Sol, Teresa Fátima da Rosa Konrath, reforça que é dever de todos os cidadãos denunciarem, sendo a identidade do denunciante preservada. No município, o contato pode ser feito pelo telefone (51) 3750-1259 e 99711-3018, em Vera Cruz pelo (51) 3718-3258 e em Santa Cruz, através do (51) 3713-3700, ou ainda pelo Disque 100.


Foto: Arquivo Jornal Arauto
Para não relatar o abuso, vítima é coagida e ameaçada
Para não relatar o abuso, vítima é coagida e ameaçada