Faça o teste, cidadão: mais tempo em casa durante a quarentena que parece interminável, que tipo de lixo tem gerado mais? Depende de tele-entrega de comida? De produtos industrializados? De compras feitas pela internet? São embalagens e mais embalagens de plástico e papelão, por exemplo, que chamam a atenção na sacola de lixo, não é mesmo? Sem contar nos frascos de produtos de limpeza e higiene, que parecem ter se multiplicado. Essa constatação - que pode ser feita facilmente por qualquer morador - também é do presidente da Associação Comunitária dos Trabalhadores do Lixo de Vera Cruz (Acotrali), Nelson Alves da Silva. Se antes da pandemia os catadores associados arrecadavam cerca de 70 toneladas de material reciclável ao mês, agora, esse volume dobrou. O que comprova a mudança de hábito das famílias e o consequente consumo maior em casa.
Mas o que poderia ser motivo de renda também dobrada para esses trabalhadores, não tem refletido na prática, com a operação mais lenta e repleta de restrições das empresas compradoras desses materiais. São pelo menos 100 toneladas armazenadas no depósito, com destaque para as embalagens de comida e limpeza, reitera Nelson. “Se antes, no lixo da casa havia um frasco de produto de limpeza por semana, agora são três”, calcula.
Por mais que tenha material para recolher, a Acotrali não tem conseguido efetivar a venda na mesma proporção. Com esta dificuldade, a renda caiu pela metade, ao invés de duplicar. “A gente não vence recolher todo material reciclável”, garante o dirigente. Tanto que ele percebe a demanda de pelo menos 15 trabalhadores a mais. No entanto, com a falta de perspectiva para receber com as vendas, muitos ficam desanimados. “Se vender, temos dinheiro. Se não vender, não temos”, resume a lógica, ainda que trabalho não falte.