A cozinha virou sala de aula. Na mesa tem folha de exercícios, estojo com lápis de cor, livros de histórias infantis e muita determinação. Aliás, para muitos a pandemia não tem sido desculpa para deixar de aprender. Pelo contrário. Isadora Ellen Kegler, de 6 anos, é exemplo de que é possível começar a ler mesmo distante da escola. Com ajuda dos pais e supervisão da professora, ela desvendou o mundo das letras. Se no início do ano conhecia apenas algumas do alfabeto, hoje dá show ao ler fluentemente – o que orgulha a família e a escola.
Docente há 18 anos, Marisa Sehnem diz que jamais imaginou ter de planejar aulas a distância, com envios de atividades para a casa dos alunos, ainda mais em turmas de 1º ano do Ensino Fundamental, momento em que ocorre a alfabetização. “Quando se fala em alfabetização, é preciso de atenção e acompanhamento”, frisa ela, que tem buscado instigar os estudantes em atividades mais lúdicas, envolvendo os pais, fundamentais nesse período.
Moradora do bairro Cipriano de Oliveira, em Vera Cruz, a família de Isadora tem se envolvido ativamente nos estudos. A mãe Tatiana conta que criou uma rotina diária. Junto com a filha, busca ensinar tudo o que consegue. O pai Airton, depois do trabalho e nos finais de semana, também se engaja no aprendizado. “Somos um pouco professores”, conta a mãe, que atua em uma escolinha de Santa Cruz do Sul e que na pandemia tem ido trabalhar apenas um dia na semana.
A presença dos pais em casa e disponíveis para auxiliar as crianças é uma preocupação constante de Marisa no momento de planejar as atividades. “No novo modelo normal de trabalho, ao propor as atividades, me coloco no lugar dos pais, que precisam conciliar trabalho, afazeres domésticos e ainda ajudar os filhos na realização das atividades escolares”, pontua ela, que embora longe fisicamente dos estudantes, está próxima através de grupos de WhatsApp, criados para orientar os pais, explicar atividades, tirar dúvidas e para postagens de fotos e vídeos das crianças resolvendo tarefas de leitura, escrita, operações matemáticas e atividades de artes e educação física.
É por meio da tecnologia também que a professora consegue avaliar o andamento dos estudos e, por vezes, se emocionar. Segundo ela, é gratificante ouvir uma criança ler, ainda mais em um ano tão atípico, marcado por tantas mudanças. “Quando as mães filmam as crianças lendo e mandam nos grupos, não tem como não se emocionar”, ressalta Marisa, ao comentar que o WhatsApp se tornou indispensável para matar a saudade que as crianças têm umas das outras. “É por ali que elas podem assistir as postagens dos colegas”, arremata.