A pandemia mudou rotinas, provocou novos hábitos e tornou tudo diferente. Muitas são as lições aprendidas, entre elas a importância de se estar perto, de abraçar, de sentir o cheiro de quem se ama. Nesse sentido, o momento também estreitou algumas relações, como a de avós e netos. Na ausência da creche ou da escola, muitos se tornaram professores. Não daqueles que ensinam a ler, calcular ou escrever, mas tal como quem cuida, mostra como se comportar, serve um lanche gostoso ou simplesmente convive todos os dias.
Iracema e Arcélio Correia Soares, que moram em Rincão da Serra, localidade de Vera Cruz, sabem bem disso. Por lá, a alegria, a correria e os gritos da criançada são comuns. “Conforme nossos filhos precisam, deixam eles aqui com a gente, ou sempre que os netos querem aparecem por aqui também. Adoro ter a companhia deles”, conta Cema, como é conhecida. “Se eles deixam de vir um dia sequer, a gente já sente falta”, completa Arcélio.
É na casa dos avós que eles se divertem. Brincam de esconder e correm pelo pátio grande e coberto pela grama verde. Sobem na árvore, se embalam no balanço ou se distraem dentro da casa de bonecas no quintal. “Eu adoro as florzinhas que têm no pátio”, lembra Alice, neta de quatro anos. Nessa folia toda, a avó zelosa afirma que gosta de ficar de olho em tudo o que fazem, principalmente para evitar brigas e artes. “Não gosto de repreender eles, mas se precisar a gente chama a atenção”, explica Cema, que frisa, ainda, que apesar de não ser professora gosta de ensinar os netos sobre valores. “A gente vai ensinando eles a se comportarem, a se respeitarem e a cuidarem uns dos outros. E, é claro, atende as regalias muitas vezes”, revela. E na hora do lanche, a avó salienta que não pode faltar o pão com melado, opção preferida dos netos. “Tem que ter sempre um salgadinho e uma bolachinha por aqui também, eles adoram”, reforça.
AVÓ DE MUITOS
No Rincão da Serra, Iracema é conhecida por muitos como vó Cema e não só pelos netos de sangue. Isso porque já cuidou de diversas crianças por ali sempre que um vizinho ou um conhecido precisou. “É por isso que eu tenho saúde, poder cuidar dos outros é o melhor que a gente pode fazer”, justifica. Entre os motivos pelo qual Cema já foi avó de tantos pequenos é porque sabe como ninguém atender aos anseios e acalmar o choro das crianças - geralmente ocasionado por uma cólica ou desconforto. São conhecimentos que aprendeu ao longo dos anos de benzedeira, como por exemplo, o preparo de chás que aliviam dores de cabeça e de barriga. “Bom mesmo pra essas coisas é o de poejo com folha de bergamoteira”, frisa ela. E os netos aprovam. “Os chás da vó são especiais”, reforça Luiza, de 12 anos.
No total, são 10 netos e seis filhos, a maioria morando “embaixo das asas” de Cema e Arcélio. “É uma maravilha ter eles por perto, porque cuidam com tanto carinho dos nossos filhos e as crianças adoram estar com eles”, salienta a filha Isabel. Se para os filhos e netos estar perto dos dois é como uma dádiva, para os avós a companhia é alento e sinal de amor. “Se tivéssemos que ficar desde março sem ver eles [os netos] a gente não ia aguentar, seria muito pior. Ficamos tristes quando eles não vêm”, diz Arcélio. “Com a pandemia, não vamos a nenhum lugar, por isso a companhia deles é muito importante. Distrai e traz alegria aqui pra casa”, completa Cema.
A data que homenageia os avós será comemorada neste domingo, 26 de julho. Mas para Cema e Arcélio, é celebrada todos os dias, pois o melhor presente que poderiam querer eles já têm: a companhia diária dos netinhos.