Os cabelos ficam brancos, a pele dá sinais de que o tempo passou e o corpo já não responde da mesma forma de quando se era jovem. Chegar aos 60, 70, 80, 90 ou aos 100 anos pode significar a convivência com novas limitações e problemas de saúde. No entanto, há quem ignore essas rotulações e prefira viver essa fase da vida com muita disposição, como é o caso de João Marcos e a esposa Rosália Maria Wagner, de 91 e 87 anos, e Clara Amanda Goelzer, de 93 anos. Todos estão acima da expectativa de vida da região, que é de 76 anos, conforme estudo divulgado na última semana pelo Governo do Estado.
Para João e Rosália, o isolamento social tem sido desafiador, principalmente porque adoram passear, ter a casa cheia e ir à missa. Mesmo assim, o casal não abre mão de ocupar a mente e manter suas atividades favoritas: o crochê e o feitio de mandalas.
É enrolando as lãs coloridas em volta de palitos de churrasco que João dá forma às mandalas. O passatempo exige paciência e habilidade, o que ele tem de sobra. Pelas suas contas já foram mais de mil delas produzidas, desde que aprendeu o feitio há dois anos. Todas as manhãs, ele acorda, toma o café com a esposa, assiste a missa e depois senta na poltrona para fazer as mandalas. “São só duas por dia, uma de manhã e uma a tarde”, alerta Rosália, que brinca que a maior despesa em casa é com lãs. O gosto pelos itens é tamanho que nem mesmo os problemas de saúde o afastaram do hobby. Em junho do ano passado, João sofreu um desmaio e ficou com a saúde debilitada, por conta de uma isquemia. Mesmo após o incidente, retomou os trabalhos assim que se recuperou.
Tal como o marido, Rosália adora se sentir ativa. Sempre que tem um tempo entre os afazeres domésticos, pega a agulha e a linha e faz trilhos de mesa, capas para o sofá, roupinhas e meias para nenéns e bordas de renda em toalhas e guardanapos. Para o casal, mais que atividades para se distrair, as mandalas e os itens de crochê e tricô são formas de presentear os amigos, vizinhos e familiares. É impossível ir até a casa deles, no bairro Araçá, em Vera Cruz, sem sair de lá com uma ou mais mandalas - já que João faz questão que elas sejam distribuídas. Além disso, sempre que o nascimento de um neném é esperado na família, Rosália presenteia o novo membro com as roupinhas e itens que confecciona.
CONCENTRAÇÃO
Enquanto Rosália é mais falante, seu João não é de falar muito, prefere ficar atento à produção das mandalas. É nesse momento que ele encontra fonte de abrigo e prazer, de modo que se encaixa perfeitamente ao significado desses objetos: o de harmonia, integração e paz interior.
EM MEIO À NATUREZA
Conectar-se à natureza e trabalhar na terra estão entre as atividades preferidas de Clara. Para ela, que já comemorou mais de nove décadas de vida, a jardinagem é sinônimo de felicidade, cuidado e carinho. No quintal de sua propriedade, em Linha Sete de Setembro, em Santa Cruz do Sul, planta de tudo. Entre os cultivos prediletos está o das flores, as quais exibe com orgulho. Tem gérberas, orquídeas, rosas, bem como de maio, de sapatinho, entre outras. “Dizem que tenho muitas flores, mas ainda não tenho todos os tipos, por isso quero cultivar mais”, explica ao contar que o lugar que mais gosta de ir é à floricultura.
O pátio da casa também dá espaço ao verde das verduras, hortaliças e das frutas, todas cultivadas por ela. “Não tenho preguiça para nada, porque aqui me sinto eu mesma, sou feliz, gosto de estar no meio da natureza”, conta, entre uma gargalhada e outra. Com variedade de sobra na horta, Clara adora preparar saladas, doces e compotas. “Faço tanta coisa e muitas vezes sozinha”, frisa ela, que diz preferir comer tudo fresquinho do que comprar no supermercado.
Clara, assim como João e Rosália, são exemplos de que é possível se manter ativo na terceira idade. Apesar dos problemas e limitações adquiridos com o tempo, eles têm alma de jovens, são ansiosos por um novo aprendizado e se entregam como ninguém ao que fazem.