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Dos palcos para a calçada


Publicado 23/05/2020 18:00
Atualizado 23/05/2020 18:04

Geral   SANTA CRUZ

Se antes o palco fazia seu coração pulsar, agora é a calçada em frente à sua residência que lhe indica o momento do show. Embora não haja uma plateia aglomerada em sua frente e nem casais dançando ao som de suas músicas românticas, João Hermes toca com o mesmo amor anterior à pandemia. Na porta de sua casa, com o olhar ao movimento da Rua 28 de Setembro em direção à BR-471, o idoso de 69 anos anima os comerciantes, vizinhos e pedestres que circulam pelo local.

Músico profissional – “com carteirinha e tudo”, se orgulha – ele aproveita o dom que Deus lhe deu para animar as pessoas em tempos de coronavírus. Com o safoxone, ou com a gaitinha de boca que não abandona desde quando ganhou a primeira dos pais no natal dos anos 60, ele escolhe os fins de tarde para iniciar o espetáculo. Na semana passada, quando seu coração sorriu por saber que aparecia no jornal, o show foi no meio da tarde e, mesmo assim, rendeu aplausos e gritos da vizinhança. “Essa é a maior alegria que tenho”, faz questão de dizer.

Afinal, quem é apaixonado pela música, nunca deixa de cantar. Por isso, quando um vírus o impediu de animar festas particulares ou de tocar em um salão de festas, soube que continuaria – de alguma forma – a distribuir seu som. Uniu então o útil ao agradável. Enquanto leva felicidade para tantos apreensivos pela situação atual do mundo, ele também fica mais alegre e acompanhado. Seu João, que mora sozinho, sempre viu na música sua querida companheira.

Sua paixão iniciou cedo. Natural de Rio Pardo – hoje Potreiro Grande, interior de Passo do Sobrado -, ele cresceu em uma família de músicos. Por muito tempo, foi parte do quarteto Irmãos Hermes, ao lado de Laurindo, Sérgio e Ivo. Mais tarde, já morador de Santa Cruz do Sul, com o fim da carreira musical dos irmãos, continuou sozinho e fez parte de diversas bandas. Foi lixador, montador, autônomo, dono de bar. Mas nunca deixou de ser músico. Tem filhos, netos, lembranças e muitas músicas em sua mente. A mais nova, que pretende gravar quando tudo passar, ainda é segredo, mas é linda e fala sobre o sol.

O filho de Emílio Hermes e Sibila Meurer, apaixonado pela vida e pelas pessoas, acredita num futuro próximo melhor. Assim como expressa em sua nova música, ele crê em semanas melhores, um planeta renovado e muitas, mas muitas festas por aí. Afinal, quando o vírus for combatido, ele voltará para seus palcos, mas sem esquecer do seu público da redondeza e do quanto foi importante cada minuto na calçada, com o saxofone, tocando enquanto deixa o tempo passar. 


Fotos: Luiza Adorna/Portal Arauto
Dos palcos para a calçada


Dos palcos para a calçada


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Dos palcos para a calçada