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Da horta à feira


Publicado 18/11/2019 06:00
Atualizado 18/11/2019 06:51

Esportes   SANTA CRUZ

Quando o dia amanhece na cidade, verduras, frutas e legumes já estão delicadamente organizados nas feiras rurais. O verde, o vermelho, o amarelo e tantas outras tonalidades colorem as bancas espalhadas pelos bairros de Santa Cruz do Sul. É preciso apenas alguns minutos para escolher o desejado e levar para casa. Um período pequeno que encerra um ciclo longo, de muito esforço e dedicação.

Da horta até a feira, muito planejamento, carinho, suor e agilidade. Na família Nichterwitz, que respira produção rural há 48 anos, o dia começa cedo e termina tarde. Nos domingos, terças e sextas – dias que antecedem os momentos de feira – ainda mais trabalho e pouco descanso. Todas as gerações da família, desde o seu Edmundo com 73 anos, até a pequena Nicoly, de quatro anos, caminham juntas em direção à roça.

A história da família, que mora em Linha João Alves, começa nos anos 70, com a troca do plantio de tabaco, pelo cultivo de verduras. O casal Eliete Walmi e Edmundo Nichterwitz iniciou as lavouras em seus hectares de terra e eles passaram o gosto pelo trabalho aos filhos Carlos, Paulo e Daniel. Todos eles, ao lado das esposas Claudete, Ivani e Fernanda, seguem firmes na profissão e ainda contagiaram os netos de Edmundo e Eliete com a missão de produzir alimento. Uma dessas pessoas apaixonadas pelo universo das feiras rurais é Patrícia, de 21 anos.

Desde pequena, a filha de Carlos fazia questão de acompanhar tudo de perto. “Ô vô, posso ir junto na feira? Me coloca em cima da banca. Também quero vender”, dizia. A menina então cresceu, estudou e fez a escolha que mais orgulha a avó: ficou ao lado deles, no campo. E é no meio da lavoura que a jovem se sente em casa. O barulho dos pássaros, dos macacos e a visão privilegiada que a família tem na propriedade lhe deixa feliz todos os dias.

Assim como a avó Eliete gosta de colher as verduras mais bonitas da horta e o tio Daniel prefere preparar a terra, Patrícia gosta de capinar. Tirar as partes ruins e as ervas daninhas, para deixar todos os canteiros respirando o ar necessário para o desenvolvimento. Junto dos avós, pais, tios e sobrinha, ela cuida das alfaces, rúculas, repolhos, milho, aipim, batata doce, bananas, rabanetes e até mesmo flores. Verduras, frutas e legumes cuidadosamente colhidos, limpos, transportados e oferecidos ao público.

Por trás da beleza, as dificuldades

Quem vê tudo pronto, organizado e limpo nas manhãs de feira, dificilmente imagina as dificuldades enfrentadas por quem levanta bem mais cedo e prepara tudo. Dependentes do clima e das variações da natureza, os produtores muitas vezes perdem os produtos. O vento, o sol, a chuva, as formigas. São vários obstáculos que precisam ser vencidos, sempre com a missão de levar ao consumidor as verduras mais saudáveis.

Além das questões naturais, há ainda o preconceito e a falta de valorização das pessoas. Embora sejam poucos casos, existe quem não entenda quando o produto não está perfeito ou a falta dele por algum motivo inevitável. “Faz tua mágica”, ouviu a família certa vez. Porém, motivados por aqueles que agradecem o empenho, seguem firmes, orgulhosos pelo trabalho que origina comida e coloca na mesa itens naturais e bem cuidados. Afinal, a frase “como está bonito!” sempre ecoa mais alto e os leva novamente à roça.